sábado, 14 de janeiro de 2017

A NOVA AMÉRICA DE TRUMP


          Nas vésperas da inauguração do mandato do novo presidente americano julgo oportuno tecer algumas considerações mais detalhadas sobre o que poderá vir a ser, a meu ver, o próximo futuro da nova administração norte-americana.  Depois de 10 anos duma experiencia nova, protagonizada por um brilhante académico de Chicago, negro e liberal, que, sem ter revelado a excepcionalidade dum Jefferson ou dum Kennedy, não deixou de marcar um periodo de alguma distensão, após os anos de confusão de Bush junior e da sua malograda invasão do Iraque.  Entre a não resolução do problema de Guantanamo e o relativo sucesso do Obamacare, Barack Obama deixou a Casa Branca sem o viço que Reagan ou Roosevelt lhe conferiram. Não marcou como muitos desejavam, mas tambem não deixou a América pelas ruas da amargura como outros vaticinavam. Trump foi eleito como reacção à arrogancia dos democratas que, convencidos da vitória da sua candidata, contavam com ela para uma presidencia seguidista, à Clinton, sem chama nem vigor.  Trump. pelo contrário, é uma personalidade polémica, marcante e desafiadora, que assusta, mas que tambem cria expectativas.  Os EUA pós-Obama estão sem chama. O presidente americano cessante não conseguiu aproveitar a oportunidade que a Russia pós-sovietica lhe ofereceu de voltar a por a América a mandar sozinha no mundo. A ascensão de Putin, ambicionando voltar a disputar com os EUA a condução dos destinos do mundo, vai encontrar em Trump um osso mais duro de roer do que foi Obama.  Penso que foi esta a percepção da parte dos eleitores americanos que fez de Trump um ganhador. E o que fará ele para justificar isso?
          O mote que Trump escolheu como definidor da sua politica como futuro presidente norte-americano diz isso mesmo: "Make America Great Again". Como vai ele fazer para que a América recupere a sua grandeza? Primeiramente irá olhar para dentro, tentanto corrigir as falhas (como ele diz) do seu antecessor neste campo. Abandonará as politicas "politicamente correctas" de Obama (protecção das minorias étnicas, promoção das igualdades de genero, ambientalismo, distensão armamentista, alterações energéticas, liberação judiciária, etc.).  A simples observação dos curricula dos seus indigitados próximos colaboradores a isso sugere. A indicação de Steve Bannon como estratega-chefe da Casa Branca, antigo CEO da publicação digital Breitbart News - plataforma para o movimento racista, xenófobo e anti-semita Alt-Right - irá certamente por em pratica medidas de combate ao igualitarismo.  O novo Conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, general que chefiou a secreta militar durante a administração anterior e que foi afastado por Obama por ter acusado o presidente de ter fraquejado no Medio-Oriente, será tambem concerteza um motor para uma mais musculada intervenção americana naquela e noutras partes do globo. Tambem James Mattis, outro general - considerado o heroi da batalha de Fallujah, em 2004, no Iraque - será certamente, como novo Secretário da Defesa e chefe das Forças Armadas norte-americanas, outro dos responsáveis pela nova "grandeza" americana.  Noutro registo, o novo Procurador Geral, Jeff Sessions, senador pelo Alabama, tem um passado ensombrado por acusações de racismo, pelo que será de esperar uma justiça mais musculada e menos libertária do que até agora.  E finalmente, Rex Tillerson, CEO da petrolifera Exxon Mobil, amigo pessoal de Putin, será o novo secretário de Estado, ou seja, o responsável pela politica externa, nº 2 do novo governo Trump e o interlocutor privilegiado de Putin.  Como se vê, Trump escolheu os seus futuros colaboradores de acordo com a estratégia que definiu durante a campanha eleitoral.  Desta forma poder-se-á afirmar que Trump pretende engrandecer os EUA voltando aos principios duros dos anos 50, quando a América dominava o mundo, depois da vitória na 2ª guerra mundial e na guerra da Coreia.
           Se quisermos estabelecer uma comparação com os ultimos anos de Obama, poderemos dizer, como Miguel Monjardino, "que Trump defende que a evoluçao da tecnologia e da globalização e as suas consequencias geopoliticas exigem que os EUA adoptem uma grande estratégia nacional diferente da que foi tradicional durante as ultimas decadas. Washington representa um país que vai concentrar a sua atenção e os seus recursos a nivel interno e desenvolver uma nova estratégia para defender os seus interesses e valores".

                ALBINO  ZEFERINO                                                             14/1/2017

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