Decorrido um ano desde que Portugal tem novo governo e vida nova, é altura para fazer um balanço da acção destes novos sacrificados à causa pública e aos seus intervencionados compatriotas. Para o efeito, parece oportuno começar por cotejar a acção de cada um dos inteligentes líderes com as tarefas que lhes couberam na extenuante tarefa da governação, à luz do que nestes tempos é o mais importante: o famoso plano de recuperação economico-financeiro, que nos tem permitido sobreviver nesta persistente borrasca que insiste em não nos abandonar. Vejamos então um por um dos espécimens:
VÍTOR GASPAR, ministro das Finanças, não tem poupado esforços na busca de encontrar forma de reduzir as despesas do Estado de forma a adaptá-las às receitas. Os resultados do seu trabalho não têm sido porém brilhantes, pois de buraco financeiro em buraco financeiro vamos descobrindo que afinal as despesas publicas não são assim tão facilmente descartáveis. A solução tem sido aumentar as receitas, o que fatalmente conduz a uma espiral recessiva da economia nacional e a um empobrecimento generalizado das gentes deste pobre país. A função publica não se reestrutura, o Estado não encolhe, os bancos continuam incontroláveis e a despesa publica não cede.
PAULO PORTAS, ministro dos Negócios Estrangeiros, tem feito pouco. Diria mesmo muito pouco. Numa pasta irrelevante para a tarefa da recuperação nacional (a derrota sofrida pelo ministro na tentativa de superintender na área das exportações retirou qualquer relevância à pasta) restava ao dinâmico político tentar aquilo que nenhum dos seus antecessores logrou conseguir: domesticar a irrequieta carreira diplomática e esmagar, qual lusa dama de ferro, a influencia comunista do sindicato do pessoal assalariado das embaixadas e dos consulados. Para isso bastaria despolitizar a carreira devolvendo-lhe a dignidade profissional e deixar cair a importancia que os seus demagogos antecessores deixaram que o sindicato conquistasse. Preferiu Portas dar-se a conhecer lá fora, olhando para o futuro incerto que tem pela frente.
MIGUEL RELVAS, ministro adjunto do primeiro deles (que será o último desta análise) cheio de tarefas e de importancia que não tem conseguido justificar. Maçonaria, negócios escuros e incompetência têm travado as ambições deste político deslumbrado que se deixou enredar em trapalhices das quais dificilmente vai conseguir descolar, comprometendo o seu amigo Passos e até o futuro do próprio governo. Daquilo que se esperava dele, nada fez: privatização da RTP, reforma das autarquias, reforma eleitoral e constitucional, são assuntos de tal forma sérios e importantes que só por si constituem um programa de governo. Foi, como disse Marcelo, um erro de casting.
ÁLVARO SANTOS PEREIRA, ministro da Economia, é um emigrante estrangeirado e tenta afanosamente justificar o lugar para o qual foi desafiado, embora a sua falta de jeito para a política seja evidente. As tarefas excessivas que o seu super-ministério envolve têm engolido os esforços honestos que o intrépido ministro tem desenvolvido. Algumas vitórias porém (concertação social, liberalização das leis do trabalho e pouco mais) não chegam para compensar os desaires governativos nas tentativas de desmantelamento das PPP e na luta inglória que o ministro tem travado contra os lobies corporativos instalados. A sua permanencia no governo poderá estar a prazo.
PAULA TEIXEIRA DA CRUZ, ministra da Justiça, é uma jurista medíocre e foi catapultada para as altas esferas do partido para preencher a quota feminina pela influencia do marido com quem estava casada na altura. Era previsivel a sua incapacidade para lidar com uma área tão sensivel da politica governativa. Perante a enormidade das tarefas reformadoras que a esperavam e a força desmesurada dos lobies que teve que enfrentar, ainda não conseguiu sequer definir o melhor caminho para iniciar as reformas estruturais que a justiça requer em Portugal.
ASSUNÇÃO CRISTAS, ministra da Agricultura, Ambiente e outras coisas mais, apareceu do nada aureolada como uma nova messias descida dos céus centristas para salvar o partido e o país. Afinal é mais uma deslumbrada, preguiçosa e burocrata, que de concreto ainda nada fez. Anunciou uma reforma definitiva da anquilosada lei das rendas e, até hoje, nada;
prometeu animar a decadente agricultura portuguesa, renegociando ajudas comunitárias e tornando o país menos dependente dos outros e menos gastador e, até hoje, nada. Sem apoio da CAP e dos sindicatos comunistas do sector não vai a lado nenhum, nem ninguem em Bruxelas lhe liga alguma coisa. É mais um fogo fátuo made by Portas para animar a malta.
MIGUEL MACEDO, ministro da Administração Interna e dirigente do PSD, veio do Parlamento onde protagonizou uma oposição estruturada a Sócrates. Como ministro deixa porém muito a desejar numa pasta sensível. GNR, PSP e autarcas não gostam dele porque promete tudo e não faz nada. A discrição deixou de ser escudo para a incompetência.
NUNO CRATO, ministro da Educação, homem de esquerda dentro de um governo de direita. Teve o mérito de apaziguar o sector, abandonando temas fracturantes como a avaliação dos professores e as horas extraordinárias e fixando a atenção naquilo que mais sabe: pedagogia. Preparou uma reforma exequivel do curriculo escolar e chamou a si os professores. Tudo isto porem à custa do ensino superior e da investigação, que navegam à vista descontroladamente e com risco de encalhar na praia.
PAULO MACEDO, ministro da Saúde, é talvez o melhor de entre os seus colegas de governo e o melhor de entre os ministros da Saúde de todos os tempos. Naturalmente antipático e altivo, enfrentou pela primeira vez em mais de 30 anos dois dos mais poderosos lobies em Portugal: a associação nacional de farmácias e a ordem dos médicos. E agora começou uma inteligente reforma do sistema hospitalar. Isto tudo sem pôr em causa o sistema nacional de saude e a tradicional qualidade do serviço médico em Portugal. É obra. Trata-se de um ministro técnico com provas dadas na banca e nas Finanças (onde empreendeu uma reforma fiscal virtuosa) sem pretensões politicas ou sociais. É assim porque é; faz assim porque acha que deve ser assim e se o mandarem embora tambem não ficará chateado. Um bom exemplo para os politicos profissionais.
MOTA SOARES, o da Vespa, ministro da Segurança social, veio com áurea de especialista da área mas pouco mais tem feito do que gerir à vista o secto. Em abono da verdade deverá dizer-se que, com o afluxo de desempregados e o aumento dos reformados e dos beneficiários do RSI, pouco mais Mota Soares poderia ter feito. Eu iria um pouco mais longe. Com a fama que o precedeu era de esperar mais imaginação e drive na condução deste importante sector. Não é aumentando o gasto que se gere bem em período de contenção orçamental. Seria de esperar melhor de um soi disant expert dans la matiére.
AGUIAR BRANCO, ministro da Defesa num país indefeso, financeiramente, economicamente, socialmente e intelectualmente. Do grupo dos betos do Porto, Branco nada tem feito, embrulhado nos conceitos teóricos, na mafia militar e nos interesses imobiliários que as reformas das instalações militares suscitam. É o último da lista.
PASSOS COELHO, primeiro ministro jovem e prometedor. Bom comunicador, sabe vender com aparente seriedade os seus projectos reformadores. Contudo, a sua falta de sentido de coordenação não tem permitido ao governo arrancar com as indispensáveis reformas para fazer sair o país da modorra. O governo tem-se mostrado impotente perante a força adquirida pelas corporações de interesses instaladas.
Em conclusão, poderá dizer-se que o governo PSD-CDS tem cumprido modestamente a sua função para permitir, até agora, o fluxo regular das ajudas financeiras extraordinárias que o país vai recebendo para evitar uma completa bancarrota. Mas será suficiente para fazer sair Portugal da situação desesperada em que se encontra? Tenho duvidas.
ALBINO ZEFERINO 7/6/2012