sexta-feira, 29 de junho de 2012

O ALBERGUE ESPANHOL


A preocupante situação da economia espanhola já começou a fazer moça na caminhada salvífica portuguesa. Pela primeira vez o governo Passos-Gaspar encontra-se em risco assumido de chegar ao final do ano com um défice superior aos 4,5% estimados como objectvo pela troika.  Antes de Rajoy ter levantado o véu que escondia o albergue em que as autonomias espanholas transformaram o país vizinho, verdadeiro tutor deste jardim à beira-mar plantado, ainda a Europa podia encarar Portugal como um bom exemplo para os outros na forma como obedientemente seguia os ditames da troika, mesmo fingindo reformar sem o fazer verdadeiramente. Agora já não mais será possivel continuar a fingir. O arrastamento da crise vai minando passo a passo quaisquer veleidades de verdadeira reforma do sistema europeu, deixando cada um entregue à sua triste sorte e nós entregues aos bichos.
                   Os ultimos numeros oficialmente publicados sobre a execução orçamental em Portugal mostram à evidência uma situação de completo falhanço na condução da politica económica. Com menos 3,5% do que o previsto de receita orçamentada, verifca-se o seguinte: Retracção no consumo ( - 2,8% no IVA); aumento das falências ( - 15,5% no IRC); baixa na circulação automóvel ( - 47,7% no imposto sobre venda de veiculos); diminuição da produção industrial ( - 8,4% no imposto sobre produtos petrolíferos); aumento do desemprego ( - 3,1% nas contribuições para a Segurança social). A continuar neste caminho, não será possivel ao governo apresentar no fim do ano um defice orçamental de 4,5% conforme negociado com a troika. Não existindo muito mais espaço para aumentar as receitas por via dos impostos, creio que não restará ao governo outra solução senão mudar de estratégia, renegociando com a troika novos objectivos e um prazo mais alargado para o seu cumprimento. Tratar-se-à de uma derrota em toda a linha com as teses defendidas pelo PS, que desde sempre tem vindo a insistir nesta necessidade e que determinará, no minimo, uma significativa remodelação governamental, sob pena de abertura de uma crise politica séria que levará necessariamente a novas eleições, empurrando Portugal para uma helenização do processo, que ninguem deseja e que há que evitar. 

                                                  ALBINO ZEFERINO                   29/6/2012

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