domingo, 5 de maio de 2013

OS ALEMÃES


          Ainda há umas dezenas de anos (para a História de um povo é pouco tempo) os alemães foram acusados colectivamente de terem destruido a Europa, ao apoiarem Hitler nas suas megalomanias assassinas.  Depois do sofrimento atroz da guerra com os seus bombardeamentos e destruições (30 milhões de mortos alemães e a maioria das cidades do país arrasadas), o povo alemão foi submetido ao vexame da ocupação militar estrangeira e dos julgamentos marciais, tendo ficado fisicamente dividido por um muro que ficou conhecido pelo muro da vergonha e separado por fronteiras intransponíveis a que se chamou a cortina de ferro.  Familias de um e do outro lado separadas sem se poderem ver nem falar, propriedades desfeitas pela divisão do país em zonas de ocupação, perseguições e morte dos que tentavam passar para o lado bom (eu vi os letreiros dos abatidos pela Stasi pendurados no muro em Berlim), arames farpados por todo o lado, terra de ninguem minada no meio da capital, fronteiras austeras no meio do país militarmente vigiadas, enfim, um ambiente hostil e ameaçador durante os quase 30 anos em que a Alemanha esteve dividida.  Pois essa Alemanha é hoje (67 anos depois da guerra e 14 depois do derrube do muro da vergonha) o país líder da Europa, que pretende ser o condutor duma união continental criada pelos seus outrora inimigos.
          Não será assim dificil de entender a determinação da hoje democrática Alemanha em preservar as conquistas que o seu saber, a sua vontade colectiva e o seu trabalho conseguiram em tão pouco tempo.  A criação do euro como elemento aglutinador duma Europa em construcção é assim vital, aos olhos dos alemães, para a sua redenção.  É por esta razão que os alemães não desistirão facilmente da moeda comum europeia, nem da única forma que existe de preservar a paz neste continente de egoismos nacionais e de incompreensões colectivas, que é a União Europeia.
          Ao contrário do que muitos pensam, não é o desejo de conquista territorial ou de influencia nacional que move os alemães na sua determinação no saneamento financeiro e económico dum continente em queda de prestigio e de importancia global.  É precisamente para preservar esse prestigio e essa importancia que os alemães se esforçam em ajudar os países que, como o nosso, estão comprometendo esse desiderato essencial.  Sem que todos os países membros dessa original união continental estejam em condições de prosseguir no caminho duma maior integração económica que possa ombrear com o crescimento acelerado das chamadas economias emergentes, não será possivel aprofundar a integração europeia como está planeado, alargando a União aos países ainda fora dela e munindo as instituições europeias com os meios necessários ao desenvolvimento sustentado do projecto europeu.
          Será assim necessário que os países em crise profunda de sustentação financeira e económica, como o nosso, se consciencializem dos indispensáveis esforços que têm que ser feitos, quer a nível pessoal, quer a nível estrutural, para continuarmos inseridos no único sistema de sobrevivencia possivel que se nos oferece.  Não é lançando-nos uns contra os outros na tentativa de preservar as benesses de que alguns ilegitimamente gozam, ou tentando aproveitar-se da confusão que a situação de crise generalizada proporciona a outros, que vamos resolver o nosso problema. Tentemos articular os nossos esforços uns com os outros, para que consigamos, com muito trabalho, com muitos sacrificios e sem reservas mentais, sair deste enorme buraco em que estamos metidos.

                                  ALBINO ZEFERINO                          5/5/2013      
         
         
         

4 comentários:

  1. Primeiro comentário: Os alemães nunca tiveram 30 milhões de mortos na II Guerra Mundial, mas 7 a 9 milhões, incluindo austríacos e alemães étnicos (i.e., membros das minorias alemãs que viviam nos países limítrofes). Estes dados podem ser conferidos em http://en.wikipedia.org/wiki/World_War_II_casualties

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    1. Reconheço que me enganei na contabilidade, mas o que quis dizer é que foram muitos mortos (mas nenhum deles portugues). Os alemães sofreram como ninguem (mais do que nós estamos sofrendo), mas nem por isso deixaram de construir um país que hoje é lider da Europa (unida ou desunida. Se tomassemos os alemães como exemplo em vez de andarmos a dizer mal uns dos outros (e deles tambem) talvez pudessemos sair desta desgraça mais facilmente.

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  2. Segundo comentário:
    Leio irregularmente "El Pais", a meu ver juntamente com o "Le Monde", "Financial Tines" e "New York Times" um dos melhores jornais do mundo. A notícia na primeira página deste domingo é deveras preocupante.
    Passo a comentar. A Alemanha prossegue na sua senda obstinada de "consolidação orçamental" (um eufemismo para "austeridade") de há 5 anos a esta parte, a França e todo a "periferia" (principalmente o Sul) reclamam crescimento e que lhes dêem oxigénio para viver. A medicina alemã, que pode ser importante para os eleitores da Renânia-Vestefália ou do Palatinado e consequentemente para a reeleição de Frau Merkel, pura e simplesmente não resultou, pelo contrário, nos casos grego, português, irlandês, cipriota, italiano, francês e esloveno, a doença piorou consideravelmente, com consequências sociais, políticas, para além, claro, das económicas e financeiras que só merecem um adjectivo "gravíssimas". A Europa é a única região do globo em recessão, o que diz tudo. O eixo franco-alemão está em vias de desfazer-se. Parece-me bem que a Europa acabou. Vêm aí não uma onda, mas um "tsunami" de xenofobia, populismo, extremismo e sobretudo de nacionalismo exacerbado a que é necessário fazer frente.
    Requiescat in Pacem!
    http://internacional.elpais.com/internacional/2013/05/04/actualidad/1367696906_886944.html

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    1. A OBSTINAÇÃO ALEMÃ RESULTA DA CONSTATAÇÃO DA INCAPACIDADE PORTUGUESA EM POR AS CONTAS EM DIA. ENQUANTO NÃO O FIZERMOS NÃO TEREMOS MAIS AJUDAS.

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