Não que o futuro governo de Portugal seja muito importante para a determinação de como vai ser o nosso próximo futuro, porque ele já está definido em linhas gerais em resultado dos dislates criminosos cometidos por todos nós (cada qual ao seu nível de responsabilidade) que já hipotecaram o nosso futuro comprometendo a vida dos nossos filhos e dos seus descendentes por muitos e bons anos. Diria mesmo que Portugal nunca mais será aquilo que foi até agora, tal como hoje o conhecemos.
Ao tentar analisar desapaixonadamente a questão do nosso futuro (como ele vai ser) não devemos esquecer-nos do que somos, o que fomos e como os outros nos vêem. Somos um país sem qualquer importancia, pobre, dependente, periférico e sem chama. Não temos nada que faça falta aos outros (nem petróleo, nem bens transaccionáveis, nem mercados, nem influencia) e pelo contrário pensamos que sem nós o mundo não gira porque de facto em tempos remotos assim foi. Mas como o mundo está cada vez mais pragmático e já ninguem liga a isso, até nos ridicularizam quando alardeamos as nossas glórias passadas como cartão de visita para a pedinchice. Para os alemães e para os países da Europa temos muito menos importancia do que o Estado federado alemão de Bad-Wuertenberg, onde o partido da Sr.ª Merkel perdeu a liderança que conservava à 58 anos. Esta derrota eleitoral da CDU foi vista como um sério aviso à Sr.ªMerkel de que não deve tergiversar na defesa do euro (aposta decisiva alemã depois da reunificação). O grande problema para a Alemanha de hoje é a continuação do projecto europeu, fortemente abalado pela violenta crise financeira que se abateu sobre o mundo civilizado e tudo aquilo que comprometa a recuperação do prestígio do euro tem que ser eliminado ou reformado. É neste contexto que temos que situar o relacionamento portugues com a Europa (e com a Alemanha em particular) no que toca ao indispensável apoio financeiro de que necessitamos. A ajuda externa a Portugal, revelando-se cada dia que passa menos dispensável para a nossa sobrevivencia, reveste-se assim de uma dupla faceta. É desejada pela Alemanha (que a considera indispensável para a sustentação do euro) mas ao mesmo tempo, exigindo medidas profundas de reestruturação do Estado e dos seus pressupostos, terá que ser solicitada formalmente pelo governo portugues para que a implementação das reformas não aparente resultar de uma imposição externa (o que é na realidade).
Não valerá assim a pena continuar a enganar os portugueses centrando a estratégia eleitoral na intransigente (mas impossivel) defesa da denominada independencia nacional com a recusa do pedido de ajuda externa, mas antes consciencializar os portugueses para a inevitabilidade desse pedido e para os dificeis tempos que a seguir nos esperam.
ALBINO ZEFERINO 31/3/2011
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