sexta-feira, 10 de maio de 2013

OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE


         
          A população votante em Portugal pode ser hoje dividida entre os que têm alguma coisa a perder com a austeridade (dinheiro, bens materiais, propriedades, emprego, reforma, ambições, etc.) e os que não têm nada a perder com ela, por não possuirem nada.  Como cada vez há mais pessoas que nada têm a perder, a não ser os subsidios do Estado de onde vivem, as hipóteses de surgimento de governos que prometem coisas (mais subsidios, mais dinheiro, mais empregos, mais esperanças e menos austeridade) são cada vez maiores.
          Quem tem alguma coisa, não quer deixar de continuar a ter (são os conservadores, de direita ou de esquerda, conforme a origem daquilo que têm) e quem nada tem, quer passar vir a ter (venha do Estado, através de apoios ou de subsidios, ou venha de quem vier e seja de que forma for, mas desde que venha).  São os progressistas ou revolucionários, que querem mudar por mudar.  Com a mudança vem o progresso, dizem.
         Para os que ainda podem perder alguma coisa com as mudanças (e em periodo de austeridade as mudanças são geralmente sempre para pior para quem tem) não interessa alterar o statuo quo.  Para os que nada têm a perder, as mudanças são bemvindas pois sempre podem trazer algum beneficio.  Mais mal é que já não podem trazer.
          Transpondo este raciocinio básico para a politica, verifica-se que os que têm, preferem que o Estado reduza na despesa, enquanto que os que nada têm, exigem que o Estado aumente as receitas. Como em austeridade não há outro modo de aumentar receitas senão atraves do aumento dos impostos, os que nada têm a perder querem que o Estado retire dinheiro, atraves dos impostos, aos que têm, para assim poder continuar a prestar aos que nada têm os serviços de que eles necessitam para viver.  Chama-se a isto o Estado Social.  Em pleno PREC, em 1975, gritava-se nas ruas: "os ricos que paguem a crise", como se o facto de se possuir alguma coisa fosse sinónimo de culpa pelo estado lastimoso em que estava o paìs e portanto criador da obrigação de sustentar os que nada tinham.  Hoje a situação é semelhante.  Como cada dia que passa, os que têm, cada vez têm menos e os que nada têm, cada vez são mais numerosos, já não há ricos para pagarem a crise, por muito que os pobres reclamem.
          É esta o dilema que o governo enfrenta e que outros que lhe venham a suceder enfrentarão, por muito, muito tempo.  Perder dinheiro, perde-se num instante; ganhá-lo, porem, custa muito e exige tempo e sacrificios. Tempo para voltarmos ao que eramos antes da crise, vamos tendo cada vez menos.  Sacrificios, ninguem está disposto a fazê-los. Nem os que têm, nem os que não têm. Os que têm, não querem pagar mais impostos ou perder as regalias a que o Estado perdulário os habituou; os que nada têm, não querem abdicar do Estado social que os sustenta e atraves do qual sobrevivem.
         Encontrar o equilibrio entre os sacrificios a impor equitativamente aos que têm e aos que nada têm, é a exigente tarefa que o governo enfrenta.  Poupar à austeridade os que nada têm, com o argumento de que não se lhes pode exigir mais sacrificios, à custa de espoliar os que ainda têm, porque por muito que se lhes tire ainda ficam com alguma coisa, é redutor do desenvolvimento e contribui para o empobrecimento do país.  Deixar que uns quantos sujeitos escolhidos arbitrariamente por uns quantos deputados esquemáticos, vigiem a equidade das medidas decididas pelo governo, pondo em causa a continuidade deste país de séculos, é inadmissivel.  Aos olhos dos alemães, dos ingleses, dos espanhois ou dos malteses.  Deixemo-nos de dogmatismos balofos e provincianos e tenhamos a coragem de enfrentar juntos esta crise violenta que nos tocou viver, com coragem, determinação e verdadeira solidaridade entre todos e não só entre alguns.

                          ALBINO ZEFERINO                                              10/5/2013    
         

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