segunda-feira, 4 de julho de 2011

PORTUGAL Ä DERIVA

   Sujeito a um exigente plano de salvamento financeiro que ninguem se atreve a garantir que seja possivel cumprir, Portugal atravessa um perïodo complicado da sua já longa existência como païs independente. Por muito menos, países importantes nas suas épocas como a Prussia, os Estados italianos ou os Estados balcânicos, por exemplo, deixaram pura e simplesmente de existir. Estou em crer (mais por crença ou fé do que por convicção) que tal não sucederá a Portugal. As condições objectivas para isso apontam. Contudo, não devemos esquecer-nos de que em Portugal vivem os portugueses, raça rafeira, misto de árabe e de judeu, que nunca se entenderam entre si e que tradicionalmente se encontram em lados opostos da barricada. Sem uma liderança forte (não apenas determinada) o povo portugues não sossega, nem sabe como sair das encrencas em que se mete. Atente-se no que se passa com os primos do Médio Oriente e mais recentemente com os irmãos bastardos da África do norte.
          Nas anteriores crises em Portugal sempre emergiu uma personalidade forte, conhecedora natural da idiosincrasia do povo lusitano (porque originário dele) que naturalmente se impôs à turba assustada e conseguiu melhor ou pior preservar uma independência que nasceu frouxa e que verdadeiramente foi mais tolerada do que imposta. Desde as aventuras militares de Afonso Henriques que soube mobilizar os portucalenses para o saque às riquezas mouras do sul da Peninsula, passando pelo manhoso João das Regras que soube com mestria impôr o frade de Aviz aos espanhois casando-o depois com a inglesa Filipa de Lencastre (filha do rico duque de Gaunt) dando origem à Ínclita Geração que verdadeiramente foi quem pôs Portugal no mapa, mais ninguem até Salazar se conseguiu impôr sem discussão a este povo empedrenido e rebelde que Bordallo Pinheiro tão bem caracterizou no genial desenho do João Povinho fazendo o célebre gesto como manifestação da rebeldia contida dos portugueses. Tudo o resto foi fruto de meras circunstâncias (desde o defenestramento do Miguel de Vasconcelos, à revolta do 5 de Outubro, passando pelo regicídio e pelo 28 de maio). Do 25 de abril (fruto do desepero provocado por uma guerra incompreendida e sem solução, mas sem objectivos ideológicos que só depois foram introduzidos por Moscovo e protagonizados pelos seus sequazes portugueses) emergiu Mário Soares (o anti-Salazar) que livrou os portugueses da comunagem e empurrou Portugal para o que é hoje a União Europeia. Todas estas personalidades determinantes para a preservação da independencia de Portugal tiveram uma caracteristica em comum: como autenticos portugueses que se orgulhavam de ser, conheciam o seu próprio povo como ninguem porque dele eram originários. Soares (agnóstico convicto, era filho de um padre), Salazar (católico praticante mas já sem Fé no fim da vida, era filho de um humilde feitor), João das Regras era um filho do povo de Lisboa. Todos eles sentiam a alma portuguesa como sendo a sua. Só desta maneira se pode liderar os portugueses com sucesso. Com regras impostas de fora, por estrangeiros que não conhecem os portugueses (embora conheçam melhor do que os próprios as causas dos males que os afligem) dentro de prazos dificilimos de cumprir e num contexto internacional que lhes é estranho e que não compreendem como os poderá condicionar naquilo que julgam ser justo e solidário, será muito dificil a Passos Coelho e aos que com ele desinteressadamente empreenderam esta tormentosa viagem chegar a bom porto com o navio sem meter águas e ainda por cima dentro do horário. Com expectativas negras mas muito menos extremas do que as actuais, fugiram para o estrangeiro Guterres e Barroso, tambem estrangeirados como Passos. Será que está para chegar a vez do portugues Paulo Portas liderar Portugal e os portugueses com sucesso ? Confesso que tenho duvidas. Falta a Portas a lhaneza de espirito e sobretudo a estratégia para se impôr. Não basta ter qualidades de lider. Será preciso que as circunstancias lhe sejam propicias. Já Ortega y Gasset o dizia.
 
ALBINO ZEFERINO   4/7/2011

1 comentário:

  1. Em suma, em sua opinião muito dificilmente Portugal poderá cumprir o que se comprometeu com a "troika", para mais sem um líder visível ou que venha eventualmente a emergir nos tempos mais próximos. Só que o problema de Portugal é colectivo: o Povo no seu todo terá de decidir o que quer e quem quer que o comande. A questão é de fácil formulação, todavia, a meu ver, fica ad aeternum sem resposta.

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