terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A AUSTERIDADE

Fala-se muito em austeridade como se esta palavra 
fosse uma palavra vã, oca, muito própria do linguarejar abrasileirado 
que os portugas hoje adoptaram na fala. Interjeição sem sentido, 
expressão intercalar numa frase dificil de exprimir, tentativa de 
intelectualização duma ideia mal compreendida, o termo é utilizado a 
torto e a direito, quer no discurso directo, quer na comunicação 
social, como se já tivesse sido automaticamente interiorizado na 
linguagem popular portuguesa. 
A expressão austeridade traz consigo porém uma 
carga pesadissima de sacrificios e de abdicações da qual a 
generalidade do povinho parece ainda não se ter apercebido. Associados 
à austeridade aparecem os conceitos de rigor, disciplina, severidade, 
contenção, sobriedade e outros que sugerem privações e submissões 
próprias de povos subjugados ou vencidos. E embora custe aceitar, é 
essa a situação em que Portugal se encontra: subjugado a uma 
indispensável ajuda externa com condições e vencido na sua caminhada 
em direcção à Europa da civilização. Olhe-se para a Grécia e 
constate-se o que acontece a um país que, igualmente vencido e 
subjugado, não aceita a austeridade. Os portugueses, chicos-espertos, 
convenceram-se porém que não terão o destino dos gregos mesmo não 
aceitando como eles fazem a austeridade que lhes é imposta. Bastará 
para isso fingir que a aceitam sem arcar contudo com as suas 
consequencias. Como se os outros fossem estupidos. Sob a aparência de 
bons alunos da escola alemã, os portugas vão deixando correr os 
trimestres sempre na esperança de que algo milagroso surja que os 
livre dos sacrificios resultantes da necessária austeridade. Só ainda 
não perceberam que quanto mais tarde assumirem a sua situação 
desesperada, maior será a austeridade a que terão que se submeter para 
sair dessa situação. 
Ou pensarão os portugas que de Badajoz para cá os 
europeus não estão atentos ao dinheiro que para cá enviaram ao engano? 
Desenganem-se. Há-de ser todo pago. Mais tarde ou mais cedo. De 
maneira mais suave ou mais à bruta. Só dependerá de nós. A tão 
propalada democracia de abril será tanto ou mais preservada quanto os 
portugas saibam inteligentemente gerir as relações perigosas com a 
troika. Regulamentação das greves e feriados, duração e flexibilidade 
do trabalho, ajustamentos na estrutura do Estado, liberalização da 
economia, redefinição das regras do mercado, privatizações, etc. tudo 
terá que ser feito sem hesitações ou truques, na calma e com juizo, 
senão deitaremos tudo a perder. Mas sempre com austeridade não nos 
olvidemos. 

ALBINO ZEFERINO 27/2/2012 

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