Desiludam-se aqueles que esperavam a salvação
através de acções de solidariedade vindas da UE, fosse através de
excepções às estritas regras dos financiamentos comunitários, fosse
através duma política de maior integração institucional onde os países
beneficiários poderiam diluir os seus défices e as suas dívidas
externas num orçamento comunitário mais vasto e mais rico. O Conselho
europeu extraordinário dos próximos 22 e 23 de novembro vai decidir
sobre o orçamento plurianual da Europa de 2014 a 2020. Não num sentido
ecuménico de promover um maior crescimento europeu face aos grandes
desafios que os novos grandes países lhe lançam, ou num reforço da
coesão europeia, muito enfraquecida pela forma como as crises se têm
desenvolvido no seio de alguns dos países membros, mas sim num
exercício egoísta e pragmático de fixar concretamente quanto custará a
UE a cada país membro e para fazer o quê. Será assim, à sombra de
qualquer debate nacional que o futuro da Europa vai ser definido até
ao fim da década. Em Bruxelas ninguem fala de crescimento, apesar dos
bonitos projectos sobre a reorientação da Europa fundada num pacto de
crescimento que os socialistas franceses apregoaram na sequência da
eleição do seu novo presidente. O PM ingles, empurrado pela sua
maioria receosa de que retirem à GB o regime de favor de que goza,
exige uma diminuição global do projecto orçamental comunitário,
ameaçando com um veto. A França promete a mesma coisa, se os créditos
da política agricola comum forem amputados dando satisfação à
indignação dinamarquesa pelo peso excessivo das despesas agricolas. A
Alemanha insiste no condicionamento das ajudas ao respeito da
disciplina orçamental dos Estados beneficiários. O próximo orçamento
plurianual europeu será assim um orçamento dos anos 50, sem apoio ao
emprego e deixando de lado a inovação. Na melhor das hipóteses haverá
uma estagnação orçamental prenunciadora de uma austeridade prolongada
e o reconhecimento de que a crise ainda está no horizonte.
Não nos esqueçamos que em Portugal nunca vivemos
daquilo que produzimos. Sempre houve algo que nos permitiu viver acima
das nossas possibilidades. Primeiro foi o comercio de especiarias do
Oriente, depois o ouro do Brasil, mais tarde o petróleo de Angola e
finalmente os fundos comunitários. Agora que tudo isso acabou, temos a
troika. Mas com estes a coisa fia mais fino. Já não podemos fazer o
que nos dá na veneta. Temos que perguntar se concordam. E os chatos
insistem sempre na disciplina orçamental. O que nos espera então? Na
falta de apoios comunitários suficientes para continuarmos a viver ao
nivel dos outros parceiros, só nos resta baixar de nivel de vida. É o
que infelizmente já se vai notando por aí. Aos poucos e poucos a vida
em Portugal vai-se tornando mais dificil e mais precária, com faltas
pontuais e serviços cada vez mais deficientes. A evasão fiscal
aumenta, acompanhando a emigração dos mais prestáveis e dos mais
jovens, deixando para trás os párias e os velhos. Portugal está-se
transformando num país de anciãos pobres com cada vez menos
assistencia e dinheiro que, em vez de progredir, regride até à
exaustão. Depois virão os abutres para comer o que resta, se alguma
coisa tiver ficado.
ALBINO ZEFERINO
19/11/2012
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