MIJAR FORA DO PENICO
Esta vernácula expressão muito usada na linguagem
popular portuguesa significa, como todos sabem, fazer ou dizer coisas
desenquadradas do contexto geral, ou melhor dizendo, "politicamente
incorrectas". Vem este comentário a propósito da guerrinha de alecrim
e manjerona que se instalou na comunicação social portuguesa opondo as
teses liberais de Passos Coelho à social-democracia de Cavaco Silva.
Que cada um defenda uma maior ou menor intervenção do Estado na vida
dos cidadãos está tudo bem. O que não está bem é inventar-se um
conflito inexistente entre orgãos de soberania num momento de crise
como este que Portugal atravessa, como se a comunicação social, qual
mula desnorteada de freio nos dentes e de olhos esbugalhados,
estivesse a puxar a carroça portuguesa por pradarias desconhecidas
cheias de buracos.
Para quem ainda não tiver percebido o estreito
caminho que nos foi traçado para que nos salvemos da bancarrota
definitiva para onde Soares, Cavaco, Barroso, Guterres, Sócrates e
quejandos nos empurraram, direi, como Gaspar, que enquanto não
pusermos as contas em dia (com mais ou menos tempo ou mais ou menos
emprestimos) não pensemos em levantar cabeça, ou seja, em reequilibrar
as nossas vidas. Quanto mais polémicas estéreis ou reacções inuteis
forem criadas ao cumprimento do plano da troika, mais tempo irá essa
recuperação tardar e mais dificil e problemática ela se revelará. A
acção perniciosa da comunicação social e dos sindicatos deverá assim
ser energicamente controlada, nem que seja impondo regras precisas aos
seus movimentos e às suas iniciativas. É tempo de acabar com o
endeusamento bacoco das velhas ideologias de antanho e agir
pragmaticamente se quisermos efectivamente sair deste buraco. Em
tempos de guerra não se limpam armas como o povo diz e chegou o
momento em que o governo (se quiser fazer o que se dispôs a fazer)
deverá sem mais tergiversaçõres ou cedências avançar no caminho das
reformas mais duras. Há que cortar na despesa e a despesa está no
excesso de Estado na economia nacional, no excesso de empregados por
conta do Estado, no excesso de instituições ao serviço (?) do Estado,
nos subsidios excessivos da responsabilidade do Estado, na ineficiente
gestão dos serviços do Estado (nacionais e autárquicos), numa palavra
no excessivo gasto de dinheiro por parte do Estado.
Outro ponto essencial que este governo tem
descurado e que o pode perder é a sua forma de governar. Não basta
escolher o conteudo da governação e não sair da linha escolhida (quer
por desanimo, quer por pressões - dos jornais, do Presidente, do
Parlamento, dos interesses instalados sejam eles médicos,
farmaceuticos, maçónicos, mafiosos, sindicais, de patos-bravos, de
banqueiros, de amigos, de clubes de futebol, de juizes, de
magistrados, de antigos compromissos, etc. etc.). É preciso alterar a
forma de governar. Grandes gabinetes, muitos motoristas e muitos
carros de serviço, muitos adjuntos e muitas secretárias são
perniciosos para o serviço e mau exemplo para quem os vê. O Álvaro
poderá ser um bom conselheiro nesta área. Tambem o excessivo
formalismo no relacionamento entre os orgãos de soberania é mau. Faz
perder tempo, dilui responsabilidades e faz crer aos mais inuteis que
a sua intervenção é indispensável. Aprovações colectivas de diplomas
governativos, submissão de nomeações e detalhes regulamentares ao
presidente, interferencia excessiva do parlamento (deve limitar-se à
aprovação de orientações gerais e à fiscalização de actos lesivos ao
cumprimento do programa do governo e não a discussões estéreis nas
comissões parlamentares).
Enfim, o governo deverá afastar-se dos anteriores
no que toca não só á consistencia da sua governação como à forma como
governa. O povo sacrificado dificilmente tolera sentado, injustiças
flagrantes, dois pesos e duas medidas, exploração de uns em beneficio
de outros e sobretudo sentir-se enganado. Concentremos o nosso amor à
democracia mais na explicação dos fins e dos meios e menos nas
negociações e nos formalismos burocráticos.
ALBINO ZEFERINO 5/2/2012
Bom trabalho Albino. É com links como este que as pessoas que o lêem se vão esclarecendo sobre os verdeiros problemas que afligem a nossa sociedade. Continue que vai por bom caminho.
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