domingo, 17 de março de 2013


                                                              A HORA DA VERDADE

               Com a constatação generalizada do insucesso da politica de austeridade prosseguida até agora pelo governo, torna-se necessário mudar de rumo num sentido mais conforme com as críticas à austeridade que se manifestam de todos os lados e que já chegaram até Bruxelas e a Washington. A ausência de medidas tendentes a melhorar a anémica economia portuguesa e a incapacidade governativa em reformar efectivamente a máquina administrativa do Estado vão forçar o governo a remodelar-se finalmente. Não poderá ser uma simples mudança de nomes ou de caras, mas terá que reflectir uma adequação de novas personalidades a uma nova estratégia governativa.
               O panorama partidário portugues está esgotado ao fim de quase 40 anos de exercicio e as pessoas já não se revêm nas actuais alternativas partidárias que lhes são oferecidas. Disso são prova as constantes sondagens de opinião com que quase semanalmente os confusos jornalistas portugueses bombardeiam os pobres portugas e que insistentemente apontam para empates eleitorais. Portugal é um país empatado à procura de vitórias para não baixar de divisão. À esquerda temos o PS que pretende representar o Zé Povinho ignorante e labrego, suburbano e aculturado e à direita está o PSD representando a outra grande faixa do eleitorado mais provinciana e mesquinha, mais manhosa e igualmente inculta. É a malta da sueca. Nas extremidades de cada uma destas duas grandes formações estão o Bloco de Esquerda representando os intelectuais da esquerda, a malta da cultura popular e dos subsidios, das alternativas alternantes e da esquerda caviar. Do outro lado está o Partido Popular, ex-CDS, monárquico, exclusivo, beto, mas tambem defensor das causas perdidas e popularucho. Para além destas opções (venha o diabo e escolha!) subsiste (como reminiscência do passado) o PC vernáculo, operário, contestatário e sindicalista. É a malta da outra banda, dos bairros populares, da luta pela luta, do "não passarão" e das dinamizações.
               Para quem já não se lembre, o PS representava antigamente o reviralho não comunista, tolerado pela PIDE pois não constituia perigo para o regime, ao contrário do PC (que vivia na clandestinidade) e que esse sim incomodava, com atentados, golpes e propaganda subversiva. Depois veio o PSD (primeiro chamou-se Partido popular democrático) que reunia marcelistas descontentes e desiludidos do regime anterior e finalmente o CDS (por insistencia de Melo Antunes que empurrou Freitas para a cabeça do unico partido da direita legitimado pelo MFA mas que se reclamava do centro...). O Bloco foi uma criação pós-CEE para aglutinar a malta da extrema-esquerda que não se uniu aos grandes partidos (unicos que davam empregos). Assim está antropologicamente dividida a malta que se reclama portuguesa. Será que 40 anos passados esta malta ainda se revê nestas agremiações? Não creio. O povo portugues cresceu, cultivou-se, viajou, aprendeu linguas, comparou e tirou conclusões. Não todos é certo mas grande parte deles. Sobretudo os mais jovens que aproveitaram abundantemente a unica politica cultural comunitária de sucesso que ficou conhecida pelo Erasmus. As divisões ideológicas já não se fazem da forma antropológica atrás referida. Há malta que votava antes à esquerda e que defende politicas consideradas hoje de direita (redução do poder do Estado na educação por exemplo). E vice-versa. Há malta que votava à direita e hoje defende que o liberalismo do Estado não é incompativel com uma politica macissa de investimento publico.
               O que irá acontecer ao espectro politico de Portugal? Não sei. Sei que Presidente, partidos e demais actores politicos da nossa praça devem estar atentos a estas alterações antropológicas na sociedade portuguesa. A próxima remodelação ministerial deverá, a meu ver, reflectir este fenómeno sob pena do povo portugues não se sentir representado nas instituições onde votou e nas pessoas em quem votou.

                                                 ALBINO ZEFERINO                                 17/3/2013
               
               
             

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