terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A GRANDE GUERRA

Portugal está em guerra. Em guerra não contra um 
inimigo visivel, definido, que nos atira balas e bombas, mas contra 
uma crise que nos avassala o espírito e nos consome o corpo. À 
excepção de uns quantos sortudos a quem saiu a lotaria, a maioria de 
nós está enfrentando com dor e mágoa as penosíssimas consequencias de 
décadas de dilates e inconsciencias que amalandrados governantes nos 
impuseram do alto das suas irresponsáveis convicções. Eu diria que 
estamos sujeitos à mesma indefinição sobre o futuro que aquela em que 
se encontrou a geração de 1940. E igualmente sujeitos aos mesmos 
sacrificios. Só que não temos um inimigo concreto sobre quem possamos 
despejar as nossas mágoas e as nossas frustrações. O nosso combate não 
se faz com balas e baionetas mas com denodo e inteligencia. O nosso 
desafio não é vencer o inimigo aniquilando-o, mas superá-lo com 
paciencia e sensatez. Eu sei que é necessária uma grande dose de 
civismo e de entrega para resistir tranquilo às sucessivas agressões 
aos nossos hábitos e costumes recentes. Mas o que distingue o cidadão 
consciente da sua cidadania do energumeno que apenas pensa em si, é 
precisamente a forma como cada um reage às privações que esta guerra 
impõe às pessoas que aqui nasceram e aqui ficaram. 
Não é promovendo greves sucessivas nos sectores 
profissionais por si controlados, escondidos detrás duma Constituição 
caduca e desajustada da realidade, que os partidos da esquerda (alguns 
socialistas incluidos) conseguem vencer esta guerra feroz. O resultado 
é precisamente o inverso do que eles pretendem. Agravando 
escusadamente as condições de vida já penosas da generalidade da 
população, comunistas e sindicalistas agitam os espiritos da 
população, empurrando os mais aguerridos (jovens e imigrantes) para 
acções condenáveis como as que se vêm na Grécia, que contrariam o 
dificil caminho trilhado pelo governo no cumprimento do plano da 
troika, unica forma de sair desta embrulhada. Falar com a troika, 
aconselhar o governo, usar dos seus poderes constitucionais para 
ajudar o país e o povo portugues na sua luta de morte contra a crise, 
esse é o papel que os cidadãos sensatos esperam das oposições. Tudo o 
que for agitar as águas, confundir os espiritos, ignorar a guerra, 
fingir que não estamos intervencionados, invocar saloiamente a nossa 
soberania cada vez mais limitada, inventar conflitos institucionais 
apenas para conseguir mais "shares", é crime de lesa-pátria que deverá 
ser energicamente denunciado e repudiado. Façam-se greves contra as 
greves, despeçam-se jornalistas traidores, calem-se os arautos da 
desgraça e os velhos do Restelo que pululam nas televisões dizendo 
disparates que as pessoas mais simples tomam como verdades absolutas. 
Olhe-se para a Grécia e faça-se o contrário. Só assim poderemos dizer 
que somos diferentes deles. De contrário seremos considerados como 
eles e ser-nos-á aplicada a mesma receita. 
O grande Churchil (ídolo da maioria da nossa 
classe politica que bacocamente o quer copiar) dizia em 1939 a 
propósito da impreparação aliada para enfrentar os guerreiros 
teutónicos que: "Se o presente tentar julgar o passado, perderá o 
futuro". E justificando perante a Camara dos Comuns em 13 de maio de 
1940 (já a guerra começara há 8 meses) o voto de confiança do novo 
governo de coligação que chefiava, dizia para a Oposição: "Vocês 
perguntam: Qual é a vossa política? Responderei: Travar uma guerra no 
mar, na terra e no ar, usando todo o nosso poderio e toda a força que 
Deus nos queira dar. Fazer guerra contra uma tirania monstruosa que já 
tem um longo catálogo de tremendos e lamentáveis crimes contra a 
Humanidade. Essa é a nossa política. Podem perguntar: Qual é o nosso 
objectivo? Responderei com uma palavra: Vitória. Vitória a todo o 
custo, vitória apesar de todo o terror; vitória por mais longo e árduo 
que seja o caminho, porque sem essa vitória, não sobreviviremos. Que 
todos fiquem a saber: não haverá possibilidade de sobrevivencia do 
império britanico, nem de tudo aquilo que representa, nem dos eternos 
anseios e desejos da Humanidade de atingir o seu objectivo final. Mas 
aceito a tarefa com ânimo e esperança. Estou certo de que a nossa 
causa está predestinada a vencer entre os homens. E desta vez sinto-me 
no direito de pedir a ajuda de todos, pelo que grito: "Venham. 
Marchemos juntos com todas as nossas forças unidas." 
A Câmara votou unanimemente a favor desta programa simples. Assim ia a 
democracia na Grã-Bretanha em 1940. 


ALBINO ZEFERINO em 21/2/2012 

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