O pedido de ajuda financeira para a banca espanhola feito ontem pelo governo do país vizinho e concedido na hora pela UE foi o arranque para o processo da comunitarização bancária europeia. Ao emprestar através do MEEF o dinheiro necessário para a recapitalização dos bancos europeus falidos, a UE vai paulatinamente entrando no capital e na gestão de grande parte do sistema bancário europeu, começando naturalmente pelo dos países mais débeis e portanto em maiores dificuldades. O processo é simples. O MEEF financia-se junto dos grandes bancos europeus (e não só) empresta aos Estados intervencionados a juros baixos (mais altos porém do que os que paga) que por sua vez empresta aos bancos em aflição a juros ainda mais altos. Como só muito dificilmente os bancos objecto desta ajuda terão capacidade para pagar estas dívidas, a médio prazo os bancos devedores cairão sob a alçada da UE, credor privilegiado.
Em Portugal a coisa começou com o empréstimo de 12 mil milhões (dos 78 mil totais do MoU) distribuidos pelo BPI, BCP, BANIF e algum outro, mas só com os 100 mil milhões para o Bankinter espanhol e para mais algumas Caixas autonómicas é que a coisa se desvendou. Falta agora a Itália e quanto à Grécia teremos que esperar pelo resultado das novas eleições do próximo dia 17 de junho. A Irlanda (que faz parte da zona anglo-saxónica da Europa, que inclui os EUA) já foi socorrida a tempo de fugir desta comunitarização bancária pró-germanica (há que tirar lições da Grande Guerra que devastou a Europa e o Mundo há menos de 70 anos). Uma vez dentro do saco comunitário torna-se mais fácil o saneamento dos bancos, seja através de fusões, seja de encerramentos, desde que obedeçam todos às mesmas regras.
A Europa a duas velocidades começa a tomar forma e já está a ficar clara a fronteira entre os países ou grupo de países pró e anti-germanicos. Os do euro terão que escolher entre permanecer na moeda única e ficar subordinados à Alemanha ou abandonar o euro e ficar entregues a si próprios. Ingleses e nórdicos têm como viver por si sós; os latinos já não. Precisam dos alemães (dos seus euros, das suas Auto-europas e dos seus Mercedes) para sobreviverem fingindo que são ricos dentro dos seus esquemas de vida sinuosos e subterraneos. Só que agora já não podem fazer o que querem, quando querem e como querem. Têm primeiro que perguntar aos alemães. Cèst lá vie, como dizia o outro. Paciencia, foi o que se poude arranjar.
ALBINO ZEFERINO 11/6/2012
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