Pelo caminho que as coisas estão levando só vejo
uma solução para o problema da crise europeia: uma federalização à
europeia. Em vez de a Europa se instituir numa federação clássica de
Estados federados - como na Alemanha, no Brasil ou nos E.U.A., por
exemplo - a União europeia transformar-se-ia numa federação de Estados
à europeia, isto é, juntando Estados independentes uns aos outros, não
em pé de igualdade entre eles, mas conforme os interesses que uns têm
sobre os outros, subordinados a regras comuns mas aplicáveis
diferentemente a uns e a outros. Concretizando. Os países ditos
pagadores (Reino Unido, França, Itália, Suécia, etc.) absorveriam os
países beneficiários que lhes fossem mais afins ou que lhes devessem
mais dinheiro, comprando ou executando terras, bens e serviços desses
países. Por exemplo, os ingleses absorveriam os irlandeses, os alemães
integrariam os da Europa central (Polónia, Republica checa, Roménia e
outros), os franceses ocupariam a Espanha e Portugal, os suecos
ocupar-se-iam dos países bálticos, os holandeses juntar-se- iam aos
belgas, os gregos aos bulgaros, a Itália juntar-se-ia aos países
balcanicos e assim por diante, conforme os interesses dos países
integradores e os apetites que os países integrados lhes suscitassem.
Seria a Europa das Regiões baseada na teoria dos circulos
concentricos. Os chamados grandes Estados criariam zonas de influencia
englobando grupos de países, que por sua vez poderiam ou não estar
agrupados hierarquicamente entre si. A regra geral seria a da
subsidiaridade, ou seja, aquilo que pudesse ser mais bem feito
isoladamente do que em conjunto seria da responsabilidade de cada
país. Tudo o que saisse melhor feito em conjunto (ou seja, sob
orientação do país integrador) seria feito em conjunto (ou seja,
subordinado a regras comuns a esse grupo de países ditadas pelo país
integrador).
No caso de Portugal, ficariamos prioritariamente
subordinados aos interesses espanhois no que não interessasse à França
(por exemplo, o mercado ibérico da energia ou a exploração do Alqueva
e das redes fluviais) e tudo aquilo que na peninsula ibérica fosse do
interesse frances (por exemplo, a politica agricola comum ou a rede
ferroviária) dependeria da vontade francesa. A exploração mineira ou o
fornecimento de petróleo (por se tratar de politicas europeias comuns)
dependeria em primeira linha dos interesses franceses e globalmente de
Bruxelas. Tal como o sistema bancário e a gestão de Schengen, que
ficariam integrados em sistemas comuns europeus. A politica externa e
a defesa seriam politicas comuns definidas em Bruxelas e executadas
pelos países em função de planos comunitários. Para nós ficaria a
gestão das praias e dos portos portugueses (sempre e quando não fosse
incompativel com os interesses espanhois e franceses ou eventualmente
comunitários) e o ordenamento territorial de Portugal. E assim por
diante. A determinação do nível de responsabilidades nacionais era
flexivel (ou seja a determinação dos sectores a gerir e o seu nível
decisório) seria fixada caso a caso em cada Conselho europeu, que
decidiria os respectivos financiamentos anuais e plurianuais. Os
orçamentos nacionais seriam avalizados por Bruxelas em função das
responsabilidades atribuidas a cada país. Cada país seria responsável
por aquilo que lhe ficasse atribuido (exclusivamente no seu território
mas tambem em territórios de países nele integrados) ou seja, haveria
reuniões ministeriais nacionais para tratar de assuntos exclusivamente
nacionais, cimeiras ministeriais de dois ou mais países integrados
numa mesma região para tratar de assuntos que dissessem respeito a
essa região e cimeiras europeias de chefes de estado e de governo para
a definição de politicas comuns a toda a federação europeia. Em suma,
quanto melhor um país se governasse a si próprio mais competencias
nacionais lhe seriam atribuidas e vice-versa. As relações de
dependencia inter-estaduais não seriam unívicas, dependendo da
capacidade de gestão demonstrada por cada país. Os países europeus
ficariam desta maneira ligados entre si de diversas maneiras em função
das suas importancias e das suas capacidades relativas.
Os sistemas de governo de todos os países seriam
obrigatoriamente democraticos (os eleitores de cada país votavam para
os seus respectivos parlamentos em listas nacionais, mas tambem para
os orgãos europeus em listas europeias). Ou seja, nem todos os países
teriam responsáveis nacionais nas instituições comunitárias,
dependendo da sua eleição ou não nas listas europeias. Os comissários
europeus teriam que ser obrigatoriamente deputados europeus e
abandonava-se a regra de um comissário por país.
Talvez assim a Europa se salvasse da exaustão para
onde caminha a passos largos vai para 5 anos.
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