segunda-feira, 18 de junho de 2012

OLHANDO PARA O UMBIGO


 Enquanto continuarmos a preocupar-nos exclusivamente com as nossas próprias dificuldades resultantes do enorme esforço que nos está a ser exigido pelo governo para cumprir com as determinações impostas no memorando de entendimento assinado com o FMI, a UE e o BCE, não conseguiremos sair da situação crítica em que nos encontramos. Há que entender, sem complexos nem recriminações, que gastamos dinheiro demais durante demasiado tempo e que agora não temos outro remédio que não seja arcar com as responsabilidades desse erro. Tentar fingir que não temos nada que ver com a situação desesperada que atravessamos, mas que, pelo contrário, fomos levados ao engano por aqueles que nos querem ajudar é ridículo, errado, enganoso e próprio de saloios mal-agradecidos, Não foram nem os alemães, nem os especuladores financeiros, nem os banqueiros ou o euro, quem votou em Sócrates e no PS, nem em Soares e sus muchachos, nem em Barroso e Santana ou em Cavaco e Guterres. Fomos nós, os portugueses que, através do voto livre e consciente, pusemos essa malta no poleiro, dando-lhes poder e meios de fazer as trafulhices e as prodigalidades que nos conduziram à triste situação em que nos encontramos. Assumamos as responsabilidades dos nossos erros e colaboremos na dificil tarefa de construir um novo Portugal, mais justo e portanto mais livre, mas ao mesmo tempo mais adulto e mais democrático. 
                    Não é preciso ser-se muito perspicaz para perceber que, sem a União europeia, Portugal não sairá da cepa torta (e mesmo com ela, veremos). É portanto nesse quadro que teremos que pensar e não, como as esquerdas (portuguesas, gregas ou outras) apregoam, exigindo áqueles que nos emprestam o dinheiro para vivermos, que sustentem os nossos vícios que insistimos em não abandonar, resistindo aos esforços reformadores do governo, cujo objectivo principal consiste em sanear as nossas finanças e reestruturar o país para que não voltemos a cair nos erros do passado. Portugal é a Olivença da Europa, como as ilhas gregas são as Berlengas europeias. Para Bruxelas e Berlim, Portugal ou a Grécia são tão importantes como Olivença ou as Berlengas são para Lisboa. Ao contrário do que muitos portugueses pensam, não será o resultado das eleições de amanhã na Grécia que vai determinar o fim do processo europeu ou até a morte do euro. A União europeia está em processo acelerado de integração (ler link deste blog a este respeito) e os espirros gregos ou portugueses não irão incomodar minimamente um trabalho de decadas feito com esforço e determinação, que tem propulsado a Europa, desfeita por duas guerras fratricidas, para níveis de desenvolvimento nunca dantes conhecidos.
                   Deixemos os cães ladrarem e ajudemos a conduzir paulatinamente a caravana da europeização a passar, nesta fase crucial do seu caminho. Não é olhando exclusivamente para o nosso umbigo, como quem faz contas às derrotas e aos empates da selecção nacional de futebol como se sem Portugal o "europeu" acabasse, que colaboramos neste esforço europeu de continuar a lutar por uma vida melhor para todos, portugueses e gregos, italianos e espanhois ou alemães e franceses.

                                                    ALBINO ZEFERINO                      16/6/2012    

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