quarta-feira, 22 de maio de 2013

A LUTA CONTINUA


          Depois de um período politicamente agitado com o anuncio das novas medidas de austeridade a serem lançadas pelo governo como consequencia da "douta"decisão do grupo de abantesmas que se chamam a si próprios "juizes constitucionais", o país parece retomar o seu ritmo normal de sobrevivencia, com as habituais reacções orquestradas pela centrais sindicais (agora já menos amiguinhas pela constatação comunista do "perigo" que resultaria duma coordenação comum de acções com a nova UGT) junto da horda de descontentes com os malfadados cortes nos rendimentos da generalidade da malta.
          Corte nos salários da matilha dos chamados funcionários publicos (que de funcionários têm pouco e de publicos nada) e redução dos seus efectivos pelo menos para metade, limpeza dos professores excedentários com a sua colocação no quadro dos amovíveis (um tal Nogueira, parece que professor primário, teve a lata de dizer em publico que não havia professores a mais), rectificar os abusos na concessão de reformas (quer no numero delas, quer no montante das pensões atribuidas) são, entre outras, as tarefas indispensáveis que este governo tem que executar até ao fim do periodo desta troika.  Sem isto feito não será possivel atingirmos os racios a que nos obrigamos por acordo maioritario dos 3 maiores partidos do chamado arco da governação (os outros partidos só servem para mostrar que há contraditório).
          Tudo o resto é paisagem neste quadro trágico-cómico em que vivemos.  Que os partidecos que se consideram da oposição ( o já fora de prazo PC e os líricos bem pensantes do BE) façam todo o barulho que conseguirem dentro e fora do hemiciclo, é normal. Não é normal é que membros da coligação governamental (tambem partidecos irrelevantes em termos representativos) afinem pelo mesmo diapasão, confundindo as mentes simples dos portugueses simples (que são muitos) deixando-os sem saberem o que fazer e como reagir aos sacrificios que esta situação exige a todos sem excepção. Espero que Cavaco lhes tenha puxado as orelhas bem fortemente no recente Conselho de Estado, senão não entendo para que o convocou.

                                   ALBINO ZEFERINO                           22/5/2013

terça-feira, 21 de maio de 2013

VIRA O DISCO E TOCA O MESMO


          Com a convocação do Conselho de Estado sem aparente necessidade, Cavaco quis significar ao povo que a situação portuguesa está sob seu controle, mau grado a crescente tensão social que resulta da constatação generalizada do falhanço das politicas do governo.  Não se pense - como os vários movimentos   de contestação que diariamente vão nascendo como cogumelos bravos - que é aos gritos que se resolve um problema grave que mexe com a vida da generalidade dos portugueses, sejam eles contestatários ou não.
          Enquanto não cumprirmos os minimos a que nos obrigamos, não sairemos desta maldita crise que nos afecta a todos. Sem disciplina orçamental não será possivel avançar. E não se sai duma crise voltando para trás. Estamos - mal ou bem - inseridos numa barca (a zona do euro) que navega sob mar encapelado. Para que essa barca chegue a bom porto sem naufragar é necessário que todos os seus tripulantes remem para o mesmo lado, com identica vontade de se salvar da intempérie e obedecendo às mesmas regras comuns.
          O nível de esquizofrenia política que Portugal revela é prejudicial aos nossos interesses colectivos. Não pensemos apenas em nós e nas nossas desgraças, mas antes na forma como poderemos ajudar a Europa (que é a nossa casa comum) e em particular os sócios da zona euro (de onde, quer queiramos quer não, somos parte integrante) a sair deste imbróglio. Já lá vai o tempo das opções alternativas. As opções já foram oportunamente feitas. O que há agora a fazer é cumprir com denodo as regras a que voluntaria e entusiasticamente aderimos (recordo o ambiente de vitória popular com que foi festejada, quer a entrada na CEE, quer a adesão ao euro).  E como muitos não compreenderam em devido tempo o que essas adesões significaram, temos agora nós que reparar essas falhas graves fazendo sacrificios uns pelos outros. Os ricos pelos pobres, os pobres pelo Estado social, os velhos pelos novos e os novos pelo seu futuro. O que não podemos fazer sob pena de deitarmos tudo a perder, é virarmo-nos uns contra os outros, acusando-nos mutuamente pelos males uns dos outros. Todos estamos na mesma barca, navegando na mesma rota e enfrentando igual tempestade. Se há quem se queira atirar ao mar por não aguentar os sacrificios que lhe são  exigidos, então que o faça, mas não queira arrastar os outros consigo.
         Há coisas que estão mal e que devem ser corrigidas. Para isso está lá o governo. Mas por muito esforço que nos seja pedido, não será possivel por nós próprios darmos conta do recado. Um novo quadro europeu terá que ser construido para isso. Ele já está desenhado. Trata-se da implementação de um orçamento próprio da União económica e monetária para apoio dos Estados sujeitos a choques específicos, como o nosso.  Quando a Zona Euro tiver uma capacidade financeira própria, ficará em condições de emitir dívida através de eurobonds e, por essa via, reforçar a capacidade de investimento dos orçamentos nacionais. A crise da Zona Euro já não se resolve com a correção do desequilibrio entre crescimento e consolidação. Resolve-se baixando o custo da dívida publica - através da sua mutualização - e o custo do investimento privado - através da instalação da união bancária.  Para que o modelo social europeu (que é um dos pilares da construção europeia) não soçobre, é necessário que o Estado social se modernize para responder à pressão do envelhecimento das populações, do desemprego, da competitividade, dos novos tipos de familias, da flexibilidade laboral, etc. Há que ter a coragem de cortar nas prestações sociais ao mesmo tempo que se assegura que o máximo de pessoas estarão empregadas, pois assim os contributos serão em maior numero e os cortes consequentemente serão mais pequenos.  A UEM para não acabar tem que ser rapidamente completada e alargada.  E a nossa colaboração para isso é essencial.

                           ALBINO ZEFERINO                                    21/5/2013

domingo, 19 de maio de 2013

O FECHO DA PORTA DE PORTAS


           Com a teimosia da recusa na aceitação das medidas de recurso apresentadas por Passos Coelho em Bruxelas para reduzir a despesa do Estado, Portas está a condenar o governo à sua demissão.  Parece incrivel que o destino do país esteja nas mãos de um garoto mal-criado e ambicioso, que não representa mais do que uns trocos na contabilidade eleitoral do país cujo futuro ele está a pôr em causa.  Mas a democracia não é perfeita, como dizia Churchill.  Por vezes exibe as suas debilidades da forma mais injusta.
          Dirão os apoiantes do miudo que quem provocou verdadeiramente a crise foi o maldito "tribunal" constitucional, espécie de bruxa malvada inventada pelas esquerdas para bloquear as tentativas da direita de reformar o Estado construido pelo 25 de abril,  pois foram as suas decisóes perversas que forçaram a apresentação das medidas em questão .  De facto, formalmente não deixam de ter razão, porque ninguem garante que as medidas que visam diminuir o rendimento dos reformados (que cada vez são mais e portanto cada vez mais pesam no tribunal eleitoral) não seriam liminarmente chumbadas de novo pelo tribunal maldito, provocando os mesmos estragos que a teimosia portista vai provocar.  Mas, dirão os portistas, já agora que retiremos da crise algum proveito para o CDS.
          Como quaisquer garotos arruaceiros, os portistas não se preocupam com as consequencias para a situação em que deixam o país, a meio de um plano de resgate dificil de executar e forçando Cavaco a convocar eleições que ninguem de bom senso deseja, por adivinhar que assim deixaremos imediatamente de continuar a receber o dinheiro de que precisamos para viver quotidianamente.  Desenganem-se porém os portistas de que algo de bom virá para o CDS.  Mesmo que o PS ganhe as eleições e escolha o CDS como parceiro para poder formar maioria, nem a troika nem Cavaco os deixarão os dois à solta. Ou obrigarão a uma maioria governativa suficientemente ampla que permita ultrapassar de vez os obstáculos constitucionais, ou instalarão um regime de excepção do género daquele que Ferreira Leite prenunciava.  Deixar que um país insignificante como o nosso ponha em causa o futuro da União Europeia e do seu euro é que estará certamente fora de questão para os alemães e seus aliados.
          Pensem maduramente, senhores portistas, antes de provocarem um tsunami que os levará na enxurrada com o resto do país, antes de pensarem na vossa sobrevivencia como organização politica autónoma.  Mais vale continuarem ministros e deputados, com mordomias e televisão à disposição, do que serem politicos na reforma, com demasiada idade para encontrar novo emprego e ainda muito novos para ficarem todo o dia em casa de chinelos a ver televisão.

                                          ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático aposentado)   19/5/2013
         

quinta-feira, 16 de maio de 2013

OS CAMPEÕES DAS VITÓRIAS MORAIS


          Os portugueses são os campeões das vitórias morais. Não ganhamos mas deveriamos ter ganho. Mereciamos mais ganhar do que os que verdadeiramente venceram. Tudo isto não é mais do que o espirito sebastianico que ainda paira na cabeça dos portugas, mais de 400 anos depois da morte do menino-rei. Porque não assumimos humildemente que os que nos venceram foram melhores do que nós? Teremos sempre que demonstrar a nós próprios que somos os maiores para esconder a nossa sistemática incapacidade de vencer?  E mesmo quando formalmente vencemos (é raro), porquê esconder que vencemos graças às ajudas que recebemos de terceiros (normalmente eles próprios interessados na nossa vitória ou na derrota dos nossos adversários)?
         As vitórias constroem-se com trabalho sério e comprovado talento e são raramente fruto do acaso.  Em Portugal crê-se pouco nisto e confia-se mais na sorte ou nas intervenções divinas.  Por isso é que o santuário de Fátima é um sucesso que tem servido à Igreja como montra duma espiritualidade que não existe.  Os portugueses são cada vez mais agnósticos e poucos crêem nas Aparições.  Mas há que alimentar o ego, pois sem ele o povo morre de inanição.  O Ronaldo e o Mourinho são dois bons exemplos do que digo.  Excepções saídas dum povo amorfo e sem garra, precisaram de partir para demonstrar o seu genial talento construido à força de muito trabalho e determinação (não confundir com a tradicional teimosia portuguesa fruto da ignorancia e do medo de errar, que entorpece a acção).  O mesmo se passou com Damásio, Vieira da Silva ou o Padre António Vieira, por exemplo, que se não tivessem emigrado ninguem os conheceria.  E o genial Eça ou Fernando Pessoa seriam tão conhecidos se não tivessem passado a maior parte das suas vidas no estrangeiro?  Muitos exemplos de portugueses excepcionais existem, mas todos eles precisaram de ser reconhecidos no estrangeiro para que a sua excepcionalidade se revelasse.
          Para vencer seja o que for ou seja no que for, é necessário uma grande dose de trabalho e de determinação. Talento e sorte tambem.  Mas isso nós temos tanto como os outros. Falta-nos juízo e capacidade de trabalho.  E um pouco de mais pontualidade e organização. Os emigrantes portugueses que o digam. Não é por acaso que são geralmente apreciados onde se fixaram.

                         ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático aposentado)     16/5/2013

terça-feira, 14 de maio de 2013

O FIM DO CAMINHO


          Será que chegamos mesmo ao fim?  Não quero aceitar que assim seja mesmo se a evidência dos factos a isso me impele.  O anunciado encerramento da famosa 7ª avaliação da troika no Conselho Ecofin de ontem, com a aceitação formal de um plano de austeridade cuja implementação é obviamente impossivel de executar, deixa duas possibilidades de interpretação em aberto.  A primeira é formal e a outra é substancial , mas ambas são contra nós.  Formalmente significa que a Europa e o FMI tudo fizeram para nos salvar, mas que fomos nós com os nossos rodriguinhos de povo atrasado que não quisemos redimir-nos, apesar da ajuda excepcional que nos foi dada.  A interpretação substancial é a de que independentemente daquilo que o povinho queira ou não queira, vamos ser salvos pela Europa e pelo FMI, pois isso é indispensável para a própria salvação da Europa.  Atrever-me -ia a pensar que as duas interpretações se completam embora pareçam antagónicas.  Seremos salvos apesar de não querermos, pois a salvação não será aquela que esperamos.
           Portugal não será a Califórnia da Europa, nem sequer a Flórida da Europa.  Será quando muito o Porto Rico da Europa ou a Cuba da Europa.  Mas continuará formalmente a fazer parte da Europa porque convém mais à verdadeira Europa que assim seja.  As periferias são necessárias para servirem de lixeira dos centros.  Lixeira industrial (há que ter sítio para despejar os detritos industriais), lixeira humana (há que ter lugar onde despejar os velhos que nunca mais morrem), lixeira social (há que encontrar espaço onde despejar os inadaptados sociais, que incomodam) e lixeira turistica (há que dar sardinhas e vinho tinto aos que hoje conspurcam a Côte dÁzur e a Riviera italiana).
          Como chegámos a isto?  Apresentava João Duque no último Expresso a seguinte constatação: "Em 2000, a economia portuguesa ocupava o 22º lugar no ranking da competitividade mundial elaborado pelo WEF.  Em 2012, Portugal ocupa o 49º lugar desse mesmo ranking.  Isto é, em 12 anos conseguimos a extraordinária façanha de descer 27 lugares no ranking da competitividade mundial!  Simultaneamente, conseguimos a extraordinária proeza de passar o endividamento publico de 50,7%  do PIB para 123,6%, no mesmo período! "  Pergunta depois João Duque: "Com tanto dinheiro recebido da Europa e com tanta dívida emitida durante esse período, onde está o resultado ou onde está esse dinheiro?"  É na resposta a esta pergunta que devemos procurar as causas da desgraça colectiva na qual estamos hoje mergulhados.

                                        ALBINO ZEFERINO                       14/5/2013

domingo, 12 de maio de 2013

SÓ MERECE GANHAR QUEM LUTAR PARA GANHAR


          Sábio dito popular pronunciado ontem por um portista no calor do entusiasmo da vitória do seu clube sobre o natural candidato ao titulo de campeão para 2013, que pode ser aplicado aos portugueses nesta fase crucial que Portugal atravessa em busca da salvação nacional.
          Tal como o FCP ganhou no último minuto ao seu adversário, tambem há que manter a esperança de que Portugal - por muita debilidade que a sua recuperação aparente - consiga sair airosamente da situação critica em que se encontra.  Sabemos que à medida que o tempo vai passando, cada vez depende menos de nós essa recuperação.  Mas há que ter esperança e continuar a lutar para sairmos vencedores desta guerra contra nós próprios e contra as nossas mentalidades matarruanas.
          Quanto menos relevancia tiver a nossa vontade como povo para decidir do nosso destino colectivo, mais importancia tem a demonstração da nossa vontade politica em lutar para ganhar.  Ganhar juizo, ganhar independencia, ganhar competencia para nos sustentarmos a nós próprios, ganhar riqueza e ganhar o respeito dos outros.  Para isso há que mostrar solidaridade entre nós e não antagonismos na forma de atingir os resultados que nos são impostos.  A luta é uma luta contra nós próprios, contra os nosso vícios, contra o atraso estrutural resultante dos nossos maus hábitos, contra a nossa proverbial falta de produtividade, contra a nossa desorganização, contra a nossa preguiça mental e fisica, contra a nossa falta de rigor e de pontualidade, contra a nossa permanente dependencia psicológica dos outros, enfim, contra a nosso sub-desenvolvimento, que os nossos parceiros prosaicamente apelam de periferismo.  Somos psicologicamente, economicamente e socialmente periféricos, não só sob o ponto de vista geogáfico, mas sobretudo no que toca à nossa capacidade de nos desenvolvermos.  Muito já se tem feito desde que aderimos à Europa, onde sempre pertencemos geograficamente.  Mas agora que essa Europa onde estamos está em crise profunda, temos que demonstrar que merecemos fazer parte dela.  Só merece ganhar quem lutar para ganhar, como dizia ontem o tripeiro feliz com a constatação da grandeza do seu clube.
          Enquanto continuarmos a perder o nosso tempo e a nossa credibilidade em guerras de manjericos e manjeronas, nunca mais sairemos deste lodaçal onde estamos metidos.  Há que lutar para ganhar, lutar unidos num mesmo propósito contra os nossos instintos ancestrais para ganhar a credibilidade daqueles de quem hoje dependemos para viver.  Só assim sobreviveremos como país membro duma Europa unida, única forma de não nos pulverizarmos como povo autónomo, herdeiro de glórias e de façanhas que ajudaram a construir o mundo moderno em que hoje vivemos.  Saibamos ser dignos dos nossos maiores, lutando para ganhar como eles fizeram.

                                ALBINO ZEFERINO                         12/5/2013

sexta-feira, 10 de maio de 2013

OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE


         
          A população votante em Portugal pode ser hoje dividida entre os que têm alguma coisa a perder com a austeridade (dinheiro, bens materiais, propriedades, emprego, reforma, ambições, etc.) e os que não têm nada a perder com ela, por não possuirem nada.  Como cada vez há mais pessoas que nada têm a perder, a não ser os subsidios do Estado de onde vivem, as hipóteses de surgimento de governos que prometem coisas (mais subsidios, mais dinheiro, mais empregos, mais esperanças e menos austeridade) são cada vez maiores.
          Quem tem alguma coisa, não quer deixar de continuar a ter (são os conservadores, de direita ou de esquerda, conforme a origem daquilo que têm) e quem nada tem, quer passar vir a ter (venha do Estado, através de apoios ou de subsidios, ou venha de quem vier e seja de que forma for, mas desde que venha).  São os progressistas ou revolucionários, que querem mudar por mudar.  Com a mudança vem o progresso, dizem.
         Para os que ainda podem perder alguma coisa com as mudanças (e em periodo de austeridade as mudanças são geralmente sempre para pior para quem tem) não interessa alterar o statuo quo.  Para os que nada têm a perder, as mudanças são bemvindas pois sempre podem trazer algum beneficio.  Mais mal é que já não podem trazer.
          Transpondo este raciocinio básico para a politica, verifica-se que os que têm, preferem que o Estado reduza na despesa, enquanto que os que nada têm, exigem que o Estado aumente as receitas. Como em austeridade não há outro modo de aumentar receitas senão atraves do aumento dos impostos, os que nada têm a perder querem que o Estado retire dinheiro, atraves dos impostos, aos que têm, para assim poder continuar a prestar aos que nada têm os serviços de que eles necessitam para viver.  Chama-se a isto o Estado Social.  Em pleno PREC, em 1975, gritava-se nas ruas: "os ricos que paguem a crise", como se o facto de se possuir alguma coisa fosse sinónimo de culpa pelo estado lastimoso em que estava o paìs e portanto criador da obrigação de sustentar os que nada tinham.  Hoje a situação é semelhante.  Como cada dia que passa, os que têm, cada vez têm menos e os que nada têm, cada vez são mais numerosos, já não há ricos para pagarem a crise, por muito que os pobres reclamem.
          É esta o dilema que o governo enfrenta e que outros que lhe venham a suceder enfrentarão, por muito, muito tempo.  Perder dinheiro, perde-se num instante; ganhá-lo, porem, custa muito e exige tempo e sacrificios. Tempo para voltarmos ao que eramos antes da crise, vamos tendo cada vez menos.  Sacrificios, ninguem está disposto a fazê-los. Nem os que têm, nem os que não têm. Os que têm, não querem pagar mais impostos ou perder as regalias a que o Estado perdulário os habituou; os que nada têm, não querem abdicar do Estado social que os sustenta e atraves do qual sobrevivem.
         Encontrar o equilibrio entre os sacrificios a impor equitativamente aos que têm e aos que nada têm, é a exigente tarefa que o governo enfrenta.  Poupar à austeridade os que nada têm, com o argumento de que não se lhes pode exigir mais sacrificios, à custa de espoliar os que ainda têm, porque por muito que se lhes tire ainda ficam com alguma coisa, é redutor do desenvolvimento e contribui para o empobrecimento do país.  Deixar que uns quantos sujeitos escolhidos arbitrariamente por uns quantos deputados esquemáticos, vigiem a equidade das medidas decididas pelo governo, pondo em causa a continuidade deste país de séculos, é inadmissivel.  Aos olhos dos alemães, dos ingleses, dos espanhois ou dos malteses.  Deixemo-nos de dogmatismos balofos e provincianos e tenhamos a coragem de enfrentar juntos esta crise violenta que nos tocou viver, com coragem, determinação e verdadeira solidaridade entre todos e não só entre alguns.

                          ALBINO ZEFERINO                                              10/5/2013    
         

terça-feira, 7 de maio de 2013

OS GUARDIÕES DO TEMPLO


          O templo erguido em nome da Democracia abarcava com a sua imponente presença a totalidade do espaço vital do povo da cidade que, como formigas laboriosas, labutava sem descanso no seu rotineiro quotidiano.  A guardá-lo dos eventuais ataques com que perigosamente era ameaçado pelos que o denegriam, estavam os guardiões do templo, espécie de monges-soldados dispostos a darem a vida e a reputação por ele.  Os tempos não estavam fáceis para os guardiões do templo.  Constantemente atacados e vilipendiados pelos que aleivosamente desferiam os seus vis ataques às instituições democráticas que o templo representava, os guardiões defendiam como podiam o sacrossanto templo que lhes dera o nome e a razão de existir.  Munidos de acordãos acutilantes e mortais, os guardiões defendiam o templo com determinação e vigor das investidas destruidoras dos traiçoeiros atacantes, na esperança de acabar definitivamente com eles que, desta vez, ameaçavam decisivamente o sagrado templo nos seus próprios fundamentos.
          Só que desta vez - mau grado a feroz refrega estar pendendo para o seu lado - os atacantes, cansados de tanto lutar, resolveram desistir e entregar-se à furia vingativa da populaça.  O resultado traduziu-se numa vitória inesperada dos guardióes do templo, que, cheios de glória imerecida, se lançaram aos despojos dos que durante mais de dois anos corajosamente tentaram construir um novo mundo livre de templos e de preconceitos.
          Chegados ao poder, os novos senhores logo se apressaram a entrar no templo, tal como os agora vencidos tinham tentado. Só que, desta vez, os guardiões franquearam-lhes as portas e, como bons samaritanos, escancararam-lhes despudoradamente as portas do templo.  Entrados no recinto, os novos poderosos verificaram que o povo por quem lutaram e que diziam defender estava morto.  A defesa exagerada dos guardiões tinha deixado o templo sem ar e o povo, sufocado, morrera asfixiado.  Foram declarados funerais nacionais aos quais ninguem compareceu, apenas alguns solicitadores de execução que, munidos de calculadoras, adiantavam trabalho.

                                  ALBINO ZEFERINO                             7/5/2013

domingo, 5 de maio de 2013

OS ALEMÃES


          Ainda há umas dezenas de anos (para a História de um povo é pouco tempo) os alemães foram acusados colectivamente de terem destruido a Europa, ao apoiarem Hitler nas suas megalomanias assassinas.  Depois do sofrimento atroz da guerra com os seus bombardeamentos e destruições (30 milhões de mortos alemães e a maioria das cidades do país arrasadas), o povo alemão foi submetido ao vexame da ocupação militar estrangeira e dos julgamentos marciais, tendo ficado fisicamente dividido por um muro que ficou conhecido pelo muro da vergonha e separado por fronteiras intransponíveis a que se chamou a cortina de ferro.  Familias de um e do outro lado separadas sem se poderem ver nem falar, propriedades desfeitas pela divisão do país em zonas de ocupação, perseguições e morte dos que tentavam passar para o lado bom (eu vi os letreiros dos abatidos pela Stasi pendurados no muro em Berlim), arames farpados por todo o lado, terra de ninguem minada no meio da capital, fronteiras austeras no meio do país militarmente vigiadas, enfim, um ambiente hostil e ameaçador durante os quase 30 anos em que a Alemanha esteve dividida.  Pois essa Alemanha é hoje (67 anos depois da guerra e 14 depois do derrube do muro da vergonha) o país líder da Europa, que pretende ser o condutor duma união continental criada pelos seus outrora inimigos.
          Não será assim dificil de entender a determinação da hoje democrática Alemanha em preservar as conquistas que o seu saber, a sua vontade colectiva e o seu trabalho conseguiram em tão pouco tempo.  A criação do euro como elemento aglutinador duma Europa em construcção é assim vital, aos olhos dos alemães, para a sua redenção.  É por esta razão que os alemães não desistirão facilmente da moeda comum europeia, nem da única forma que existe de preservar a paz neste continente de egoismos nacionais e de incompreensões colectivas, que é a União Europeia.
          Ao contrário do que muitos pensam, não é o desejo de conquista territorial ou de influencia nacional que move os alemães na sua determinação no saneamento financeiro e económico dum continente em queda de prestigio e de importancia global.  É precisamente para preservar esse prestigio e essa importancia que os alemães se esforçam em ajudar os países que, como o nosso, estão comprometendo esse desiderato essencial.  Sem que todos os países membros dessa original união continental estejam em condições de prosseguir no caminho duma maior integração económica que possa ombrear com o crescimento acelerado das chamadas economias emergentes, não será possivel aprofundar a integração europeia como está planeado, alargando a União aos países ainda fora dela e munindo as instituições europeias com os meios necessários ao desenvolvimento sustentado do projecto europeu.
          Será assim necessário que os países em crise profunda de sustentação financeira e económica, como o nosso, se consciencializem dos indispensáveis esforços que têm que ser feitos, quer a nível pessoal, quer a nível estrutural, para continuarmos inseridos no único sistema de sobrevivencia possivel que se nos oferece.  Não é lançando-nos uns contra os outros na tentativa de preservar as benesses de que alguns ilegitimamente gozam, ou tentando aproveitar-se da confusão que a situação de crise generalizada proporciona a outros, que vamos resolver o nosso problema. Tentemos articular os nossos esforços uns com os outros, para que consigamos, com muito trabalho, com muitos sacrificios e sem reservas mentais, sair deste enorme buraco em que estamos metidos.

                                  ALBINO ZEFERINO                          5/5/2013      
         
         
         

sábado, 4 de maio de 2013

O DESESPERO DOS DESESPERADOS


          O discurso mole ontem proferido pelo primeiro ministro nas televisões, anunciando finalmente cortes na despesa publica e comunicando aos portugueses a desejada chegada da salvação nacional, caiu como uma bomba nos corações dilacerados dos partidos politicos oposicionistas (e não só), que de imediato lançaram contra o homem vilipendios esganiçados de furia incontida, como se ele fosse um qualquer Duas-caras da série do Batman, desejoso de destruir a cidade para depois se apoderar dos seus escombros.
          Claro que toda a gente já sabia o que Passos iria dizer. Só os mais distraidos puderam legitimamente invocar surpresa em relação às duras medidas anunciadas. Toda a gente sabe que há funcionários publicos a mais e que o seu regime laboral e retributivo é mais favorável que o dos restantes trabalhadores do país. A coisa já vem de longe (eu diria que do século passado) e tambem não é novidade para ninguem que siga estas coisas da crise com algum seguimento, que 70% da despesa anual do Estado se esvai em salários, ajudas de custo, reformas e demais beneficios sociais (ADSE, subsidios vários, regimes especiais para algumas carreiras, etc.) que custam ao erário publico o dinheiro que tem e que não tem (por isso o Estado se vem endividando  progressivamente, chegando a divida publica hoje a mais de 140% do PNB).
         Virando o bico ao prego, os oposicionistas reclamam que a austeridade recai sistematicamente sobre os mesmos, poupando aos malandros dos capitalistas os sacrificios que maldosamente o governo vem impondo desde há dois anos sobre o desgraçado povo portugues, já tão maltratado pelas agruras que a maldita crise lhe vem provocando, esquecendo (ou fingindo esquecer) que não é possivel poupar sem fazer sacrificios.  Basta, diz Seguro fazendo boquinhas, do alto da sua pesporrante oposição alternativa, recusando-se a colaborar na única maneira de recuperar o país.  Unica, pois se houvesse outra menos penosa, já estaria a ser aplicada.  Não seria preciso Seguro clamar por ela.
         O pais está dividido ao meio (como sempre esteve), 50% das pessoas estão à esquerda e 50% delas estão à direita.  O traço contudo passa pelo meio do PS.  É por isso que Seguro está entalado. Se diz que é pela recuperação do país através da única maneira possivel de o fazer, é logo substituido por Costa ou por Assis.  Se, pelo contrário, recusa a austeridade (tentando enganar o povo com alternativas inexistentes) a metade dos xuxas não-marxistas vai-se a ele ou vai-se embora.  É este o drama do Seguro e do PS.  Toda a gente já percebeu (à excepção dos ignorantes ou dos demagogos) que se Seguro estivesse no poleiro faria exactamente o mesmo que Passos (tal como o malandro do Sócrates foi obrigado a fazer).  Quem manda em nós é a troika, pois sem ela não há dinheiro para ninguem e sem dinheiro não há pão.  Diz o povo que "casa onde não há pão, todos ralham e ninguem tem razão".
         Falta agora o pimpolho do puto dizer tambem umas coisas.  Deixou para domingo, o dia do Senhor. Com o tempo que o sol nos promete, é possivel que ninguem o oiça.  Não será porem coisa de sustancia, pois sem a troika o gajinho já tinha saltado do poleiro.  E quando saltar, será para voltar com os seus tres amiguinhos de novo para dentro do táxi.
         Tenhamos paciencia, juizo e alguma contenção nas nossas atitudes.  O caminho é duro mas seguro. Haveremos de lá chegar.  Seguros, sem Seguro, mas seguramente.

                               ALBINO ZEFERINO                                       4/5/2013