segunda-feira, 24 de outubro de 2011

NOVISSIMA CARTA ABERTA A SUA EXCELÊNCIA O MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

Excelência


Cá venho eu de novo incomodar V.Ex.ª com palpites sobre o
Ministério e a melhor forma de lidar com esse grupo selecto e
privativo de altos funcionários postos à disposição de V.Ex.ª para o
assessorar na nobre tarefa de representar o Estado portugues (ainda
será?) no estrangeiro. Entre Secretários e Conselheiros, mais
Ministros e Embaixadores contará V.Ex.ª para cima de 400 almas
dispostas a sacrificar as suas vidas pelo bem do país e das tarefas
que V.Ex.ª lhes confira.
Pelas minhas contas estão já, ou ficarão vagas até ao fim
do 1º trimestre do próximo ano, 19 chefias de Missões diplomáticas
permanentes. Em cerca de 60 existentes é praticamente1/3 da totalidade
de Embaixadas de Portugal que V.Ex.ª terá que prover a curto prazo.
Admitindo que dessas 19 V.Ex.ª decide encerrar metade por razões
economicas (não têm que ser todas as que estão vagas naturalmente)
ficará V.Ex.ª com cerca de 10 ministros e embaixadores a mais. Porque
não suprimir essas vagas? Seria a meu ver uma medida sensata que
reduziria o numero de chefias no quadro diplomático e permitiria que
este voltasse à primitiva forma da piramide.
Outra medida que me pareceria adequada aos tempos que
correm poderia ser a negociação com os espanhois de Embaixadas comuns
como fazem por exemplo os nórdicos (em Berlim, Suécia, Noruega e
Dinamarca têm uma Embaixada comum). Em países onde Portugal não tem
Embaixada seria certamente muito útil ter lá diplomatas portugueses. E
vice-versa, como por exemplo, em S.Tomé, em Bissau ou em Dili,
poderiamos aumentar as nossas Embaixadas com um par de diplomatas
espanhois em cada uma, sem custo para o erário publico.
Tal como se fez em Lisboa acabando com as chefias
administrativas (Chefes de Repartição e de Secção) poder-se-ia com
vantagem (não só económica) substituir os Vice-consules nas Embaixadas
e nos Consulados por Secretários de Embaixada (ou Consules-adjuntos)
como fazem os ingleses. Dava-se mais que fazer aos jovens diplomatas
que ficariam assim mais bem preparados e diminuia-se a perniciosa
influencia do sindicato dos contratados locais que só serve para
convocar greves reivindicativas por vezes contra os interesses dos
trabalhadores.
Como V. Ex.ª pode constatar ideias não me faltam que não
são sequer originais mas que retirei da minha memória de 37 anos de
serviço activo como atento observador dos costumes alheios, sempre com
a recta intenção de as pôr exclusivamente ao serviço da Republica, que
servi com muita honra como correspondente diplomático.
Queira V.Ex.ª aceitar os mais respeitosos cumprimentos do
seu atento e venerador criado

ALBINO ZEFERINO -
correspondente diplomático aposentado

23/10/2011

1 comentário:

  1. Eu cá por mim não mandava mais cartas ao Ministro. O gajo não sabe ler.

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