sábado, 23 de junho de 2012

A UNIÃO BANCÁRIA


 Tudo indica que a próxima etapa a caminho da plena intergração europeia será a união bancária da Europa. Mas o que é isto? Será que todos os bancos europeus se transformarão num só mega-banco? Eu não diria tanto. A débacle espanhola, que se manifestou sobretudo no sector bancário pelo excessivo crédito mal-parado que concedeu na área do imobiliário, vai forçar a União europeia a reforçar os mecanismos da supervisão aplicáveis aos bancos europeus, estabelecendo-lhes regras comuns de actuação e dando mais poderes de supervisão ao BCE. Á primeira vista parece tratar-se de uma medida sensata no sentido de travar a escalada dos juros em Espanha e na Itália, mas enquanto a acção do BCE não repousar numa verdadeira união politica receio que a sua supervisão sobre a banca europeia não passem de meras recomendações, facilmente ignoradas quando for invocado o interesse nacional por parte de um qualquer banco supervisionado. 
                    A subida vertiginosa dos juros da dívida espanhola deixa antever que só muito a custo a Espanha escapará a um regate europeu. Os pormenores da ajuda de 100 mil milhões de euros para a recapitalização da banca espanhola decidida há uma semana em Bruxelas não são ainda integralmente conhecidos. Estima-se que metade desse valor seja canalizado para sanear as cajas de ahorro que, à semelhança dos bancos, emprestaram descontroladamente durante anos a particulares e a empresas, sobretudo para financiamentos na área do imobiliário. A gestão das cajas de ahorro feitas pelas comunidades autónomas sem qualquer critério prudencial mas apenas movida por interesses politicos veio agravar decisivamente a divida espanhola, lançando o país para uma situação desesperada para saneamento da qual alguns analistas estimam ser necessário um minimo de 400 mil milhões de euros. O problema é que o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MME), que se estreia no próximo 1 de julho, só dispõe de 500 mil milhões para acorrer a todos os países em dificuldades. A escassez de dinheiro para acudir a outros países afecta tambem a Itália cujas necessidades de ajuda podem oscilar entre os 300 mil milhões e os 600 mil milhões de euros. Para Chipre, com um desiquilibrio estimado em 4 mil milhões de euros, o problema é a sua dependencia da Grécia.
                    Por enquanto o BCE continua a ser a unica entidade com poder para intervir e controlar a crise do euro. A sua acção é porem limitada. Limita-se a ceder liquidez aos bancos proporcionando uma baixa dos juros e comprando divida publica no mercado secundário. Sem possibilidade de mutualização das dividas dos Estados membros tornando-se credor de ultima instancia da UE, o BCE limitar-se-á a uma supervisão frouxa da actividade bancária europeia, sempre sujeita às contingencias politicas do momento em cada Estado membro e não afasta definitivamente, como seria desejável, o espectro da saída do euro que paira sobre a cabeça de alguns países europeus.

                                                              ALBINO ZEFERINO                     23/6/2012

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