quinta-feira, 16 de maio de 2013

OS CAMPEÕES DAS VITÓRIAS MORAIS


          Os portugueses são os campeões das vitórias morais. Não ganhamos mas deveriamos ter ganho. Mereciamos mais ganhar do que os que verdadeiramente venceram. Tudo isto não é mais do que o espirito sebastianico que ainda paira na cabeça dos portugas, mais de 400 anos depois da morte do menino-rei. Porque não assumimos humildemente que os que nos venceram foram melhores do que nós? Teremos sempre que demonstrar a nós próprios que somos os maiores para esconder a nossa sistemática incapacidade de vencer?  E mesmo quando formalmente vencemos (é raro), porquê esconder que vencemos graças às ajudas que recebemos de terceiros (normalmente eles próprios interessados na nossa vitória ou na derrota dos nossos adversários)?
         As vitórias constroem-se com trabalho sério e comprovado talento e são raramente fruto do acaso.  Em Portugal crê-se pouco nisto e confia-se mais na sorte ou nas intervenções divinas.  Por isso é que o santuário de Fátima é um sucesso que tem servido à Igreja como montra duma espiritualidade que não existe.  Os portugueses são cada vez mais agnósticos e poucos crêem nas Aparições.  Mas há que alimentar o ego, pois sem ele o povo morre de inanição.  O Ronaldo e o Mourinho são dois bons exemplos do que digo.  Excepções saídas dum povo amorfo e sem garra, precisaram de partir para demonstrar o seu genial talento construido à força de muito trabalho e determinação (não confundir com a tradicional teimosia portuguesa fruto da ignorancia e do medo de errar, que entorpece a acção).  O mesmo se passou com Damásio, Vieira da Silva ou o Padre António Vieira, por exemplo, que se não tivessem emigrado ninguem os conheceria.  E o genial Eça ou Fernando Pessoa seriam tão conhecidos se não tivessem passado a maior parte das suas vidas no estrangeiro?  Muitos exemplos de portugueses excepcionais existem, mas todos eles precisaram de ser reconhecidos no estrangeiro para que a sua excepcionalidade se revelasse.
          Para vencer seja o que for ou seja no que for, é necessário uma grande dose de trabalho e de determinação. Talento e sorte tambem.  Mas isso nós temos tanto como os outros. Falta-nos juízo e capacidade de trabalho.  E um pouco de mais pontualidade e organização. Os emigrantes portugueses que o digam. Não é por acaso que são geralmente apreciados onde se fixaram.

                         ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático aposentado)     16/5/2013

Sem comentários:

Enviar um comentário