sábado, 16 de março de 2013
A VERDADE DOS FACTOS
Terminada a 7ª avaliação da troika com resultados decepcionantes, verifica-se que a máscara está a cair. Não é já mais possivel ocultar os verdadeiros problemas deste pobre país enredado numa enorme camisa de onze varas da qual não consegue ver-se livre sem que reconheça a necessidade de voltar atrás nos exageros cometidos. O velho aforismo de que não é possivel fazerem-se omoletas sem ovos tem aqui completo cabimento, quando se verifica por A+B que não temos condições de continuar a gastar um dinheiro que não temos.
Sem produção nacional que o sustente não vai continuar a ser possivel ao Estado proporcionar ao seu povo os serviços a que este está habituado desde há quase 40 anos para cá. Sustento para todos, saúde para todos, férias para todos, transportes para todos, casa para todos, escola para todos, enfim, tudo para todos, como Marx teorizava e Lenine quis por em prática sem sucesso. Enquanto foi possivel ir pedindo dinheiro emprestado para tudo e mais alguma coisa (corrupções incluidas) sem necessidade de prestar contas aos credores (não foi Sócrates que, de Paris, nos mandou dizer que as dívidas não só são necessárias como são virtuosas?) conseguimos sobreviver desta maneira enganosa. Agora que temos fiscalização periódica sobre o destino do dinheiro que nos emprestam, conclui-se (ao fim de 7 avaliações) que o problema portugues não está só na falta de dinheiro, mas tambem na falta de capacidade para o gastar.
Tenho vindo a dizer (mais ou menos claramente) que, enquanto não assumirmos a necessidade de reestruturar este Estado perdulário e desorganizado em que Portugal se tornou, nada será possivel fazer para sairmos deste enorme buraco em que o euro nos meteu. A questão reside nisto: ou queremos continuar na zona euro com as vantagens que isso nos traz, mas à custa de grandes sacrificios colectivos (vg.abrandamento do Estado social, aumento do desemprego, adaptação de procedimentos mais rigorosos no mercado do trabalho, supressão de regalias sociais injustificadas, etc.), ou preferimos manter-nos nesta ilusão igualitária que o 25 de abril nos trouxe, anestesiados num limbo de utopia festiva colectiva e convencidos de que um país com mais de 800 anos de existência está imune ao seu desaparecimento.
Como se consegue isto dentro de um sistema democrático-parlamentar, na plenitude do gozo dos direitos e garantias individuais consignados na Constituição e em obediência aos amplos direitos individuais e colectivos que a lei portuguesa confere, não sei. Sei que chegamos a um ponto sem retorno e que algo terá que ser feito sob pena de cairmos numa situação de completo desgoverno à grega, onde tudo nos poderá acontecer, até mesmo sermos engolidos por outros, passando a ter que lhes obedecer à força, sem paninhos quentes, cantigas de amigo ou greves contestatárias.
ALBINO ZEFERINO 16/3/2013
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