quinta-feira, 31 de março de 2011

O DRAMA DE PORTUGAL

Portugal vive hoje momentos dramáticos para a sua sobrevivencia como país soberano e independente. A nossa dependencia económica e financeira do exterior (chama-se a isto prosaicamente mercados externos) é determinante para sobrevivermos não apenas como um Estado, mas até individualmente. Todos nós estamos hoje mais pobres do que ontem e menos do que estaremos amanhã. Já muito se tem falado disto a respeito do actual momento e por outro lado não é a primeira vez na nossa história que passamos por apertos semelhantes. Para que nos situemos conscientemente na questão convirá que analisemos as razões da mesma, sobertudo tendo em consideração que vamos ser em breve chamados a pronunciar-nos sobre quem nos deverá governar no futuro.
          Não que o futuro governo de Portugal seja muito importante para a determinação de como vai ser o nosso próximo futuro, porque ele já está definido em linhas gerais em resultado dos dislates criminosos cometidos por todos nós (cada qual ao seu nível de responsabilidade) que já hipotecaram o nosso futuro comprometendo a vida dos nossos filhos e dos seus descendentes por muitos e bons anos. Diria mesmo que Portugal nunca mais será aquilo que foi até agora, tal como hoje o conhecemos. 
          Ao tentar analisar desapaixonadamente a questão do nosso futuro (como ele vai ser) não devemos esquecer-nos do que somos, o que fomos e como os outros nos vêem. Somos um país sem qualquer importancia, pobre, dependente, periférico e sem chama. Não temos nada que faça falta aos outros (nem petróleo, nem bens transaccionáveis, nem mercados, nem influencia) e pelo contrário pensamos que sem nós o mundo não gira porque de facto em tempos remotos assim foi. Mas como o mundo está cada vez mais pragmático e já ninguem liga a isso, até nos ridicularizam quando alardeamos as nossas glórias passadas como cartão de visita para a pedinchice. Para os alemães e para os países da Europa temos muito menos importancia do que o Estado federado alemão de Bad-Wuertenberg, onde o partido da Sr.ª Merkel perdeu a liderança que conservava à 58 anos. Esta derrota eleitoral da CDU foi vista como um sério aviso à Sr.ªMerkel de que não deve tergiversar na defesa do euro (aposta decisiva alemã depois da reunificação).  O grande problema para a Alemanha de hoje é a continuação do projecto europeu, fortemente abalado pela violenta crise financeira que se abateu sobre o mundo civilizado e tudo aquilo que comprometa a recuperação do prestígio do euro tem que ser eliminado ou reformado. É neste contexto que temos que situar o relacionamento portugues com a Europa (e com a Alemanha em particular) no que toca ao indispensável apoio financeiro de que necessitamos.  A ajuda externa a Portugal, revelando-se cada dia que passa menos dispensável para a nossa sobrevivencia, reveste-se assim de uma dupla faceta. É desejada pela Alemanha (que a considera indispensável para a sustentação do euro) mas ao mesmo tempo, exigindo medidas profundas de reestruturação do Estado e dos seus pressupostos, terá que ser solicitada formalmente pelo governo portugues para que a implementação das reformas não aparente resultar de uma imposição externa (o que é na realidade).  
          Não valerá assim a pena continuar a enganar os portugueses centrando a estratégia eleitoral na intransigente (mas impossivel) defesa da denominada independencia nacional com a recusa do pedido de ajuda externa, mas antes consciencializar os portugueses para a inevitabilidade desse pedido e para os dificeis tempos que a seguir nos esperam.
 
                                                               ALBINO  ZEFERINO    31/3/2011   

segunda-feira, 28 de março de 2011

A PRÓXIMA ETAPA

  Independentemente de quem venha a ganhar as próximas eleições e do formato parlamentar delas decorrente o certo é que estas eleições marcarão o inicio de uma nova etapa no espinhoso caminho que Portugal está trilhando para tentar sair deste atoleiro em que nos meteram.  Não se trata de saber quem será o novo primeiro-ministro nem sequer se o próximo governo será de coligação ou não. Sejam eles quem forem a situação deixada por Sócrates é a mesma e há que enfrentá-la.  Os remédios tambem não variarão em relação aos que Sócrates estava a aplicar. Então porque digo eu que iremos entrar numa nova etapa?  Porque o facto de Portugal ir mudar de governo (seja ele qual for) vai obrigatoriamente destapar os esgotos sobre os quais a economia portuguesa perguiçosamente se arrasta há anos e que Sócrates fingia não ver enquanto mentia descaradamente ao zé-povinho sobre as sucessivas "vitórias" que o seu governo ia conseguindo na luta permanente contra aqueles que, como a sr.ª Merkel, desejavam o mal aos portugueses. 
          Um desses esgotos infectos e mal-cheirosos sobre os quais a nossa sociedade assenta são os transportes publicos. Sector económico entregue à gestão dos comunistas logo a seguir ao 25 de abril para acalmar a sua furia revolucionária, foi por estes usado para controlar a população operária que deles depende para a sua mobilidade, sobretudo de casa para o trabalho e vice-versa. Tem sido este sector que tradicionalmente está na origem das mais controversas e dispendiosas greves nacionais e tambem aquele que mais investimentos publicos tem absorvido para a melhoria das redes e dos serviços prestados ao publico. Só que (por ser utilizado pelas camadas mais desfavorecidas da população e estar controlado pela Intersindical) tem beneficiado de fortes subsidios estatais que escondem a situação de falencia estrutural em que se encontram as empresas estatais que se encarregam da sua gerencia. Ou dito de outro modo: ao novo governo não vai ser possivel continuar a sustentar à custa de um aumento do deficit e da divida publica um sector tradicionalmente deficitário usado principalmente por uma determinada camada da população à custa de outras que dele não se servem porque não precisam (quem vai usar os cacilheiros, os autocarros ou o comboio para os suburbios senão quem lá mora?).  Não vejo outra solução que não seja a privatização das empresas do sector.
          Ora uma vez privatizadas essas empresas deixarão de beneficiar de subsidios estatais e terão que ser rentabilizadas. Para isso os novos donos irão racionalizar os custos (i,é, aumentar o preço dos transportes) e redimensionar as redes (i.é, fechar os trajectos deficitários). Habituados a fazerem greves por tudo e por nada (há mesmo po aí uns mercenários de greves por conta da Inter) o novo governo terá que prevenir-se pois é certo e seguro que os nossos amigos comunas (embora representem apenas 10 % da população) têm uma capacidade mobilizadora geral e são bem capazes de paralizar o país por dá cá aquela palha. 
         Outros sectores económicos controlados pelos comunas e que igualmente poderão provocar entraves a um desenvolvimento sustentado do país são a saúde, a educação e a segurança social, que deverão merecer especiais cuidados na abordagem das respectivas reestruturações, antes que a Intersindical pegue fogo a Portugal e depois já seja impossivel endireitar-se o país. Mas destes falaremos noutra ocasião. 
 
                                                   ALBINO  ZEFERINO    27/3/2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

A VINGANÇA DO CHINÊS

           Sem descartar a incompetência revelada por Sócrates e pelos seus sócretinos ministros na condução dos destinos deste pobre país, poder-se-á dizer que foi o buraco financeiro resultante da precipitada e incompreensivel nacionalização do BPN que provocou a queda deste malfadado governo. O argumento bacoco do risco sistémico que a falência de um banco já tecnicamente falido há muito tempo causaria no sistema bancário portugues foi pura falácia e só serviu para prolongar a morte de um doente sem condições de cura à custa do erário público, ou seja do dinheiro dos contribuintes. A decuplicação dos prejuizos registados no momento da nacionalização do banco maldito, da qual resultou um aumento do défice do Estado de mais de 2 mil milhões de euros, foi a gota de água que fez transbordar o copo da paciencia europeia. Em quase todos os países atingidos pela crise financeira resultante dos creditos do sub-prime houve bancos que abriram falência, desde o grande Lehman Bros às banquetas irlandesas, passando por bancos ingleses de referencia e pelas Caixas espanholas, sem que em nenhum dos respectivos países se registasse qualquer corrida aos depósitos bancários. Porque haveria de ser diferente em Portugal se o governo dos sócretinos tivesse (como deveria ter feito) deixado morrer o BPN de inanição logo que as fraudes na sua gestão foram detectadas? Numa atitude saloia (muito própria dos portugueses de que "a mim ninguem me vira") o ministro albino apressou-se a propôr ao restante governo de saloios a nacionalização de um banco inviável que apenas existia para servir de tesouraria a uma empresa de ladrões que explorava o próximo sem olhar a meios e com uma voracidade estonteante. Agora, enquanto a submissa e incompetente justiça portuguesa finge que pune o chefe dos ladrões (já vai para dois anos que o processo está em fase de instrução) Cavaco e sus muchachos estão rindo-se de gozo antevendo o vexame por que Sócrates está a passar em Bruxelas passeando as suas mágoas no meio dos cínicos "amigos do peito" que lhe vão dando palmadinhas nas costas enquanto lhe perguntam qual é o primeiro nome de Passos Coelho.
 
                                                       ALBINO  ZEFERINO      24/3/2011    

segunda-feira, 21 de março de 2011

O FIM DO CAMINHO

  Teremos chegado ao fim? Irá Portugal soçobrar ao fim de quase 900 anos de existência como país independente? Não creio que assim seja. Para que um país se extinga terá que haver um outro que o deseje e depois que o conquiste. Não creio que alguém nos deseje nem que se dê ao trabalho de nos conquistar. Então como vamos sobreviver sózinhos? Pois tentando sair desta crise em que mergulhámos com as ajudas daqueles que têm interesse em ajudar-nos. E quem tem interesse em ajudar-nos? Pois aqueles a quem devemos dinheiro a fim de que o possam recuperar. E como seremos ajudados? Pois através de mais empréstimos que nos permitam sobreviver e simultaneamente criar condições para pagarmos o que devemos. Teremos nós próprios condições para gerir esses empréstimos salvadores? Os nossos credores já nos deram sinais de sobra de que não acreditam que tenhamos condições para por nós próprios sairmos desta crise. Torna-se assim necessário que nos deixemos de auto-suficiencias bacocas em que já ninguém acredita a não ser aqueles que as propalam e humildemente como qualquer devedor arrependido solicitemos de chapéu na mão que nos venham ajudar. Mas não basta aceitarmos resignados essa condição de pedintes. Teremos além disso que estar dispostos a submetermo-nos às condições impostas pelos nossos credores para que eles continuem a emprestarnos o dinheiro de que precisamos. E que condições são essas? Será deixarmos que eles nos digam de que maneira entendem que devemos gastar o dinheiro que eles nos emprestam. E aqui é que a porca torce o rabo. Já se sabe que ninguem gosta de reconhecer que não é capaz de fazer aquilo que tinha obrigação de fazer. Sobretudo se fôr teimoso e convencido. Pois é nesta situação que hoje nos encontramos. Para os nossos credores é nesta fase do campeonato completamente indiferente quem detenha formalmente o poder em Portugal. Eles próprios não entendem bem a forma confusa do relacionamento entre os vários actores políticos em Portugal e a definição de competências e hierarquias entre eles. Muitos se interrogam qual é a razão pela qual o sistema eleitoral portugues dificulta em vez de facilitar a formação de maiorias parlamentares que apoiam os governos. E tambem não vêem com clareza quais são os verdadeiros poderes do presidente da República e sobretudo para que servem.
Tambem percebem mal como num país à deriva existem tantas manifestações de opulencia gratuita (ordenados chorudos e benefícios selectivos) ao lado de situações de miséria ostensiva e envergonhada. E tambem não entendem como é que o Estado gasta tanto dinheiro sem o correspondente proveito social. Não percebem a razão pela qual os portugueses não conseguem reformar os sectores mais gastadores do Estado (saúde, educação e segurança social) que só por si consomem 2/3 do orçamento do Estado. E finalmente interrogam-se como 20 por cento da população consegue manter os restantes 80% em permanente sobressalto com ameaças de greves e manifestações bem orquestradas, impedindo pelo barulho que fazem que se concretizem as reformas estruturais no país que hoje são óbvias para toda a gente mas que os portugueses timoratos se recusam a promover.
         Será desta forma mais feia e mais brutal que Portugal se vai endireitar. Chegámos assim ao fim de um caminho, não necessariamente ao fim do caminho.
 
                                                            ALBINO  ZEFERINO         Lisboa, 20/3/2011 

quinta-feira, 17 de março de 2011

E AGORA?

Com as inevitáveis eleições antecipadas à porta (escassos meses depois das últimas presidenciais, parece termos regressado aos primórdios desta democracia abrilista) chegamos ao fim de mais um ciclo político. E agora o que vai mais acontecer?
          Sócrates (tal gato das sete vidas) saiu-se bem do imbróglio, tendo criado uma crise política que todos desejavam mas a cuja responsabilidade todos fugiam, empurrando para o confuso PSD a culpa da sua eclosão. Independentemente dos resultados destas novas eleições e do governo que delas sair, a inevitabilidade do envolvimento do FMI nas nossas vidas parece inevitável. Os nossos credores o que desejam é que Portugal se endireite de uma vez por todas, seja quem for que por aqui esteja a mandar. Só os nossos políticos é que se preocupam com quem está no poder convencidos que por esse facto mandam no país. Mas cada vez menos isso vem acontecendo. A nossa situação de dependencia externa é tão grande que para alemães, espanhois e outros credores, é indiferente quem detenha formalmente responsabilidades publicas. O que lhes interessa agora é que façamos como eles querem para que os créditos que nos concederam não vão pelo cano abaixo.
          Os nossos credores travestidos de homens do FMI vão agora desmontar peça por peça o monstro imobilista em que o PREC abrilista transformou o nosso país há mais de 30 anos. Tudo aquilo que for considerado como um empecilho ao nosso desenvolvimento vai ser pura e simplesmente suprimido, sem paninhos quentes, compensações, negociações, atrasos ou alternativas. Começando pelos maiores cancros estruturais (aos quais os portugas, habituados a 30 anos de direitos adquiridos, estão psicologicamente agarrados) como o direito ao trabalho, à saude, ao ensino e à segurança social (colocados constitucionalmente ao mesmo nível do direito à vida, dos direitos humanos e do direito à propriedade privada) os nossos credores irão certamente cortar a direito. Não é por acaso que a lista das greves anunciadas para os próximos meses começou pelos sectores mais poderosos afectos à Intersindical (transportes, saude, educação e empresas de serviços publicos). Veremos como e de que forma acaba esta luta surda.
 
Albino Zeferino 17 mar 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

SÓCRATES À RASCA

  Depois da enorme rabecada que o presidente lhe deu no parlamento no dia da sua nova posse, Sócrates não se lembrou de mais nada para se vingar do que levar novo plano de austeridade para Bruxelas sem nada lhe dizer nem aos interessados, como se o presidente e o povão não tivessem nada que ver com a governação do país, feudo de caça exclusivo dele (assim julga Sócrates) e dos sócretinos que o rodeiam.  Não se deveria ter pois admirado com as manifestações de ontem que, a pretexto do desespero juvenil, não foram mais do que um genuino acto de rebeldia pacífico de toda a população contra o desnorte em que se tornou a governação socialista, incapaz de reconhecer a sua incompetencia na reacção à crise. Creio que a partir de agora os dias de Sócrates como primeiro-ministro estão contados, ficando apenas a aguardar-se a oportunidade de novas eleições.
          Contudo, uma vitória eleitoral folgada da direita não se afigura óbvia enquanto não se dissiparem as memórias dos desmandos da governação santanista na sequência da fuga de Barroso para a Europa (parece hoje claro a toda a gente que a dissolução do parlamento da iniciativa de Sampaio deveria ter ocorrido logo após a demissão de Barroso, poupando o país aos desmandos santanistas que ainda hoje obnubilam os espíritos dos portugas). E sem maioria parlamentar nenhum governo terá hoje em dia condições para impôr aos cidadãos uma reforma do Estado indispensável para proceder ao saneamento das contas publicas, cujo desnorte está diariamente minando a nossa independencia e consequente possibilidade de decidirmos colectivamente o nosso futuro.
          O que os nossos credores estão pedindo (eu diria exigindo) ao governo portugues (seja ele qual fôr) é que se acabem as distorções economico-sociais herdadas do gonçalvismo que ainda não houve coragem de desmantelar. Para um qualquer alemão (ou europeu rico) é inaceitável estar a dar o seu dinheiro (que muito lhe custou a ganhar) para que alguns quantos malandros portugueses recebam benesses injustificadas e injustificáveis (protecção social generalizada, saude tendencialmente gratuita, ensino de borla sem critérios de avaliação e privilégios de toda a ordem, desde subsidios e abonos para tudo e mais alguma coisa a isenções fiscais ou outras para amigos e confrades).
          Receio que com o prolongamento desta agonia sem que haja coragem para estancar esta sangria desatada que os políticos não têm querido promover, outros venham, sem a legitimidade que as decisões democráticas conferem às medidas mais dificeis de aceitar, impôr-nos soluções drásticas que firam a nossa soberania e o nosso orgulho nacional.
 
                                                          ALBINO ZEFERINO          13/3/2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

O DISCURSO DO REI

Para a maioria dos observadores o discurso de posse do novo Presidente da República agradou. Foi incisivo, crítico, quase feroz, orientado e orientador (mais parecia um programa de governo), tecnicamente irrepreensivel e extraordinariamente acutilante. Porém, na preocupação de ser abrangente, Cavaco misturou a necessidade óbvia de encontrar o ponto de equilibrio financeiro com a inevitabilidade de proteger os mais desfavorecidos. Sabemos e ele melhor do que ninguem, da impossibilidade de comptabilizar esses dois objectivos essenciais para o reequilibrio do país nas condições de pré-falencia em que nos encontramos. Há que fazer escolhas políticas rapidamente e sem tergiverações. O governo tem demonstrado através de Sócrates uma determinação inabalável na procura de soluções para a saída da crise que se agrava de dia para dia. Contudo a indefenição de um projecto reformador não tem facilitado a vida a um governo exangue, confuso, descontrolado e desanimado. Não bastam palavras acertadas para fazer sair Portugal da maior crise de sempre. Há que definir objectivos claros (que pressupõem opções políticas claras) executar um plano coerente e ter vontade, força e meios para o fazer. Duvido que o PS ou o PSD possam por si sós demonstrar a coragem necessária para pôr esse plano em prática. A questão transformou-se num problema de regime. Não sei se Cavaco com o seu bem elaborado discurso conseguiu transmitir isso aos portugueses. E se porventura terá coragem em assumir que a questão é mesmo uma questão de regime. Por essa razão penso que o discurso do rei não merece um óscar.
 
                                                   ALBINO ZEFERINO      10/3/2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

AS INCONGRUENCIAS PORTUGUESAS

         Considerado por todos como um país pobre onde o nível de vida é mais baixo do que nos países vizinhos, Portugal regista altos níveis de preços nos bens de consumo relativamente ao nível de salários praticado, por vezes mesmo superiores aos preços dos mesmos bens transacionados em países de nível mais elevado. Por outro lado, os numerosos estrangulamentos ao comércio existentes em Portugal (como a proliferação desordenada dos subsídios e dos condicionantes, quer à produção, quer ao consumo) que distorcem as regras do mercado livre e desvirtuam as regras da sã concorrencia, acentuam as incongruencias sociais e económicas que caracterizam a nossa sociedade e descredibilizam a nossa existêmcia como país civilizado e merecedor de ombrear com os países mais desenvolvidos do mundo.
          Portugal é um país de excepcionalidades. As excepções confirmam as regras, como diz o povo. Mas entre nós as excepções são tantas que são elas que justificam as regras. Sem regras não haveria excepções e sem excepções tambem não era possivel haver regras em Portugal.  Todos e cada um de nós se acha merecedor de ser excepcionado no cumprimento das regras exigidas a todos (senão não eram regras mas imposições) por esta ou aquela particularidade que, aos nossos olhos, nos faz distintos dos demais. Por este motivo se torna muito dificil governar para todos em Portugal com isenção, limpeza e imparcialidade. Para agradar a uns estabelece-se determinada regra, mas excepciona-se outros do seu cumprimento para agradar a estes. O resultado é sempre coxo, parcial, injusto e inconsequente.  Por este motivo somos considerados incongruentes pelos nossos parceiros e estamos a ser penalizados por isso.
          Enquanto não conseguirmos endireitar o nosso país por nós mesmos, mostrando aos nossos credores que somos capazes de estabelecer regras de vida iguais para todos sem excepções nem favores (não desvirtuando o sagrado principio europeu da livre concorrencia) não pensemos em nova vida, sem crises e sem injustiças, que os nossos políticos nos prometem a toda a hora se neles votarmos e neles confiarmos os nossos destinos. Aprendamos com os nossos irmãos do sul que, fartos de injustiças, se revoltaram contra os ferozes tiranos que há dezenas de anos esbulhavam os países deles e os manietavam nas suas expectativas e nos seus sonhos.  
 
                                                            ALBINO ZEFERINO     8/3/2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

A INSTABILIDADE NO NORTE DE ÁFRICA

As revoltas populares ocorridas no norte de África devem constituir pretexto para que a diplomacia europeia retire lições quanto à forma de se relacionar com os países daquela região.
Os políticos europeus têm olhado para o mundo além-mediterranico com sobranceria, não sendo capazes de ultrapassar a propensão para dar lições aos outros povos. As promessas de mais cooperação, de apoios à sociedade civil e de ajuda no combate à corrupção, não foram suficientes para evitar a explosão social que, como uma bola de neve, se tem expandido por todos os países da região.
          O rápido crescimento populacional registado naqueles países, em contraste com a estagnação da população autóctone europeia, vai continuar nas próximas décadas com o consequente aumento da imigração para a Europa. A grande maioria destes imigrantes é jovem e melhor informada do que os seus pais, com um nível de determinação e de combatividade que não deve ser ignorado. A política externa europeia levada a cabo até agora relativamente aos países daquela região, caracterizada pelo oportunismo dando a primazia aos interesses e à estabilidade política e social, deve ser ràpida e substancialmente alterada em favor de uma agenda da cooperação definida em pé de igualdade e não imposta pela Europa, como tem acontecido até agora.
          A circunstância da maioria destes países ser produtor do petróleo importado pela Europa e indispensável para a continuidade do seu nível de desenvolvimento confere a esta questão uma importancia vital. A política de sanções europeia e norte-americana agora decidida contra a Líbia terá que ser gerida com muito cuidado. O banco central da Líbia controla 67.5% da UBAE (banco com sede em Roma que gere os pagamentos do petróleo e do gás líbios) pertencendo a restante percentagem a grandes empresas italianas (entre elas a ENI que detém 33% da Petrogal) e marroquinas. A Autoridade líbia para o Investimento e o banco Árabe-líbio para o Investimento Exterior detêm participações importantes em diversas sociedades italianas ( a ENI, o maior banco italiano Unicredit, a FIAT e a Juventus futebol clube, por exemplo).
         A instabilidade suscitada  pela imposição de sanções contra a Líbia (precedente perigoso relativamente a eventuais casos semelhantes que possam surgir na Arábia Saudita ou no Irão) já se fez sentir nos mercados internacionais, tendo a Standard and Poor`s baixado o rating à Tunisia, ao Egipto, à Jordania, ao Bahrein e à Líbia.
 
                                                                      ALBINO ZEFERINO     4/3/2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

A PERIFERIA DE PORTUGAL

Costuma referir-se a periferia de Portugal para justificar eventuais diferenças de tratamento ou de percepções acerca do Portugal contemporâneo.  O qualificativo surgiu na sequencia da adesão do país à então CEE como quem se refere às regiões longinquas do império merecedoras de tratamentos excepcionais dada a distância a que se encontram dos centros de decisão. O conceito não é novo. Já no tempo dos romanos a Lusitânia era considerada uma região periférica relativamente a Roma onde tudo se passava e tudo se decidia. Mais recentemente durante o efémero império napoleónico Portugal foi anexado na sequência da conquista da Espanha e nem mereceu tratamento autónomo do seu vizinho ibérico. Tambem na aventura hitleriana, Portugal não mereceu consideração especial na fantasia imperial do facínora. Ou seja, os europeus nunca consideraram Portugal como um país completamente europeu. De facto, Portugal nunca participou activa e interessadamente nos conflitos constitutivos do continente (Guerra dos cem anos, Guerras napoleónicas, 2ª Guerra mundial, etc.) tendo-se virado sempre mais para sul onde sentia que estavam os seus interesses.
         Desde a nossa independência do reino de Leão em 1140 que a expansão territorial do país se fez para sul inicialmente à custa dos muçulmanos que ocupavam o sul da península ibérica e mais tarde já mesmo em território norte-africano com as incursões henriquinas que depois do desastre de Alcácer- Quibir se transformaram na epopeia marítima imortalizada por Camões. As consortes reais portuguesas só raramente vieram de para além dos Prinéus e a própria idiossincracia dos portugueses assenta num misto de árabe, castelhano e judeu que nos aproxima mais dos povos mediterranicos do que do clássico homem europeu, cínico, puritano e interesseiro. Os nossos interesses para alem da Espanha estão nos países norte-africanos com quem partilhamos o sangue, a história e o comércio.
          Poderemos assim classificar Portugal como um país periférico. Mas sêlo-á apenas em relação à Europa? Não se poderá tambem dizer que Portugal está na periferia da África tal como os países mediterranicos do sul estão na periferia da Europa? Não será curial dizer-se que Portugal é um país geo-estratégicamente situado entre a Europa e a África e que assim, juntamente com os seus vizinhos norte-africanos, está no centro de um eixo geo-estratégico permanente constituido pela Europa e pela África, continentes complementares e dependentes um do outro?
          Visto por este prisma Portugal, continuando periférico relativamente a uns, está para outros no centro de um espaço maior, mais rico e diversificado e portanto mais promissor. 
 
 
                                                        ALBINO  ZEFERINO         1/372011

terça-feira, 1 de março de 2011

PORTUGAL E O WIKILEAK

Poderá classificar-se o fenómeno do Wikileak como a manifestação da vontade das novas gerações na eliminação do logro nas relações entre as pessoas e entre os Estados. A exibição dos enganos sobre os quais assentam hoje as relações entre as pessoas, como uma caixa de Pandora que se abre, irá alterar substancialmente os relacionamentos humanos e sobretudo as percepções que cada um vai tendo relativamente aos outros. Utilizando os meios informáticos disponiveis, Assange limitou-se a mostrar através da divulgação de documentos supostamente confidenciais, a ideia que uns fazem dos outros em assuntos de Estado reveladores da forma enganosa em que assentam as percepções mútuas.
          Se para certos países a divulgação dessas percepções poderá revestir a forma de quebra de segredos de Estado, para Portugal revela sobretudo a exibição das suas fraquezas estruturais. A preocupação dos portugueses em privilegiar a forma relativamente ao conteúdo das várias situações com que são confrontados, mostra à evidência a ausencia das prioridades nas quais as suas escolhas assentam. O conhecido ditado em que na política o que parece é, cai liminarmente por terra quando através do Wikileak se ficou a saber que determinadas decisões aparentemente bem estudadas e reflectidas foram tomadas baseadas apenas em considerações meramente formais e sem conteúdo prático. Pior ainda quando nalguns casos se verifica que despesas do Estado foram efectuadas para satisfazer interesses particulares ou corporativos. Em países onde a política é levada a sério, denuncias como estas seriam suficientes para fazer cair governos, mas em Portugal só tardiamente nos vamos dando conta da importancia das coisas e sobretudo só depois de constatadas as consequencias de tais enganos. 
          Não tenhamos ilusões sobre as consequencias negativas que tais revelações causarão à nossa já depauperada imagem internacional. Não estranhemos assim se a confiança que o país exibe aos outros e a si próprio se deteriore progressivamente até ao ponto em que, como em certos países, passemos a ser olhados como párias, incapazes de nos governarmos a nós próprios e necessitando de outros que venham fazer o nosso trabalho em beneficio deles.
 
                                ALBINO ZEFERINO           1/3/2011