Fala-se muito em austeridade como se esta palavra
fosse uma palavra vã, oca, muito própria do linguarejar abrasileirado
que os portugas hoje adoptaram na fala. Interjeição sem sentido,
expressão intercalar numa frase dificil de exprimir, tentativa de
intelectualização duma ideia mal compreendida, o termo é utilizado a
torto e a direito, quer no discurso directo, quer na comunicação
social, como se já tivesse sido automaticamente interiorizado na
linguagem popular portuguesa.
A expressão austeridade traz consigo porém uma
carga pesadissima de sacrificios e de abdicações da qual a
generalidade do povinho parece ainda não se ter apercebido. Associados
à austeridade aparecem os conceitos de rigor, disciplina, severidade,
contenção, sobriedade e outros que sugerem privações e submissões
próprias de povos subjugados ou vencidos. E embora custe aceitar, é
essa a situação em que Portugal se encontra: subjugado a uma
indispensável ajuda externa com condições e vencido na sua caminhada
em direcção à Europa da civilização. Olhe-se para a Grécia e
constate-se o que acontece a um país que, igualmente vencido e
subjugado, não aceita a austeridade. Os portugueses, chicos-espertos,
convenceram-se porém que não terão o destino dos gregos mesmo não
aceitando como eles fazem a austeridade que lhes é imposta. Bastará
para isso fingir que a aceitam sem arcar contudo com as suas
consequencias. Como se os outros fossem estupidos. Sob a aparência de
bons alunos da escola alemã, os portugas vão deixando correr os
trimestres sempre na esperança de que algo milagroso surja que os
livre dos sacrificios resultantes da necessária austeridade. Só ainda
não perceberam que quanto mais tarde assumirem a sua situação
desesperada, maior será a austeridade a que terão que se submeter para
sair dessa situação.
Ou pensarão os portugas que de Badajoz para cá os
europeus não estão atentos ao dinheiro que para cá enviaram ao engano?
Desenganem-se. Há-de ser todo pago. Mais tarde ou mais cedo. De
maneira mais suave ou mais à bruta. Só dependerá de nós. A tão
propalada democracia de abril será tanto ou mais preservada quanto os
portugas saibam inteligentemente gerir as relações perigosas com a
troika. Regulamentação das greves e feriados, duração e flexibilidade
do trabalho, ajustamentos na estrutura do Estado, liberalização da
economia, redefinição das regras do mercado, privatizações, etc. tudo
terá que ser feito sem hesitações ou truques, na calma e com juizo,
senão deitaremos tudo a perder. Mas sempre com austeridade não nos
olvidemos.
ALBINO ZEFERINO 27/2/2012
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