Neste momento de viragem na construcção europeia que o eclodir desta persistente crise financeira, social e económica provocou, poder-se-á desde já antecipar a arquitectura que configurará a nova estrutura europeia, depois de ultrapassadas as vicissitudes presentes, elas mesmo origem desta histórica viragem. Começa já a ficar claro para muitos que os 17 países constitutivos da zona do euro configuram um grupo mais integrado do que os que recusaram a pertença a dita zona, podendo dizer-se que os dois grupos em questão progridem a velocidades diferentes no seio da União a que todos pertencem. Não será por acaso que a maioria dos antigos países constitutivos da zona EFTA (simples zona de livre câmbio) fazem parte deste segundo grupo que não aderiu ao euro. Portugal, antigo membro fundador da EFTA, desde que passou a integrar a União europeia, pautou o seu percurso europeu por uma persistente determinação em se colocar no chamado pelotão da frente, aderindo por principio a tudo o que era novo na construcção europeia e só depois ponderando (quando ponderava) as vantagens dessa precipitação. Como quem quer provar que é capaz de tudo o que lhe é proporcionado apenas pelo facto de lhe ser facultado o acesso. Esta atitude poderá ser psicologicamente explicada pelos chamados 50 anos de isolamento internacional em que viveramos, numa busca de protagonismo internacional que a nossa dimensão como país não justificava. Mas foi assim que chegamos a Maastricht, a Shengen e por fim ao euro e por pouco ao TGV. Eclodida a crise, verificamos que há coisas às quais interessa aderir e outras às quais não interessa tanto.
A segunda divisão entre os países membros da UE só agora em plena crise e por causa dela se começa a revelar. Os países que até agora presumiam de igualdade entre si (embora essa manifestação fosse cada vez mais teórica do que prática) passaram a estar divididos entre os países com divida externa descontrolada e os que embora devedores não ameaçavam deixar de poder pagar as suas dividas. Os primeiros foram perdendo para os segundos o seu estatuto de igualdade na exacta medida em que demonstram capacidade (e vontade) para pagar o que devem. Nasceu assim mais uma linha divisória entre países membros da União que não coincide necessariamente com a pertença ou não à zona euro.
Temos assim uma Europa com dois grupos de países uns mais integrados do que outros (Shengen, euro, harmonização fiscal e orçamental, you name it) e uns mais organizados do que outros (com deficit orçamental controlado e dívida externa aceitável). Serão dois circulos concentricos. Há países dentro dos dois circulos. países dentro só de um e países fora dos dois. Onde se situará Portugal?
ALBINO ZEFERINO 17/6/2012
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