segunda-feira, 31 de outubro de 2011

PORTUGAL É UM PAÍS PARA VELHOS

Com a institucionalização da crise, que é como quem diz 
que jamais recuperaremos desta palmada, há que fazer uma projecção 
futura da nossa existencia. Assumindo como todos parece acreditarmos 
que Portugal por muito que não consiga reagir aos efeitos da crise não 
vai sair do mapa, chega-se facilmente a duas conclusões óbvias. A 
primeira é que a gente jovem que presta está toda a sair na busca de 
futuro mais longe e depois que inversamente estamos a importar cada 
vez mais indesejaveis provenientes de outras paragens. Só cá ficam os 
que não conseguem sair por incapacidade fisica, intelectual ou 
material, ou seja os velhos, os ignorantes e os indigentes. 
Com estas permissas é fácil concluir que o futuro de 
Portugal venha a ser o de um país para velhos. Para os que cá fiquem 
(os portugueses de origem ou indígenas) e para os que para cá venham 
viver atraídos pelas praias e pela amenidade climática, mas tambem 
pela insegurança e pelos brandos costumes. Os jovens ou aqueles que 
sendo já menos jovens consigam arranjar ocupações mais rentáveis e com 
melhor futuro aproveitar-se-ão da liberdade de circulação europeia 
para escaparem do atraso de vida em que Portugal se está 
transformando. 
A integração europeia (a possivel já não a desejável) 
far-se-á por necessidade e já não por solidariedades continentais, 
proporcionando uma comunidade de regiões (mais do que de países) com 
índices de desenvolvimento distintos e qualidades de vida 
diferenciadas. Tal como se passou durante os impérios romano, 
carolíngio, austríaco, napoleónico ou hitleriano. Havia os Estados 
independentes, os associados, os protectorados, os ocupados (hoje 
serão os intervencionados) e as colónias. Cada um deles com graus de 
autonomia e de desenvolvimento distintos. Uns dependiam dos outros em 
maior ou menor grau consoante os interesses dos maiores, que mandavam 
directa ou indirectamente em todos os outros. Em qualquer destas 
modalidades Portugal ficará sempre mais ou menos dependente da 
Espanha, vizinha única. A Espanha joga noutro campeonato diferente do 
nosso, já cá esteve a mandar, já cá está hoje implantada e sobretudo 
já faz parte do esquema mental dos grandes de que nós pertencemos à 
area de influencia espanhola. 
Quando a crise passar, Portugal estará transformado não 
na California da Europa como muitos apregoavam mas na Flórida da 
Europa, cheia de reformados e incapacitados, agarrados às suas 
cadeiras de rodas e às suas manias, sujeitos aos roubos constantes 
feitos pelos imigrados do Leste e da África, organizados em gangues 
infiltrados pela polícia e imunes à justiça por incapacidade desta se 
reformar. O SNS e os restantes serviços publicos funcionarão cada vez 
pior e o único sector em expansão serão os serviços funebres, já hoje 
nas mãos dos americanos da Servilusa. Portugal, país de patos-bravos 
e de promotores imobiliários, passará de um país que tem vivido de 
rendas ou de negócios protegidos ou tutelados pelo Estado, para uma 
espécie de Caparica dos espanhois que afluirão nos seus AVE até Huelva 
e Badajoz e depois de camioneta até às praias carregados com os seus 
farneis, filharada e gritaria castelhana. Se não fôr assim será 
certamente muito parecido. 

ALBINO ZEFERINO 30/10/2011 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

NOVISSIMA CARTA ABERTA A SUA EXCELÊNCIA O MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

Excelência


Cá venho eu de novo incomodar V.Ex.ª com palpites sobre o
Ministério e a melhor forma de lidar com esse grupo selecto e
privativo de altos funcionários postos à disposição de V.Ex.ª para o
assessorar na nobre tarefa de representar o Estado portugues (ainda
será?) no estrangeiro. Entre Secretários e Conselheiros, mais
Ministros e Embaixadores contará V.Ex.ª para cima de 400 almas
dispostas a sacrificar as suas vidas pelo bem do país e das tarefas
que V.Ex.ª lhes confira.
Pelas minhas contas estão já, ou ficarão vagas até ao fim
do 1º trimestre do próximo ano, 19 chefias de Missões diplomáticas
permanentes. Em cerca de 60 existentes é praticamente1/3 da totalidade
de Embaixadas de Portugal que V.Ex.ª terá que prover a curto prazo.
Admitindo que dessas 19 V.Ex.ª decide encerrar metade por razões
economicas (não têm que ser todas as que estão vagas naturalmente)
ficará V.Ex.ª com cerca de 10 ministros e embaixadores a mais. Porque
não suprimir essas vagas? Seria a meu ver uma medida sensata que
reduziria o numero de chefias no quadro diplomático e permitiria que
este voltasse à primitiva forma da piramide.
Outra medida que me pareceria adequada aos tempos que
correm poderia ser a negociação com os espanhois de Embaixadas comuns
como fazem por exemplo os nórdicos (em Berlim, Suécia, Noruega e
Dinamarca têm uma Embaixada comum). Em países onde Portugal não tem
Embaixada seria certamente muito útil ter lá diplomatas portugueses. E
vice-versa, como por exemplo, em S.Tomé, em Bissau ou em Dili,
poderiamos aumentar as nossas Embaixadas com um par de diplomatas
espanhois em cada uma, sem custo para o erário publico.
Tal como se fez em Lisboa acabando com as chefias
administrativas (Chefes de Repartição e de Secção) poder-se-ia com
vantagem (não só económica) substituir os Vice-consules nas Embaixadas
e nos Consulados por Secretários de Embaixada (ou Consules-adjuntos)
como fazem os ingleses. Dava-se mais que fazer aos jovens diplomatas
que ficariam assim mais bem preparados e diminuia-se a perniciosa
influencia do sindicato dos contratados locais que só serve para
convocar greves reivindicativas por vezes contra os interesses dos
trabalhadores.
Como V. Ex.ª pode constatar ideias não me faltam que não
são sequer originais mas que retirei da minha memória de 37 anos de
serviço activo como atento observador dos costumes alheios, sempre com
a recta intenção de as pôr exclusivamente ao serviço da Republica, que
servi com muita honra como correspondente diplomático.
Queira V.Ex.ª aceitar os mais respeitosos cumprimentos do
seu atento e venerador criado

ALBINO ZEFERINO -
correspondente diplomático aposentado

23/10/2011

sábado, 22 de outubro de 2011

O DESABAFO DE CAVACO

Ao questionar a supressão dos subsidios de Natal e de
férias aos funcionários públicos, Cavaco não fez mais do que libertar
a sua indignação (e a da sua mulher) por estar incluido nos
penalizados. Cavaco sabe por experiencia própria que tudo isto são
"numeros de circo" para animar a malta, pois a despesa do Estado não é
passivel de redução. Enquanto outros vão sendo visados, Cavaco entra
no "filme" apoiando, mas quando lhe toca a ele, reage como se nada
tivesse tido a ver com o assunto.
A atribuição do 13º e mais tarde do 14º mes ao
funcionalismo (medida que vem do salazarismo) serviu inicialmente para
premiar aqueles que faziam o seu trabalho mais de acordo com os
interesses da politica da altura. Só com o 25 de Abril foi a medida
generalizada a todos os trabalhadores deixando de ter as
caracteristicas de prémio com que foi instituida e passando a
constituir um complemento remuneratório para toda a gente.
O que o governo pretendeu com esta medida foi poupar na
despesa suprimindo uma benesse que tinha deixado já de o ser. Como
ocorre nos reembolsos de despesas participadas ou nas ajudas de custo.
Não perceberam que o povinho já tinha interiorizado a benesse como
fazendo parte do seu salário. Ora quem mexe no que é meu, está a
roubar-me. E Cavaco - expoente máximo do Zé povinho - foi o primeiro a
reagir indignado a tão soez indignidade governativa. Agora vem a
oposição aproveitar-se desta enorme argolada para "aparecer"
anunciando que talvez já não apoie o orçamento pela indignidade contra
o povo que ele contém.
Tudo isto é ridiculo e risivel visto lá de fora numa
altura em que precisamos de mostrar aos estrangeiros, de quem
dependemos para ir ao supermercado e para receber o dinheiro para
pagarmos as nossas despesas pessoais, que somos pessoas de bem e que -
ao contrário dos gregos - tencionamos portar-nos na linha e pagar tudo
o que já devemos e ainda o que iremos dever no futuro, nem que seja no
ano 2099.
Preocupemo-nos com o que alemães, franceses e outros vão
decidir amanhã e na próxima quarta-feira que nos afectará
decisivamente nas nossas vidas e não nos preocupemos tanto se não
pudermos comprar mais uma boneca ou um carrinho a pilhas para pôr na
árvore de Natal dos nossos filhos. Não nos esqueçamos que já em 1975 o
Vasco Gonçalves (o da muralha de aço) nos levou o subsidio de Natal e
ninguem morreu por causa disso.

ALBINO ZEFERINO em 22/10/2011 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

AFINAL O QUE QUEREM OS SINDICATOS?

Finalmente parece que o ministro Santos Pereira acordou.
A prova é a desesperada reacção dos Carvalhos da Silva desta terra.
Mas afinal o que é que eles pretendem? Pegar fogo ao país como os
gregos estão fazendo? Ainda não perceberam que não há alternativas, ou
em desespero de causa preferem a politica da terra queimada? Por menos
do que isto se iniciaram revoluções que transformaram o mundo e de
onde ninguem saiu a ganhar. E o que pretende Cavaco? Juntar-se aos
sindicalistas para ver se arranca um terceiro mandato com o apoio
deles?
No meio de toda esta desgraça para onde os Sócrates,
Mexias, Barrosos, Guterres, Cavacos, Soares, Santanas e demais
vigaristas nos empurraram, temos a sorte de ter os gregos que nos
alumiam o caminho. Mas os nossos sindicatos desesperados com a perda
dos "direitos garantidos" e das "amplas liberdades" conquistadas
parece estarem determinados em nos desgraçar definitivamente. E ainda
por cima com o apoio do grande Cavaco salvador da Humanidade lusa das
garras do comunismo feroz. Se não fosse real, parecia uma história de
Kafka.
Regressado de Espanha onde fui ver como paravam as modas
para aqueles lados, verifiquei com espanto como toda a sociedade
espanhola se está unindo em torno do designio de fugir do centro do
furacão que engole todos os que dele se aproximam, como nós fizemos.
Os sindicatos deles estão unidos, não para reclamar mais salários ou
menos sacrificios para o povinho, mas para alertar as gentes para os
riscos que a Espanha corre se não alinhar incondicionalmente com a
Europa na defesa do euro e da integração europeia.
No meio desta enorme confusão que nos atinge a todos não
devemos perder o norte levados por contos do vigário que os
chicos-espertos desta terra nos querem contar, mas sim apoiar aqueles
que honestamente (pela primeira vez desde há 37 anos) procuram
ajudar-nos a sair deste buraco escuro e profundo onde nos fizeram
cair. Saibamos com coragem e determinação separar o trigo do joio e
lutar por um mundo melhor e mais sério que nos leve por caminhos
rectos e honestos, solidários uns com os outros e com aqueles de quem
dependemos para sobreviver neste conturbado inicio de século que ainda
não sabemos para onde nos vai conduzir.

ALBINO ZEFERINO em 20/10/2011

domingo, 9 de outubro de 2011

FINALMENTE HÁ LUAR

Finalmente há luar. Finalmente e felizmente, como dizia o
Sttau Monteiro. Depois de semanas e semanas de duvidas sobre a
capacidade e a determinação do governo em nos fazer sair do buraco
onde xuxas e correlativos nos meteram, começaram a surgir sinais de
que efectivamente existe uma estratégia coerente por detrás das
pesadas medidas de austeridade que nos estão a ser impostas. A
bandalheira a que o país chegou, fruto dos desmandos socialistas e dos
seus compagnons de route, parece tão institucionalizada que confunde
os melhores espiritos. Após trinta e tantos anos de confusionismo já
parece natural que fulano de tal, por ser membro desta ou daquela
organização, ou por ter ou não ter determinada caracteristica, tenha
determinados privilégios que outros não podem ter. E assim por diante.
A detenção de certos privilégios determina a concessão automática de
outros e assim sucessivamemte. Exemplo: Por ser antigo membro do
governo, fulano de tal foi nomeado administrador por parte do Estado
para determinada empresa publica, com o inerente salário principesco e
as mordomias associadas. Outro exemplo: Por ser trabalhador da EDP,
está isento do pagamento da factura da electricidade. Outro: Por
trabalhar na TAP, ele e a familia podem viajar de graça nos aviões da
companhia. Ainda outro: Por ser juiz ou magistrado são-lhe permitidos
incumprimentos à lei que a outros determinam punição severa. Outro
ainda: Por ser funcionário publico tem direito a ajudas de custo nem
que seja para acompanhar o chefe à borla. Ou outro ainda: Por fazer
parte do agregado familiar dum beneficiário da ADSE, tambem beneficia
dessa assistencia publica sem que tenha contribuido com quaisquer
descontos para ela. Um ultimo exemplo: Por muito óbvia que tenha sido
a autoria de determinado crime, todo o arguido é presumido inocente
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória (que pode durar
anos sem fim até à prescrição do próprio crime).
Todos estes entorses ao principio da igualdade perante a
lei são pacificamente aceites por toda a sociedade porque as pessoas
foram pura e simplesmente anestesiadas na sua capacidade de
julgamento. Dir-se-á que estas práticas já vinham de trás, de regimes
anteriores a este, que fazem parte da idiosincrasia portuguesa, que
viver de outra forma não é viver à portuguesa, que temos o fado e a
lamechice, que não conseguimos viver sem a cunha e a empenhoca, que
somos naturalmente sabujos e subservientes, numa palavra, que é assim
que estamos habituados e gostamos de viver. Esquecemo-nos porém de que
estes debochados procedimentos custam dinheiro ao Estado e aos outros.
Os privilégios, pelo facto de o serem, constituem um acréscimo aos
custos da acção em causa. Exemplo: Viajar de borla, receber ajudas de
custo sem justificação económica, ser tratado de graça sem ter
contribuido para o sistema, não pagar impostos porque se é
desgraçadinho, receber subsidios de sobrevivencia sem ter descontado
para isso, beneficiar da taxa social unica só porque se tem patrão,
etc. etc. Todos estes beneficios que não são pagos pelos respectivos
beneficiários são suportados pelo erário publico, quer dizer, pelos
impostos que os outros pagam. Ora chegou-se a um ponto onde o Estado
não tem mais capacidade para suportar estas iniquidades. E aqui é que
a porca torce o rabo.
Enquanto o governo não disser claramente estas verdades,
a malta dos sindicatos e quejandos (os vadios profissionais) fingirá
não perceber, limitando-se a proferir umas vagas palavras de ordem
numas descidas de rua ao fim da tarde, ameaçando com acções mais
violentas no futuro, eventualmente perturbadoras da ordem publica. Mas
à medida que o povão vai percebendo que chegou o momento de viragem
decisivo sem o qual deixaremos de existir como país independente e
civilizado, a malta da esquerda (Carvalho da Silva, Mário Nogueira,
Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã, Luis Fazenda, Manuel Alegre, Ferro
Rodrigues, Ana Gomes, etc.) começará a estrebuchar receando o fim do
deboche institucional. Já faltou mais para os vermos a apoiar as
"corajosas medidas" do legitimo governo da Nação que irão contribuir
para a manutenção dos direitos dos trabalhadores e dos pequenos
empresários (os grandes não interessam, são uns miseráveis
exploradores do povo trabalhador).
Santos Pereira demorou a aparecer, mas quando o fez foi
em grande. Será com o dinheiro poupado com a supressão destes
privilégios iniquos que o governo irá montar o projecto
desenvolvementista que fará Portugal sair desta enorme crise em que
mergulhou. Mas não bastam as medidas de Santos Pereira. Há que ter
coragem para desmantelar a dispendiosissima RTP e as outras empresas
publicas que só servem para fazer perpetuar a economia de
subsidiodependencia em que vivemos. Haja coragem!

ALBINO ZEFERINO
em 9/10/2011

sábado, 8 de outubro de 2011

A FEIRA DAS VAIDADES

O Paulinho das feiras foi este ano à Feira das Vaidades
disfarçado de ministro. Lá partiu para os Estates com livros de
estante na bagagem para se avistar nos famosos encontros informais (o
Plenário da Feira não tem graça nenhuma) com as altas personalidades
que governam o mundo. Até mandou fazer um fatinho de marujo para as
reuniões com bolsos à inglesa como ele gosta. Pena é que o alfaiate
não seja grande espingarda mas aos poucos e poucos a coisa lá vai. Na
primeira reunião informal conheceu os seus homólogos da Namibia, do
Panamá, do Uruguai, do Nauru (ilha do Pacifico com 21 km2 e 10 mil
habitantes), da Geórgia, da Jordania, da Indonesia, da Tunisia, do
Senegal, do Zimbabue e ainda da Liga árabe. Tudo gente do melhor.
Inteligentes, influentes, conhecedores das tramoias americanas e
sobretudo pedintes de Portugal que, como membro rotativo do Conselho
de Segurança das Nações Unidas, beneficia este ano duma aparente
influencia nas coisas do mundo. Paulinho está exultante. Não podia ter
escolhido melhor momento para ser ministro dos Negócios Estrangeiros.
Portugal pertence temporariamente ao clube restrito onde
se tomam as decisóes que contam. Paulinho das feiras não perde a sua
oportunidade de aparecer no recreio dos grandes e lança o seu mote
relativamente ao tema quente do momento, o PPMO: "Nada contra a
Palestina, tudo por Israel". Sem imaginação, sem verve, numa palavra
sem glamour, os dirigentes mundiais exultam com esta mostra de
vivacidade e de abertura de espírito que a oca frase de Paulinho
encerra. Do ingles Hague à americana Hillary, todos querem conhecer o
genial autor da maior banalidade politica do ano. Paulinho, orgulhoso,
faz esperar o ingles enquanto fuma o seu cigarrito nas escadas de
serviço do edifício da Feira, mas desloca-se a Washington de propósito
para beijar Hillary diante das camaras. Afinal os Estados Unidos não
são a terra do espectáculo?
De volta aos encontros informais nova-yorquinos, Paulinho
encontra-se com o seu homólogo marroquino no cubiculo feito de biombos
cinzentos destinado a Portugal, a quem se vangloria do surf que fez em
Essaouira. Para ele, fazer diplomacia multilateral é cosmopolitismo,
sentido de humor, boas frases. Noutro registo, Paulinho sai para a rua
espigando o passo em direcção à grande sala da Feira onde vai botar
faladura, lançando impante aos seus adjuntos: "Let´s go!". Portugal
vai assegurar em novembro a presidencia mensal do Conselho de
Segurança o que torna Lisboa diplomaticamente sexy, acrescenta
Paulinho das feiras à sua gente. Na primeira passadeira é barrado pela
policia, não pode cruzar a 1ª Avenida e fica com os demais a ver
passar os carros pretos da delegação de Obama. Vislumbrando atras de
si, Yglesias, o uruguaio secretário-geral ibero-americano, logo
aproveita para uma bilateralzinha com ele, entre os peões que esperam
que o seu Presidente acabe de passar. Despachado o uruguaio, Paulinho
olha em volta enquanto espera a autorização da policia para atravessar
a rua e constata que não lhe falta com quem reunir nesta diplomacia de
passadeira - ao seu lado está Xanana, um pouco mais longe o MNE
angolano e acolá o homólogo checo. Até Ashton, a MNE europeia, tambem
ficou retida uns passos à frente de Paulinho. Mas esta faz que não o
vê, não vá o portugues impingir-lhe mais um lugar de embaixador da UE.
Chegado à magna sala da Assembleia, Paulinho constata
pelo xeique Abdullah, MNE dos Emiratos, que o discurso de Obama não
esteve à altura da situação nem do aparato. "Uma frustração!" desabafa
o enérgico xeique. Pelo contrário, o discurso de Sarkozy provoca
entusiasmo na sala." O homem pôs-se nos tacões", ouve-se nos
corredores. "Arranjem-me o discurso dele", pede Paulinho irritado aos
seus assessores, enquanto sai da sala para a recepção oferecida pelo
Presidente dos Estados Unidos. "Vou bem?" pergunta aos assessores.
Antes do regresso, Paulinho não dispensa uma visita ao
"Ground Zero" em cujo entorno pretende dar uma entrevista à numerosa
imprensa portuguesa presente em Nova Yorque. Porém a coisa corre mal.
Não tendo ninguem pensado na necessidade de pedir um passe de acesso
ao local, Paulinho nem sequer consegue ver o memorial de perto. Vê-o a
partir do vizinho World Financial Center, preparando-se para falar
dali aos jornalistas. Mas o aparato alerta os seguranças. "We have a
situation". Não pode falar aí. Nem à porta. Nem uns metros à frente.
Por fim, fala com vista para a marina. Dizer que está no "Ground Zero"
é um exagero.

ALBINO ZEFERINO em 8/10/2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

NOVA CARTA ABERTA AO SENHOR MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

Excelência

Lá estou eu a incomodar V.Ex.ª com as minhas reflexões
sobre a acção de V.Ex.ª à testa desse importante e indispensável
instrumento da politica externa de Portugal que é o MNE. É que tendo
eu tido a subida honra de ter sido correspondente diplomático
acreditado junto do ministério que V.Ex.ª hoje feliz e competentemente
dirige, acho-me na obrigação patriotica de disponibilizar a V.Ex.ª as
reflexões que constantemente me assaltam acerca da gestão dessa
dificil e melindrosa pasta ministerial.
Sobre o momentoso problema da diplomacia económica,
permito-me remeter V.Ex.ª para anteriores reflexões já lançadas neste
modesto blog. Dispenso-me assim de ulteriores comentários sobre este
tema, que só serviriam para me repetir e incomodar V.Ex.ª
escusadamente. Aguardemos as esclarecidas decisões que o governo a que
V.Ex.ª pertence tomará a respeito do memorando dos tres ministros,
antes de nos debruçarmos de novo sobre tão importante e melindroso
sector da actividade externa do Estado.
Quanto às orientações sobre as prioridades da nossa
politica externa, mais de 100 dias passados sobre a posse de V.Ex.ª
como timoneiro dessa velha nau que perguiçosamente se vem arrastando
desde há séculos através dos sucessivos regimes politicos e dos
diversos governos que o nosso país tem experimentado, não tenho
infelizmente vislumbrado quaisquer alterações à forma rotineira e
cansada como o ilustre antecessor de V.Ex.ª conduziu essa nau no
esteio aliás do seu (dele) mentor e mestre, o Grande Gama (não o Vasco
mas o Jaime). Tirando as visitas relampago que V.Ex.ª efectuou a
Angola e ao Brasil e depois à Libia, levado por motivos
circunstanciais (qual pirilampo falante) não vislumbrei ainda uma
qualquer marca distintiva do modo como V.Ex.ª pretende governar o MNE.
Para observadores maldosos até pareceria que V.Ex.ª não sabe ainda bem
para onde virar-se, afogado no pantano onde entrou e enredado nas
teias dos interesses contraditórios que o envolveram.
Muitos se interrogam sobre quando, como e se V.Ex.ª
sempre fará a anunciada (pelo seu prudente antecessor) reestruturação
de postos diplomáticos. Será às pingas como a recente e
incompreensivel decisão de encerrar o consulado em Frankfurt? Porquê
Frankfurt e não Hamburgo? Porque não Stuttgart ou Dusseldorf? Não foi
já dito por V.Ex.ª que a reforma consular já tinha sido feita pelo seu
antecessor? E as Embaixadas? Quais são as importantes para nós?
Madrid? Berlim? Ou serão Londres e o Vaticano? E Paris com um milhão
de portugueses residentes em França? E as multilaterais? Ouvi dizer
que o representante portugues na ONU (que discretamente vem
assegurando a nossa festejada presença no Conselho de Segurança)
deseja mudar-se para Roma em fevereiro próximo, a meio do mandato!
Será verdade? Ou que o representante na NATO em Bruxelas vai ser
substituido um ano depois de tomar posse por um correlegeionário seu
(que nem é diplomata) só porque foi secretário de Estado da Defesa do
Severiano e é preciso castigá-lo por isso? E o homem da REPER? Tem
estado à altura? Muito me surpreenderia se assim fosse nesta
conjuntura.
E na frente interna? Sempre será a Martinha a nova
secretária geral? Como sinal dos tempos, não está mal visto. Mas como
competência, já não acho bem. É confusa, tem mau feitio, é impulsiva e
não sabe mandar nem dar-se ao respeito. Como DGA e DGAM foi péssima e
no Cavaco foi corrida por má figura. Parece que só acertou com o Braga
quando foi chefe de gabinete dele. Mas nessa altura as Finanças mais
pareciam um manicómio. Talvez com V.Ex.ª, que é um diplomata nato, ela
seja diferente. Inch Alá! como dizem os nossos irmãos da Palestina. E
o Barroso ficará contente certamente. E a compressão das estruturas do
MNE? Ficamo-nos pelos rios e pela comissão nacional da UNESCO? E a
DGATE para que serve?
Dizem-me tambem que não há promoções, nem colocações
desde que o seu antecessor (num inesperado acto de fé na salvação do
défice) decidiu de rompante congelar as ditas. Até quando? Não saberá
V.Ex.ª que sem fazer rolar a máquina (mesmo devagarinho) o comboio
pára? E fazê-lo depois arrancar é o cabo dos trabalhos. Não terá quem
o ajude a empurrar a composição e sózinho (mesmo tratando-se do Golias
que V. Ex.ª é) não acredito que conseguisse fazer mexer o comboio. Eu
no seu caso aproveitaria para fazer uns cortes nos quadros do pessoal
usando as vagas que entretanto surgiram com esta paragem. Ficava bem
perante o PM, perante os eleitores e perante a troika e criaria uma
imagem de "cleaner" que atemorizaria os diplomatas. Vai ver que o
conselho é de amigo. Experimente V.Ex.ª e depois diga-me.
Quanto ao fecho de Embaixadas, comece pelas dos países que
se estão borrifando para nós e dos quais não esperamos nada. Vai ver
que terá muito por onde escolher. Veja como fizeram os irlandeses. Não
é preciso inventar nada na politica. Mas disso está V.Ex.ª muito mais
ciente do que eu.
Cumprimento V.Ex.ª com o maior respeito e consideração. O seu criado

ALBINO ZEFERINO (correspondente
diplomático jubilado) em 6/1072011

domingo, 2 de outubro de 2011

DIPLOMACIA ECONOMICA OU ECONOMIA DIPLOMATICA?

Ao cabo de extenuantes 45 dias de trabalho árduo o grupo
de ex-ministros chefiados pelo inefável Braga de Macedo, mais
conhecido pelo adiantado mental, lá conseguiu produzir um papel que
parece tem 1500 páginas (leu bem, mil e quinhentas) sobre a espinhosa
questão de saber quem deve no governo ficar com a nobre tarefa de
coordenar e apoiar a massa empresarial exportadora portuguesa. Como se
os senhores exportadores estivessem ansiosamente à espera que do Braga
e Cia. alguma ideia peregrina saisse que alterasse decisivamente a
veia exportadora dos industriais lusitanos. Para onde vender o vinho,
a cortiça e os sapatos já eles sabem. Só não sabem é onde vão buscar o
dinheiro para produzir os bens que querem exportar. Aí é que está o
busilis, como dizia o outro. E infelizmente não são as cabecinhas
pensantes dos desempregados ex-ministros que vão resolver esse magno
problema.
A questão resume-se então em desempatar a luta surda
entre Passos e Portas sobre qual dos dois irá tutelar o famigerado
ICEP (que passou a AICEP desde que o malandreco do Basilio convenceu o
Sócrates que lhe tinha que pagar mais do que a um director-geral).
Pareceria óbvio a qualquer mortal que tudo o que tivesse que ver com
diplomacia (económica, cultural, sexual, ou outra qualquer) cairia na
esfera de competencia do ministro dos Negócios Estrangeiros, que para
tratar das relações externas lá está. Mas, hélas, pas au Portugal.
Como o tal ICEP (sobretudo desde que se chama AICEP) aparentemente
mexe com massas com algum significado e ainda maior desenvoltura,
entregou-se a coisa a um tipo impoluto vagamente dependente do
ministro da Economia e com ligações formais ao MNE, não fosse alguem
mais distraido levantar a questão da dependencia funcional do
organismo. Com a nova organica governamental e o desinteresse de
Santos Pereira, Passos chamou provisoriamente a si o controle da
coisa, convencido que Braga e sus muchachos lhe iriam trazer uma
solução rapida e limpa. Porem, lidas as 1500 paginas do relatório
ficamos todos na mesma. A quem entregar o AICEP? O Martins da Cruz
tinha solução para isso. Acabar com o organismo integrando as suas
funções e o seu orçamentono MNE. Porem, antes que a pusesse em
prática, Barroso apressou-se a despedir o homem, não fosse a ideia
provocar nova revolução em Portugal.
Agora só vejo um caminho. Reconhecer o óbvio e integrar o
AICEP (já sem o A e as mordomias que o acompanham) na estrutura do
MNE, dando substancia à direcção-geral criada pelo Freitas para lá por
uma irmâ correlegionaria. E seja o que Deus e Portas queiram. A bem da
coligação e do país.

ALBINO ZEFERINO em 2/10/2011

OU HÁ JUSTIÇA OU COMEM TODOS

Então prendem finalmente o ladrão (para jubilo daqueles
que ainda duvidavam da seriedade deste governo) mas libertam-no 24
horas depois? Estarão a gozar conosco? Haverá qualquer pessoa de bem
(juiz ou não) que duvide da culpa do sujeito? Creio que nem mesmo os
energumenos que nele votaram depois dele ter sido formalmente acusado
de roubo aos próprios municipes duvidam disso. Se isto não é uma
republica das bananas (como a Madeira) então parece que é. Agora que
estamos a ser escrutinados diariamente pelos estrageiros que nos
sustentam, ainda acontecem coisas destas que fazem especar um burro.
Haja vergonha na cara. Isto nem os desesperados gregos. Depois não se
admirem das austeridades. A cada um o que merece.
E não se venha dizer que foram formalismos legais (eu
diria alçapões legais criados pelo espirito mesquinho e complexado dos
nossos legisladores) que obrigaram à soltura do bicho pois, repito,
ninguem de bem tem duvidas de que se trata dum aldrabão de grande
coturno. Espero que a juiza valente (uma jovem certamente) não venha a
ser penalizada por ter tido a coragem de ordenar aquilo que a maioria
da população já desesperava por que acontecesse (excepto naturalmente
os burros de Oeiras que nele votaram).
Misturar coisas sérias que têm a ver com a dignidade das
pessoas e os principios pelos quais as suas condutas se devem reger,
com brincadeiras de crianças grandes que não tiveram brinquedos em
pequenos e agora que são grandes e poderosos se divertem à custa dos
bem intencionados que ainda pensam que a lei e a justiça estão acima
dos interesses particulares das organizações mais ou menos secretas
que se dedicam a proteger os seus membros das consequencias das
condenáveis acções que praticam, como se houvesse umas leis e uma
justiça para os eleitos e outras leis e outra justiça para as pessoas
comuns, não parece ser coisa de país que pretende mostrar não desejar
pertencer à categoria dos países párias.
A democracia não se exerce protegendo o prevaricador das
consequencias dos seus actos, seja através de alçapões legais (como a
suspensão dos efeitos das sentenças ou as prescrições de crimes) seja
através de formas espurias de ilibar os prevaricadores (como as
incompatibilidades ou as imunidades) próprias das sociedades mais
primitivas, mas deixando os agentes da justiça agir de acordo com a
sua consciencia, enquanto detentores de um poder que reside no povo e
não nos poderosos, mas responsabilizando-os em contrapartida pelas
decisões que proferem em nome de todos, pobres ou ricos, poderosos ou
humildes, santos ou pecadores. Enquanto não for expurgada a
legislação das iniquidades que lhe foram sendo introduzidas para
satisfazer interesses ocultos e por vezes inconfessaveis, não se
regenará a justiça em Portugal e consequentemente o país no seu
conjunto.
Só espero que esta corajosa decisão da juizinha valente
venha a ser rapidamente confirmada, para bem da nossa credibilidade
como Nação valente e imortal (como diz o hino).


ALBINO ZEFERINO em 1/1072011