terça-feira, 21 de maio de 2013

VIRA O DISCO E TOCA O MESMO


          Com a convocação do Conselho de Estado sem aparente necessidade, Cavaco quis significar ao povo que a situação portuguesa está sob seu controle, mau grado a crescente tensão social que resulta da constatação generalizada do falhanço das politicas do governo.  Não se pense - como os vários movimentos   de contestação que diariamente vão nascendo como cogumelos bravos - que é aos gritos que se resolve um problema grave que mexe com a vida da generalidade dos portugueses, sejam eles contestatários ou não.
          Enquanto não cumprirmos os minimos a que nos obrigamos, não sairemos desta maldita crise que nos afecta a todos. Sem disciplina orçamental não será possivel avançar. E não se sai duma crise voltando para trás. Estamos - mal ou bem - inseridos numa barca (a zona do euro) que navega sob mar encapelado. Para que essa barca chegue a bom porto sem naufragar é necessário que todos os seus tripulantes remem para o mesmo lado, com identica vontade de se salvar da intempérie e obedecendo às mesmas regras comuns.
          O nível de esquizofrenia política que Portugal revela é prejudicial aos nossos interesses colectivos. Não pensemos apenas em nós e nas nossas desgraças, mas antes na forma como poderemos ajudar a Europa (que é a nossa casa comum) e em particular os sócios da zona euro (de onde, quer queiramos quer não, somos parte integrante) a sair deste imbróglio. Já lá vai o tempo das opções alternativas. As opções já foram oportunamente feitas. O que há agora a fazer é cumprir com denodo as regras a que voluntaria e entusiasticamente aderimos (recordo o ambiente de vitória popular com que foi festejada, quer a entrada na CEE, quer a adesão ao euro).  E como muitos não compreenderam em devido tempo o que essas adesões significaram, temos agora nós que reparar essas falhas graves fazendo sacrificios uns pelos outros. Os ricos pelos pobres, os pobres pelo Estado social, os velhos pelos novos e os novos pelo seu futuro. O que não podemos fazer sob pena de deitarmos tudo a perder, é virarmo-nos uns contra os outros, acusando-nos mutuamente pelos males uns dos outros. Todos estamos na mesma barca, navegando na mesma rota e enfrentando igual tempestade. Se há quem se queira atirar ao mar por não aguentar os sacrificios que lhe são  exigidos, então que o faça, mas não queira arrastar os outros consigo.
         Há coisas que estão mal e que devem ser corrigidas. Para isso está lá o governo. Mas por muito esforço que nos seja pedido, não será possivel por nós próprios darmos conta do recado. Um novo quadro europeu terá que ser construido para isso. Ele já está desenhado. Trata-se da implementação de um orçamento próprio da União económica e monetária para apoio dos Estados sujeitos a choques específicos, como o nosso.  Quando a Zona Euro tiver uma capacidade financeira própria, ficará em condições de emitir dívida através de eurobonds e, por essa via, reforçar a capacidade de investimento dos orçamentos nacionais. A crise da Zona Euro já não se resolve com a correção do desequilibrio entre crescimento e consolidação. Resolve-se baixando o custo da dívida publica - através da sua mutualização - e o custo do investimento privado - através da instalação da união bancária.  Para que o modelo social europeu (que é um dos pilares da construção europeia) não soçobre, é necessário que o Estado social se modernize para responder à pressão do envelhecimento das populações, do desemprego, da competitividade, dos novos tipos de familias, da flexibilidade laboral, etc. Há que ter a coragem de cortar nas prestações sociais ao mesmo tempo que se assegura que o máximo de pessoas estarão empregadas, pois assim os contributos serão em maior numero e os cortes consequentemente serão mais pequenos.  A UEM para não acabar tem que ser rapidamente completada e alargada.  E a nossa colaboração para isso é essencial.

                           ALBINO ZEFERINO                                    21/5/2013

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