quinta-feira, 6 de outubro de 2011

NOVA CARTA ABERTA AO SENHOR MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

Excelência

Lá estou eu a incomodar V.Ex.ª com as minhas reflexões
sobre a acção de V.Ex.ª à testa desse importante e indispensável
instrumento da politica externa de Portugal que é o MNE. É que tendo
eu tido a subida honra de ter sido correspondente diplomático
acreditado junto do ministério que V.Ex.ª hoje feliz e competentemente
dirige, acho-me na obrigação patriotica de disponibilizar a V.Ex.ª as
reflexões que constantemente me assaltam acerca da gestão dessa
dificil e melindrosa pasta ministerial.
Sobre o momentoso problema da diplomacia económica,
permito-me remeter V.Ex.ª para anteriores reflexões já lançadas neste
modesto blog. Dispenso-me assim de ulteriores comentários sobre este
tema, que só serviriam para me repetir e incomodar V.Ex.ª
escusadamente. Aguardemos as esclarecidas decisões que o governo a que
V.Ex.ª pertence tomará a respeito do memorando dos tres ministros,
antes de nos debruçarmos de novo sobre tão importante e melindroso
sector da actividade externa do Estado.
Quanto às orientações sobre as prioridades da nossa
politica externa, mais de 100 dias passados sobre a posse de V.Ex.ª
como timoneiro dessa velha nau que perguiçosamente se vem arrastando
desde há séculos através dos sucessivos regimes politicos e dos
diversos governos que o nosso país tem experimentado, não tenho
infelizmente vislumbrado quaisquer alterações à forma rotineira e
cansada como o ilustre antecessor de V.Ex.ª conduziu essa nau no
esteio aliás do seu (dele) mentor e mestre, o Grande Gama (não o Vasco
mas o Jaime). Tirando as visitas relampago que V.Ex.ª efectuou a
Angola e ao Brasil e depois à Libia, levado por motivos
circunstanciais (qual pirilampo falante) não vislumbrei ainda uma
qualquer marca distintiva do modo como V.Ex.ª pretende governar o MNE.
Para observadores maldosos até pareceria que V.Ex.ª não sabe ainda bem
para onde virar-se, afogado no pantano onde entrou e enredado nas
teias dos interesses contraditórios que o envolveram.
Muitos se interrogam sobre quando, como e se V.Ex.ª
sempre fará a anunciada (pelo seu prudente antecessor) reestruturação
de postos diplomáticos. Será às pingas como a recente e
incompreensivel decisão de encerrar o consulado em Frankfurt? Porquê
Frankfurt e não Hamburgo? Porque não Stuttgart ou Dusseldorf? Não foi
já dito por V.Ex.ª que a reforma consular já tinha sido feita pelo seu
antecessor? E as Embaixadas? Quais são as importantes para nós?
Madrid? Berlim? Ou serão Londres e o Vaticano? E Paris com um milhão
de portugueses residentes em França? E as multilaterais? Ouvi dizer
que o representante portugues na ONU (que discretamente vem
assegurando a nossa festejada presença no Conselho de Segurança)
deseja mudar-se para Roma em fevereiro próximo, a meio do mandato!
Será verdade? Ou que o representante na NATO em Bruxelas vai ser
substituido um ano depois de tomar posse por um correlegeionário seu
(que nem é diplomata) só porque foi secretário de Estado da Defesa do
Severiano e é preciso castigá-lo por isso? E o homem da REPER? Tem
estado à altura? Muito me surpreenderia se assim fosse nesta
conjuntura.
E na frente interna? Sempre será a Martinha a nova
secretária geral? Como sinal dos tempos, não está mal visto. Mas como
competência, já não acho bem. É confusa, tem mau feitio, é impulsiva e
não sabe mandar nem dar-se ao respeito. Como DGA e DGAM foi péssima e
no Cavaco foi corrida por má figura. Parece que só acertou com o Braga
quando foi chefe de gabinete dele. Mas nessa altura as Finanças mais
pareciam um manicómio. Talvez com V.Ex.ª, que é um diplomata nato, ela
seja diferente. Inch Alá! como dizem os nossos irmãos da Palestina. E
o Barroso ficará contente certamente. E a compressão das estruturas do
MNE? Ficamo-nos pelos rios e pela comissão nacional da UNESCO? E a
DGATE para que serve?
Dizem-me tambem que não há promoções, nem colocações
desde que o seu antecessor (num inesperado acto de fé na salvação do
défice) decidiu de rompante congelar as ditas. Até quando? Não saberá
V.Ex.ª que sem fazer rolar a máquina (mesmo devagarinho) o comboio
pára? E fazê-lo depois arrancar é o cabo dos trabalhos. Não terá quem
o ajude a empurrar a composição e sózinho (mesmo tratando-se do Golias
que V. Ex.ª é) não acredito que conseguisse fazer mexer o comboio. Eu
no seu caso aproveitaria para fazer uns cortes nos quadros do pessoal
usando as vagas que entretanto surgiram com esta paragem. Ficava bem
perante o PM, perante os eleitores e perante a troika e criaria uma
imagem de "cleaner" que atemorizaria os diplomatas. Vai ver que o
conselho é de amigo. Experimente V.Ex.ª e depois diga-me.
Quanto ao fecho de Embaixadas, comece pelas dos países que
se estão borrifando para nós e dos quais não esperamos nada. Vai ver
que terá muito por onde escolher. Veja como fizeram os irlandeses. Não
é preciso inventar nada na politica. Mas disso está V.Ex.ª muito mais
ciente do que eu.
Cumprimento V.Ex.ª com o maior respeito e consideração. O seu criado

ALBINO ZEFERINO (correspondente
diplomático jubilado) em 6/1072011

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