quinta-feira, 14 de março de 2013



                                         A PROLETARIZAÇÃO DA CLASSE MÉDIA


          Contrastando com o período chamado cavaquista (onde começou a surgir uma classe social até então inexistente como tal em Portugal) a classe média portuguesa começa a proletarizar-se em consequencia da crise. O aumento incontrolado do desemprego (que já não afecta só o proletariado como dantes) aliado à redução do poder de compra resultante dos cortes salariais e da redução dos beneficios sociais, tem vindo a empurrar uma grande parte da população urbana (que antes vivia com algum desafogo proporcionado pelo credito bancário fácil) para situações próximas da miséria, que lhe retiram a sensação de conforto que o acesso fácil aos bens de consumo proporcionava, mais próprias das angustias do proletariado.
          Creio ser esta a explicação para as manifestações multitudinárias que ultimamente se têm verificado por tudo quanto é sítio e a pretexto de tudo e de nada, onde se veem senhoritas de baton e saltos altos acompanhadas por homens de charuto e engraxados a par de empedernidos sindicalistas, entoando cantigas e slogans revolucionários e frases ameaçadoras contra o governo e contra os capitalistas de opereta que actuam em Portugal. A chamada classe média que estava em ascensão em Portugal está hoje a desmoronar-se por falta de consciencia social de classe e de sustentação financeira, à qual os governos anteriores não souberam ou não quiseram dar forma definitiva e está a regressar ao passado, engrossando o rol do operariado descontente com o desmembramento sistematizado do chamado estado social, obra maior do 25 de abril, para cujo passo Portugal não teve pernas.
          Estamos assim a regredir décadas de progresso para voltar à velha dicotomia marxista da oposição entre ricos e pobres (duas classes que se definiam já não entre bem ou mal nascidos, mas entre possidentes e possidónios), odiando-se entre si e disputando as benesses governamentais sem contemplações classistas nem preocupações humanitárias. Os ingleses chamavam a isto nos principios do século XX, a oposição entre os nobs (vulgarmente tories) e os snobs (vulgarmente whigs). Foi preciso uma primeira ministra snob (mas torie) para quebar este ciclo maldito e lançar a Grã-Bretranha de novo na prosperidade. Agora os bancos estão a dar cabo de tudo e a fazer voltar a Union Jack ao principio.
          Em Portugal ocorre o mesmo. Depois de um período de depressão consequencia das indefinições do PREC, veio a explosão social com a entrada de Portugal na CEE. O dinheiro fácil fluia e a classe proletária transformava-se em classe média (média baixa para os oriundos do operariado agicola e fabril e média alta para os provenientes do funcionalismo) deixando os privilégios de classe para a nova classe alta vinda da politica e dos negócios "complicados". Os originários das antigas classes altas (os aristocratas) engrossavam a crescente classe média (alta ou baixa consoante os rendimentos de que dispunham) e só as grandes familias (Mello, Champalimaud, Espirito Santo) se mantinham no topo da escala social compartindo riquezas e negócios com os novos-ricos do regime (Amorim. Belmiro,Jorge Jardim).
         Tudo isto a crise está pondo em causa. Como terminará não sei. Nem quando. Só sei é que quanto mais tarde acabar, mais mudanças sociais trará. Se os ricos (e quais deles) deixam de o ser e se os pobres (e quais deles) passam a ser ricos não sei. Só sei é que grandes mudanças se estão produzindo em Portugal, com consequencias dramáticas para muita gente e com sorte para alguns (como sempre ocorre nas mudanças). Esperemos conseguir sair da tempestade sem nos molharmos muito e sem constipações que nos levem à morte. Para isso há que cuidar-se muito. Dizia-se antes para os infectados com o virus da gripe: abafe-se, abife-se e avinhe-se. Quem avisa bom amigo é.

                                                     ALBINO ZEFERINO                           14/3/2013
       

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