O Paulinho das feiras foi este ano à Feira das Vaidades
disfarçado de ministro. Lá partiu para os Estates com livros de
estante na bagagem para se avistar nos famosos encontros informais (o
Plenário da Feira não tem graça nenhuma) com as altas personalidades
que governam o mundo. Até mandou fazer um fatinho de marujo para as
reuniões com bolsos à inglesa como ele gosta. Pena é que o alfaiate
não seja grande espingarda mas aos poucos e poucos a coisa lá vai. Na
primeira reunião informal conheceu os seus homólogos da Namibia, do
Panamá, do Uruguai, do Nauru (ilha do Pacifico com 21 km2 e 10 mil
habitantes), da Geórgia, da Jordania, da Indonesia, da Tunisia, do
Senegal, do Zimbabue e ainda da Liga árabe. Tudo gente do melhor.
Inteligentes, influentes, conhecedores das tramoias americanas e
sobretudo pedintes de Portugal que, como membro rotativo do Conselho
de Segurança das Nações Unidas, beneficia este ano duma aparente
influencia nas coisas do mundo. Paulinho está exultante. Não podia ter
escolhido melhor momento para ser ministro dos Negócios Estrangeiros.
Portugal pertence temporariamente ao clube restrito onde
se tomam as decisóes que contam. Paulinho das feiras não perde a sua
oportunidade de aparecer no recreio dos grandes e lança o seu mote
relativamente ao tema quente do momento, o PPMO: "Nada contra a
Palestina, tudo por Israel". Sem imaginação, sem verve, numa palavra
sem glamour, os dirigentes mundiais exultam com esta mostra de
vivacidade e de abertura de espírito que a oca frase de Paulinho
encerra. Do ingles Hague à americana Hillary, todos querem conhecer o
genial autor da maior banalidade politica do ano. Paulinho, orgulhoso,
faz esperar o ingles enquanto fuma o seu cigarrito nas escadas de
serviço do edifício da Feira, mas desloca-se a Washington de propósito
para beijar Hillary diante das camaras. Afinal os Estados Unidos não
são a terra do espectáculo?
De volta aos encontros informais nova-yorquinos, Paulinho
encontra-se com o seu homólogo marroquino no cubiculo feito de biombos
cinzentos destinado a Portugal, a quem se vangloria do surf que fez em
Essaouira. Para ele, fazer diplomacia multilateral é cosmopolitismo,
sentido de humor, boas frases. Noutro registo, Paulinho sai para a rua
espigando o passo em direcção à grande sala da Feira onde vai botar
faladura, lançando impante aos seus adjuntos: "Let´s go!". Portugal
vai assegurar em novembro a presidencia mensal do Conselho de
Segurança o que torna Lisboa diplomaticamente sexy, acrescenta
Paulinho das feiras à sua gente. Na primeira passadeira é barrado pela
policia, não pode cruzar a 1ª Avenida e fica com os demais a ver
passar os carros pretos da delegação de Obama. Vislumbrando atras de
si, Yglesias, o uruguaio secretário-geral ibero-americano, logo
aproveita para uma bilateralzinha com ele, entre os peões que esperam
que o seu Presidente acabe de passar. Despachado o uruguaio, Paulinho
olha em volta enquanto espera a autorização da policia para atravessar
a rua e constata que não lhe falta com quem reunir nesta diplomacia de
passadeira - ao seu lado está Xanana, um pouco mais longe o MNE
angolano e acolá o homólogo checo. Até Ashton, a MNE europeia, tambem
ficou retida uns passos à frente de Paulinho. Mas esta faz que não o
vê, não vá o portugues impingir-lhe mais um lugar de embaixador da UE.
Chegado à magna sala da Assembleia, Paulinho constata
pelo xeique Abdullah, MNE dos Emiratos, que o discurso de Obama não
esteve à altura da situação nem do aparato. "Uma frustração!" desabafa
o enérgico xeique. Pelo contrário, o discurso de Sarkozy provoca
entusiasmo na sala." O homem pôs-se nos tacões", ouve-se nos
corredores. "Arranjem-me o discurso dele", pede Paulinho irritado aos
seus assessores, enquanto sai da sala para a recepção oferecida pelo
Presidente dos Estados Unidos. "Vou bem?" pergunta aos assessores.
Antes do regresso, Paulinho não dispensa uma visita ao
"Ground Zero" em cujo entorno pretende dar uma entrevista à numerosa
imprensa portuguesa presente em Nova Yorque. Porém a coisa corre mal.
Não tendo ninguem pensado na necessidade de pedir um passe de acesso
ao local, Paulinho nem sequer consegue ver o memorial de perto. Vê-o a
partir do vizinho World Financial Center, preparando-se para falar
dali aos jornalistas. Mas o aparato alerta os seguranças. "We have a
situation". Não pode falar aí. Nem à porta. Nem uns metros à frente.
Por fim, fala com vista para a marina. Dizer que está no "Ground Zero"
é um exagero.
ALBINO ZEFERINO em 8/10/2011
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