sábado, 28 de janeiro de 2017

A ADAPTAÇÃO DA ESTRATÉGIA NACIONAL FACE AOS NOVOS DESAFIOS


          Desde que Portugal modificou a sua estratégia nacional assente na defesa da manutenção do seu império ultramarino, em resultado da revolução de 25 de Abril de 1974, que passamos a contar com a nossa pertença à NATO para assegurarmos a nossa defesa e segurança nacionais. Tambem no que toca à nossa subsistência económica e financeira, foi a opção da nossa adesão à então CEE que passou a garantir a nossa sobrevivência como país soberano e independente. A NATO e a UE são hoje portanto vitais para Portugal. Não poderemos assim, a meu ver, continuar a viver como país autónomo sem pertencer a estas duas organizações internacionais, essenciais para nós. Sem capacidade militar nem económica e social próprias, Portugal precisa da NATO para se defender de eventuais ataques militares externos e da UE e da sua ajuda económica e financeira para subsistir internamente.
          Partindo deste principio (há muito boa gente que considera que tanto a NATO como a UE e o seu euro são, não só dispensáveis para a nossa sobrevivencia, como até prejudiciais para a sua manutenção), teremos que nos adaptar aos novos desafios resultantes dos dois mais importantes acontecimentos ocorridos já este ano. Refiro-me à estratégia da nova administração norte-americana e à decisão britânica de abandonar a UE. Com a chegada de Trump ficamos a saber que os EUA vão desinvestir na NATO e que a UE vai sofrer um forte abalo com o Brexit. Só quem consiga contribuir substancialmente para a manutenção operacional da NATO poderá contar com os EUA. Duvido que Portugal tenha meios para armar as suas forças armadas em conformidade com os condicionalismos norte-americanos. Tambem a saida prevista do RU da UE irá determinar uma recomposição interna da organização que passará certamente por uma maior integração dos países mais fortes deixando os perifericos mais para trás. Estamos assim numa situação histórica sem precedente, onde os nossos tradicionais aliados no Atlântico e na Europa estão a alterar os termos da sua longa relação com a NATO e com a UE. Estas duas instituições funcionam como o coração e os pulmões do posicionamento estratégico nacional. Teremos pois que adaptá-lo de forma a adequar o nosso país a uma Europa e a um Atlântico em mudança profunda, cientes dos nossos interesses nacionais permanentes.
          Não tendo possibilidades financeiras para pôr as nossas forças armadas ao nivel que se nos exigirá, teremos que usar de outros argumentos para manter Portugal no radar dos EUA e consequntemente da NATO. Os unicos argumentos viáveis neste contexto são os Açores. Com o provável aumento da prontidão das forças norte-americanas no Atlântico será natural que Washington esteja receptiva a abrir negociações em termos mais globais do que a simples utilização da base das Lajes (em desinvestimento, de resto, com Obama). Penso não só em termos de Força Aérea mas tambem em dar facilidades navais aos americanos nos portos açorianos. A posição geo-estratégica dos Açores no meio do Atlântico será sempre um trunfo para quem o queira jogar. Que o diga os chineses, que não desperdiçam uma oportunidade logo que a avistam.
          O Brexit, por outro lado, deixará os britânicos numa situação nova. Se sentirem que os seus velhos aliados estão do seu lado (nas negociações, na diplomacia, nos jornais) poderemos jogar um papel arbitral importante como intermediário útil com os nossos parceiros comunitários e com a Comissão europeia, que decerto não deixarão depois de nos agradecer. É apanágio de Portugal ter esse papel delicado, que normalmente desempenha com sucesso (Timor, Secretário-geral NU, animador da CPLP, etc.). Saibamos aproveitar as nossas qualidades em nosso proveito. Continuarmos ligados aos britanicos, ficando ao mesmo tempo a pertencer ao pelotão da frente da UE seria obra. E que obra!

                  ALBINO  ZEFERINO                                                     28/1/2017


1 comentário:

  1. Tal como os meus queridos leitores comentadores salientaram nada do que aqui disse é seguro que aconteça. Mas provável sim. Não creio que a NATO acabe (EUA e RU não lhes interessa) nem que a UE se desfaça em bocados (a Alemanha tambem não permitiria). Pertencemos a ambas organizações e temos interesse (para mim vital) em nelas permanecer. A questão põe-se e bem como Freire Nogueira e Martins da Cruz salientaram é saber como manter-nos nessas organizações da melhor maneira. Eu diria que usando da manha que sempre nos caracterizou.
    AZ

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