Cansado da austeridade que a presente crise lhe
tem imposto, o povo portugues pergunta-se, cada vez com mais
veemência, quando acabará esta maldita crise que lhe consome a alma, o
espírito e ainda os poucos patacos que os portugas amealharam com
sacrificio. Em principio estava previsto que acabaria no final do
programa de ajuda financeira que nos está a ser aplicado pela famosa
troika de que tanto se fala, lá para finais do próximo ano. Mas dadas
as reacções (incompreensivelmente inesperadas por parte da população
em geral) já há quem defenda a necessidade de novo plano de resgate
para nos pôr em condições de regressar aos mercados. É que as medidas
inicialmente previstas no actual plano não têm sido integralmente
cumpridas, o que irá forçar a tomada de medidas ainda mais drásticas a
fim de erradicar de vez este espantalho que nos impede de normalizar
as nossas vidas.
A coisa porém não é simples, antes parecendo, pelo
contrário, configurar uma situação a que os americanos chamam de
"catch 22", ou seja em portugues vernáculo, preso por ter cão e preso
por não ter. Explico-me. Sem que se tenham efectuado as reformas
estruturais no tecido económico e social portugues, não será possivel
diminuir a despesa publica necessária para se atingirem os valores do
deficit orçamental e da dívida publica previstos no tratado de
Schengen, ao qual orgulhosamente aderimos há mais de 15 anos. As ditas
reformas só serão efectivamente possiveis de realizar se 2/3 dos
deputados da Assembleia da Republica estiverem de acordo com elas e
com a forma de as fazer. Como o actual governo não possui 2/3 dos 230
deputados e os restantes partidos insistem em se opôr às tais reformas
(espantosamente até o partido socialista, que não só negociou a
entrada de Portugal em Schengen, como pediu formalmente a ajuda da
troika) não será possivel sair sem dor deste imbróglio.
O que poderá ocorrer então? Cá para mim uma de
duas coisas, ambas terriveis, que irão dar cabo de vez deste jardim à
beira mar plantado. Ou o presidente dissolve a Assembleia depois de
verificada uma irregularidade no funcionamento das instituições (a ele
competirá fazer essa avaliação) e convoca eleições legislativas
antecipadas, das quais resultará uma vitória do PS que aliado ao BE
formará um governo que tentará renegociar um novo programa de ajuda
com a troika mas sem as condicionantes reformadoras do actual, o que a
mim me parece impossivel de conseguir, pois sem as reformas feitas não
virão mais ajudas; Ou as reacções populares às actuais medidas
previstas no projecto de orçamento do Estado para 2013 serão de tal
maneira violentas, que provocarão uma reacção contra-revolucionária
que fará interromper de imediato as ajudas financeiras internacionais
que nos têm feito viver até agora. Qualquer destes cenários
determinará uma suspensão da ajuda financeira da troika e uma eventual
saída de Portugal do euro (e da UE), lançando-nos numa anarquia social
que nos fará recuar dezenas de anos no nosso estatuto civilizacional e
nos colocará à mercê de grupos de pressão menos escrupulosos (veja-se
o caso da Guiné-Bissau) ou de países que nos queiram usar como
lixeiras ou modelos de experimentações.
ALBINO ZEFERINO
28/10/2012
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