domingo, 31 de março de 2013

AS TRES FASES DO REGIME


          Passados quase 40 anos sobre a instauração do regime politico iniciado em 25 de abril de 1974, podemos hoje dividir esse período da nossa recente história politica em tres partes distintas, com distintos protagonistas. Um primeiro período correspondente à queda brusca e revolucionária do regime chamado salazarista, que durou 48 anos, para dar lugar a uma situação confusa que se caracterizou por uma abertura completa e descontrolada do sistema, transformando o país numa festa permanente de libertação de mentalidades e de constrangimentos socio-económicos que ficou conhecido pela revolução dos cravos. Foi a liberalização dos partidos politicos, a ocupação das empresas e das propriedades dos chamados fascistas e a sua subsequente nacionalização, a libertação dos presos políticos, a criação dos sindicatos esquerdistas, a promoção da auto-gestão, a criação da economia popular, as nacionalizações da banca e dos seguros, enfim, a mudança radical das mentalidades resultante das alterações forçadas dos costumes e da moral das pessoas. O regresso a Portugal dos retornados das colónias, entretanto entregues aos que as reclamavam, foi tambem um momento relevante neste conturbado período revolucionário que muito contribuiu para a confusão social instalada.
          Aproveitando-se da anarquia politico-social vigente, o partido comunista legalizado iniciou um processo (que ficou conhecido pelo PREC - processo revolucionário em curso) tendente a substituir as estruturas salazaristas por estruturas marxistas-leninistas importadas e orientadas por Moscovo, que conduziriam à instalação de um regime comunista em Portugal.  Foi a acção concertada do PS de Mário Soares com o protagonismo vitorioso da chamada ala liberal dos militares revolucionários chefiada por Ramalho Eanes que evitou aquilo que teria sido uma catástrofe para o mundo ocidental de então. CEE e EUA puseram-se detrás  de Soares e de Eanes impedindo a instalação de um regime do tipo cubano na Europa ocidental.
          Com a entrada de Portugal na então CEE, em 1986, iniciou-se o segundo período do regime do 25 de abril. Iniciadas por Mário Soares com o pedido de adesão oficial apresentado em 1977, as negociações com a CEE foram longas e dificeis, pois conviveram com uma oposição aberta do PC e da extrema-esquerda, ainda com muita influência na sociedade civil da época.  Foi porém Cavaco quem terminou as negociações e quem trouxe ao regime uma lufada de modernidade nunca imaginada pelo povo obnubilado por 48 anos de clausura politica seguidos de mais 12 de alegre rebaldaria.  Foi a época dos subsidios europeus a fundo perdido e da construcção das infra-estruturas, bem como das privatizações das empresas revolucionariamente nacionalizadas. Foi a abertura da televisão aos privados, a criação de uma nova classe social emergente, a chamada classe média, base social por excelência dos regimes democráticos, e a livre concessão generalizada de créditos bancários.
          Esta sociedade nova proporcionadora de desafogo e ávida de desenvolvimento acabou com Sócrates, paradoxalmente um dos expoentes máximos dessa nova classe social em desenvolvimento acelerado, em consequencia da crise financeira de 2008, que se reflectiu em força em Portugal em 2010 e que deu lugar a um novo período caracterizado pela intervenção financeira externa.
          Iniciou-se assim o terceiro período deste regime iniciado em 25 de abril de 1974, há quase 40 anos, que não se sabe nem como nem quando terminará. Limitado a cumprir zelosamente as determinações da troika, o actual governo de Passos Coelho ficará no poder enquanto continuar a mostrar desejo de cumprir. Mal a troika se dê conta de desfalecimento ou menor empenho governamental em cumprir o que lhe foi estabelecido (e a 7ª avaliação quase chegou a isso) o governo estará condenado e o país tramado. Por cada sobressalto que provocarmos na complexa e delicada tarefa europeia de salvar o euro e de retomar os níveis de crescimento a que os europeus se acostumaram, levaremos com mais austeridade em cima. Temos a Grécia (e agora Chipre) para nos mostrar os limites ao nosso descontentamento e as penalizações correspondentes em caso de rebeldia. Não tentemos o diabo pois ele é bem capaz de nos tramar.

                                                  ALBINO ZEFERINO                   31/3/2013
       

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