terça-feira, 7 de maio de 2013

OS GUARDIÕES DO TEMPLO


          O templo erguido em nome da Democracia abarcava com a sua imponente presença a totalidade do espaço vital do povo da cidade que, como formigas laboriosas, labutava sem descanso no seu rotineiro quotidiano.  A guardá-lo dos eventuais ataques com que perigosamente era ameaçado pelos que o denegriam, estavam os guardiões do templo, espécie de monges-soldados dispostos a darem a vida e a reputação por ele.  Os tempos não estavam fáceis para os guardiões do templo.  Constantemente atacados e vilipendiados pelos que aleivosamente desferiam os seus vis ataques às instituições democráticas que o templo representava, os guardiões defendiam como podiam o sacrossanto templo que lhes dera o nome e a razão de existir.  Munidos de acordãos acutilantes e mortais, os guardiões defendiam o templo com determinação e vigor das investidas destruidoras dos traiçoeiros atacantes, na esperança de acabar definitivamente com eles que, desta vez, ameaçavam decisivamente o sagrado templo nos seus próprios fundamentos.
          Só que desta vez - mau grado a feroz refrega estar pendendo para o seu lado - os atacantes, cansados de tanto lutar, resolveram desistir e entregar-se à furia vingativa da populaça.  O resultado traduziu-se numa vitória inesperada dos guardióes do templo, que, cheios de glória imerecida, se lançaram aos despojos dos que durante mais de dois anos corajosamente tentaram construir um novo mundo livre de templos e de preconceitos.
          Chegados ao poder, os novos senhores logo se apressaram a entrar no templo, tal como os agora vencidos tinham tentado. Só que, desta vez, os guardiões franquearam-lhes as portas e, como bons samaritanos, escancararam-lhes despudoradamente as portas do templo.  Entrados no recinto, os novos poderosos verificaram que o povo por quem lutaram e que diziam defender estava morto.  A defesa exagerada dos guardiões tinha deixado o templo sem ar e o povo, sufocado, morrera asfixiado.  Foram declarados funerais nacionais aos quais ninguem compareceu, apenas alguns solicitadores de execução que, munidos de calculadoras, adiantavam trabalho.

                                  ALBINO ZEFERINO                             7/5/2013

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