Nestas alturas do ano é costume em Portugal todos
desejarem uns aos outros um feliz ano novo. Ou seja, que no próximo
ano os felizes continuem felizes e os infelizes passem a ser felizes.
Este desejo generalizado é tanto mais cínico quanto todos sabemos que
não é por o desejarmos que as pessoas (e nós próprios) passaremos a
gozar de mais felicidade no novo ano que está chegando. As condições
para a felicidade (nossa e dos outros) não dependem dos nossos desejos
mas dos nossos actos. Se em vez de cínica e apressadamente desejarmos
felicidades uns aos outros fizessemos propósitos ou promessas genuinas
de proporcionarmos felicidade aos outros mais do que fizemos este ano
que termina, então sim ficariamos vinculados a um esforço a favor dos
demais e proporcionariamos verdadeiramente felicidade aos outros.
Deixar esta intenção ao sabor do acaso ou do destino limitando-nos a
desejar que o acaso ou o destino proporcionem felicidade aos outros
sem que nós mexamos uma palha para isso, não é desejo verdadeiro nem
querido (de facto estamo-nos nas tintas para a felicidade dos outros)
mais parecendo desculpa para nós próprios da inveja que sentimos
quando somos confrontados com a felicidade dos outros.
Na situação aflita em que alguns de nós se
encontram seria mais útil ao país e a todos nós, que não só
desejassemos felicidades uns aos outros mas que nos dispusessemos cada
um relativamente aos outros a contribuir para a felicidade dos demais,
ajudando os mais carenciados, colaborando em tarefas sociais,
compartindo com os outros o que considerarmos ter a mais, procurando
compreender melhor os outros, fazendo o bem e esquecendo as afrontas,
numa palavra não fazendo aos outros o que não desejamos que nos façam
e fazendo-lhes o que gostariamos que os outros nos fizessem.
Não tendo outro remédio do que cumprir e fazer
cumprir as determinações que os nossos credores nos impuseram para
continuarem a ajudar-nos, o governo portugues precisa mais de apoio do
que de desejos de felicidades para o ano que vem. Saibamos ser
patriotas, pois ajudando o nosso governo estaremos a ajudar-nos uns
aos outros. Não é reclamando privilégios injustificados ou tentando
enganar os poderes publicos julgando que somos mais espertos do que os
outros (não nos esqueçamos que há sempre alguem mais esperto do que
nós) que traremos mais felicidade aos demais. Façamos mais uns pelos
outros e não nos limitemos apenas a desejar-lhes felicidades. Isso não
custa nada.
Feliz Ano Novo.
ALBINO ZEFERINO 29/12/2011
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