domingo, 4 de novembro de 2012

FELIZMENTE HÁ LUAR

Foi preciso ano e meio de troika para finalmente 
se chegar ao ponto de partida da caminhada em direcção à salvação. Com 
a já famosa palavra "refundação" despoletou-se o ânimo regenerador que 
há meses teimava em sair abafado do peito do primeiro-ministro, 
envolvido nas teias dos interesses contraditórios que o assolam de 
todos os lados. Aprisionado entre a consciencia da necessidade de 
fazer algo mais do que seguir à letra as contabilidades dos 
financeiros da troika (com Gaspar à cabeça), Passos Coelho decidiu 
finalmente dar o grito do Ipiranga lusitano, ao exibir sem complexos 
de esquerda ou tergiversações inuteis, a necessidade de alterar 
substancialmente o circunstancialismo em que hoje se move a sociedade 
portuguesa. Herdeira das locuras abrilistas, que só não conduziram 
Portugal para a bancarrota mais cedo graças aos cofres cheios deixados 
pelo vil salazarismo, a sociedade portuguesa, obnubilada pelo rápido, 
fácil e exuberante acesso aos beneficios da civilização, ficou 
hipnotizada pelos feiticeiros do novo poder, cada um mais demagogo do 
que o anterior, convencida da perenidade das riquezas que, quais 
sucessivas "sortes grandes", lhes caiam no colo sem parar. Até que a 
maldita crise importada das Américas surgiu sem prevenir, semeando o 
caos nas planícies lusitanas e a fome e a indignação nos estomagos e 
nos espíritos dos pobres portugas. O resto já se sabe. O continuo e 
crescente endividamento do país vai comprometendo de dia para dia mais 
profundamente a soberania nacional, com o aplauso cínico daqueles que 
preferem aproveitar-se das desgraças alheias em proveito próprio, do 
que em salvar o país duma derrocada certa que nos está conduzindo 
progressivamente para níveis de desenvolvimento de décadas atrás. 
Depois de enunciado o problema parece fácil a sua 
concretização. Mas num país como o nosso nada é fácil. Como se vai 
contabilizar as necessidades daqueles que efectivamente precisam se 
ajuda? O dinheiro apurado nos impostos será suficiente para continuar 
a prestar os cuidados publicos básicos a toda a população sem 
discriminação de classe? Qual o nível minimamente exigido para a 
prestação estatal de apoios sociais? Até que ponto é aceitável (e até 
possivel) recorrer ao outsourcing na concessão dos apoios sociais a 
que o Estado se obriga? Estas e outras questões terão que ser 
discutidas a nível nacional sob pena de não ser legítimo decidir sobre 
elas. Caberá a todos os que não estejam a apostar na desagregação do 
Estado dar o seu contributo. A crise transformou a sua resolução num 
designio nacional. 
Entalado entre as duas grandes facções 
ideológicas que hoje compõem o actual partido socialista, o líder 
alternativo debate-se no dilema de optar por subir ao poder a curto 
prazo, empurrado por eleições incertas resultantes da queda do actual 
governo por ele provocada, ou dar o seu apoio ao antigo companheiro de 
luta juvenil, permitindo assim que ele saneie democraticamente o país, 
voltando a criar condições mais favoráveis e mais cómodas para 
governar para o seu sucessor, que será naturalmente o actual líder 
socialista. Tarefa ingrata para o jovem Seguro que, fazendo jus ao 
nome, prefere manifestamente não arriscar a cabeça numa jogada incerta 
e perigosa, mas que é obrigado a fazer voz grossa pelos dinosauros 
socialistas que, com o velho confuso e sempre superficial Soares à 
cabeça, o empurram diariamente para o precipicio. Alea jacta est e 
mais do que a Passos ou a Portas, será a Seguro a quem caberá a 
responsabilidade de fazer sair este belo e aprazivel país deste 
caminho atroz em direcção aos infernos, para onde os governantes 
anteriores (a maior parte deles xé-xés, fugidos, desaparecidos ou de 
pulseira electrónica) nos empurraram, enchendo-se a si próprios e aos 
seus amigos de dinheiro roubado ao povão enganado. 


ALBINO ZEFERINO 1/11/2012 

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