domingo, 19 de maio de 2013

O FECHO DA PORTA DE PORTAS


           Com a teimosia da recusa na aceitação das medidas de recurso apresentadas por Passos Coelho em Bruxelas para reduzir a despesa do Estado, Portas está a condenar o governo à sua demissão.  Parece incrivel que o destino do país esteja nas mãos de um garoto mal-criado e ambicioso, que não representa mais do que uns trocos na contabilidade eleitoral do país cujo futuro ele está a pôr em causa.  Mas a democracia não é perfeita, como dizia Churchill.  Por vezes exibe as suas debilidades da forma mais injusta.
          Dirão os apoiantes do miudo que quem provocou verdadeiramente a crise foi o maldito "tribunal" constitucional, espécie de bruxa malvada inventada pelas esquerdas para bloquear as tentativas da direita de reformar o Estado construido pelo 25 de abril,  pois foram as suas decisóes perversas que forçaram a apresentação das medidas em questão .  De facto, formalmente não deixam de ter razão, porque ninguem garante que as medidas que visam diminuir o rendimento dos reformados (que cada vez são mais e portanto cada vez mais pesam no tribunal eleitoral) não seriam liminarmente chumbadas de novo pelo tribunal maldito, provocando os mesmos estragos que a teimosia portista vai provocar.  Mas, dirão os portistas, já agora que retiremos da crise algum proveito para o CDS.
          Como quaisquer garotos arruaceiros, os portistas não se preocupam com as consequencias para a situação em que deixam o país, a meio de um plano de resgate dificil de executar e forçando Cavaco a convocar eleições que ninguem de bom senso deseja, por adivinhar que assim deixaremos imediatamente de continuar a receber o dinheiro de que precisamos para viver quotidianamente.  Desenganem-se porém os portistas de que algo de bom virá para o CDS.  Mesmo que o PS ganhe as eleições e escolha o CDS como parceiro para poder formar maioria, nem a troika nem Cavaco os deixarão os dois à solta. Ou obrigarão a uma maioria governativa suficientemente ampla que permita ultrapassar de vez os obstáculos constitucionais, ou instalarão um regime de excepção do género daquele que Ferreira Leite prenunciava.  Deixar que um país insignificante como o nosso ponha em causa o futuro da União Europeia e do seu euro é que estará certamente fora de questão para os alemães e seus aliados.
          Pensem maduramente, senhores portistas, antes de provocarem um tsunami que os levará na enxurrada com o resto do país, antes de pensarem na vossa sobrevivencia como organização politica autónoma.  Mais vale continuarem ministros e deputados, com mordomias e televisão à disposição, do que serem politicos na reforma, com demasiada idade para encontrar novo emprego e ainda muito novos para ficarem todo o dia em casa de chinelos a ver televisão.

                                          ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático aposentado)   19/5/2013
         

3 comentários:

  1. Com razão ou sem ela - depende das perspectivas de cada um - Portas está a defender uma posição política publicamente assumida. No meu entender, afigura-se-me em tudo correcta e só pecou por tardia. O problema dos pensionistas, dos reformados e dos funcionários públicos é um problema real e sobre todos eles recai, na prática, quase todo o ónus da crise. Isto suscita uma questão muito grave: com que direito PPC e Gaspar criam divisões entre os portugueses, por grupos etários e sócio-profissionais, impondo uma tributação penalizadora e injusta? Por outro lado, essas medidas não são discutidas, debatidas e consensualmente aceites em Conselho de Ministros? Existe ou não uma coligação? Essas questões não são debatidas no seio da coligação ou serão impostas unilateralmente pelo "caudilho"? Por outro ainda, não há mais conversas, ninguém explica o que quer que seja. É assim e pronto! Come e cala! Chegámos todos ao ponto de saturação com esta situação e encontramo-nos já em pré-ruptura. Mas será que esta gente ainda tem credibilidade?
    Depois, há a questão do TC. Mas os governantes sabem muito bem que existe e que os juízes julgam de acordo com a constituição que temos e não com outra. O tribunal não é maldito, a constituição é que o pode ser.
    Ora bem e em resumo: o CDS/PP é um "player" importante, tenha ou não uma expressão eleitoral reduzida, e tem sempre de ser tomado em linha de conta; o TC não é "player" mas, sim, um árbitro da situação. De modo que PPC e Gaspar têm de agir tendo em conta o parceiro de coligação (e, quer se queira quer não, o seu peso específico no Governo é maior que a sua expressão eleitoral) e que a partida tem sempre um árbitro - o TC. Ao esquecer tudo isto, caminha-se para o desastre.
    Para terminar, pode-se dizer que a "troika" é que manda e que é com os tostões troikianos que se compram os melões. Então, assuma-se, de uma forma clara e inequívoca e de uma vez por todas, que Portugal deixou de ser independente ou, em alternativa, abandone-se o projecto do Euro e a União Europeia.
    Ignorar a realidade, numa versão lusitana de Alice no País das Maravilhas não é governar. É de uma total imbecilidade e, como é bem de ver, com resultados funestos. Com efeito, persistir por esta via é ir com a cabeça de encontro à parede e o Governo estará, então, por um fio.

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  2. A questão não é saber quem tem mais razão. Todos estamos de acordo que governar contra a maré é muito dificil. Mas não há alternativa. Ou queremos seriamente reformar o país e andar para diante ou preferimos fingir que reformamos para ir mantendo os nossos privilégios e contribuir assim para a nossa exclusão do único sistema possivel de sobrevivencia digna.

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  3. Creio que fui bastante claro naquilo que disse, limitei-me a fazer uma descrição de facto e não a procurar saber quem são os heróis ou os maus da fita, aliás, começo por dizer precisamente isso. A questão é que tem de se governar tendo em conta que o Governo, como uma equipa, tem duas componentes principais, que existe uma constituição (ou seja, regras do jogo) e um árbitro (o TC). Culpabilizar um dos jogadores e diabolizar o árbitro é um exercício que não conduz a nada. Esquecer o parceiro, as regras e o árbitro e chutar para a frente porque é preciso chutar para a frente, sem estratégia,nem táctica, revela-se não só contraproducente, como suicidário. Por outro lado, quanto aos objectivos: austeridade pela austeridade não faz qualquer sentido. Mais. Para se ganhar o jogo e para que este seja equilibrado há que se cortar na despesa e não apenas subir na receita, que é fácil, mas os resultados são ominosos. Além disso tem de se reformar o Estado. Só agora se está pensar nisso e já lá vão quantos anos desde que esta gente subiu ao Poder? Aliás, de uma ponta a outra, interna e externamente, a recomendação é quase consensual e unívoca: mais tratamento de choque acabará por matar o doente.

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