sexta-feira, 22 de março de 2013


                                                                     AS VÉSPERAS

           Para os católicos vai entrar-se na semana maior do ano. A Semana Santa que celebra a morte violenta de Cristo que deu a Sua vida pelos Homens pecadores. Habitualmente considerado um período de reflexão pelos católicos de todo o mundo, onde a Igreja convida todos a fazerem o seu exame de consciencia anual, a chamada semana da Páscoa serve para muitos apenas como mais um período de descanso onde as rotinas são quebradas e as familias se reunem.
          Neste momento de indefinição do nosso futuro colectivo, muitos portugueses se interrogam acerca do caminho que o país está a levar, depois de dois anos de esperanças frustradas e de aumento de sacrificios pessoais, que noutros lugares já teria sido motivo para revoltas violentas. Será que chegamos ao limite da nossa proverbial paciencia colectiva ou estaremos conformados a uma vida de privações e de renuncias sem fim à vista nem compensações redentoras?
         Há quem fale em eleições antecipadas como solução para este impasse em que caimos. Mas será assim? Será que uma simples mudança de orientação governativa irá convencer os nossos credores de que estamos redimidos e prontos a cumprir zelosamente com as nossas obrigações? Não creio. Julgo que bem pelo contrário uma interrupção do normal período legislativo iria transmitir aos nossos parceiros o fim da nossa determinação em cumprir com o estabelecido no programa que fixamos com os nossos credores, lançando o país para uma espiral recessiva donde dificilmente sairiamos sem sacrificios ainda mais penosos e de consequencias ainda mais imprevisiveis. Temos, para os mais distraidos, o exemplo grego de que já pouco se fala em Portugal (mas que se tivessemos uma comunicação social séria, competente e honesta não deixaria de ser tema diário de acompanhamento como exemplo a evitar por cá) onde o desespero do povo grego é ignorado sobranceiramente por todos e já se fala até em interesses russos na região (o caso do congelamento das contas bancárias em Chipre é paradigmático).
         Um outro caminho seria o do tudo ao molho e fé em Deus. A malta dos direitos adquiridos e das amplas liberdades alcançadas, receosa de perder as benesses que conseguiu à custa do prejuizo causado aos outros, diz não haver outra solução. Para parar a investida alemã na desagregação da Europa do sul aos seus interesses inconfessáveis (acenando, sem o mencionar, com a tentativa nazi de conquista da Europa) a malta da esquerda portuguesa (e tambem espanhola, grega, italiana e francesa) pensa que este pesadelo só poderá ser travado com uma revolução internacionalista contra o invasor teutónico e os seus capangas troiquianos. Tristes líricos! Sem pensarem nas consequencias fatais que tal acto tresloucado acarretaria, só comparáveis à devastação verificada no rescaldo da 2ª guerra mundial, em 1945, esses líricos ou nos querem enganar ou não percebem nada de economia. Porque de economias de guerra se trata quando nos referimos às economias dos países intervencionados. A intervenção ocorreu porque os nossos credores se convenceram de que sozinhos não seriamos capazes de governar o país em condições de pagarmos as nossas dividas. E o que significa para eles governar bem o país? É ver-mo-nos livres dos obstáculos ao desenvolvimento que os dogmas marxistas inculcados nos espíritos simples dos portugueses e na Constituição política elaborada nos alvores do regime democrático representam.                
          Haverá quem não pense assim, mas eu perguntaria a esses tais líricos se prefeririam que continuassemos a sujeitar-nos às crescentemente elevadas taxas de juro que os mercados financeiros nos iriam cobrando para acedermos ao dinheiro emprestado necessário para pagar os exageros financeiros criados na sequência marxista do 25 de abril de 1974?  Essa seria a forma mais rápida de nos correrem da União monetária e consequentemente da União europeia, opção estruturante do nosso desenvolvimento contemporaneo, como está para acontecer com Chipre e com a Grécia se continuam a recusar a ajuda externa que a União europeia e o FMI lhes estão oferecendo, tal como a nós.
         O governo portugues tem que mostrar-se menos hesitante e mais firme na tomada de decisões que não prejudiquem uma maior integração portuguesa na federalização inescapável da Europa, por muito que isso agrida as consciencias mais nacionalistas de alguns ferrenhos velhos do Restelo (como o genial Camões os definiu). Nas vésperas de mais uma celebração do martírio de Cristo, temos a obrigação de pensar o melhor caminho que devemos percorrer para não deitarmos tudo a perder. Haja Fé!

                                     ALBINO ZEFERINO       22/3/2013

Sem comentários:

Enviar um comentário