quarta-feira, 2 de março de 2011

A PERIFERIA DE PORTUGAL

Costuma referir-se a periferia de Portugal para justificar eventuais diferenças de tratamento ou de percepções acerca do Portugal contemporâneo.  O qualificativo surgiu na sequencia da adesão do país à então CEE como quem se refere às regiões longinquas do império merecedoras de tratamentos excepcionais dada a distância a que se encontram dos centros de decisão. O conceito não é novo. Já no tempo dos romanos a Lusitânia era considerada uma região periférica relativamente a Roma onde tudo se passava e tudo se decidia. Mais recentemente durante o efémero império napoleónico Portugal foi anexado na sequência da conquista da Espanha e nem mereceu tratamento autónomo do seu vizinho ibérico. Tambem na aventura hitleriana, Portugal não mereceu consideração especial na fantasia imperial do facínora. Ou seja, os europeus nunca consideraram Portugal como um país completamente europeu. De facto, Portugal nunca participou activa e interessadamente nos conflitos constitutivos do continente (Guerra dos cem anos, Guerras napoleónicas, 2ª Guerra mundial, etc.) tendo-se virado sempre mais para sul onde sentia que estavam os seus interesses.
         Desde a nossa independência do reino de Leão em 1140 que a expansão territorial do país se fez para sul inicialmente à custa dos muçulmanos que ocupavam o sul da península ibérica e mais tarde já mesmo em território norte-africano com as incursões henriquinas que depois do desastre de Alcácer- Quibir se transformaram na epopeia marítima imortalizada por Camões. As consortes reais portuguesas só raramente vieram de para além dos Prinéus e a própria idiossincracia dos portugueses assenta num misto de árabe, castelhano e judeu que nos aproxima mais dos povos mediterranicos do que do clássico homem europeu, cínico, puritano e interesseiro. Os nossos interesses para alem da Espanha estão nos países norte-africanos com quem partilhamos o sangue, a história e o comércio.
          Poderemos assim classificar Portugal como um país periférico. Mas sêlo-á apenas em relação à Europa? Não se poderá tambem dizer que Portugal está na periferia da África tal como os países mediterranicos do sul estão na periferia da Europa? Não será curial dizer-se que Portugal é um país geo-estratégicamente situado entre a Europa e a África e que assim, juntamente com os seus vizinhos norte-africanos, está no centro de um eixo geo-estratégico permanente constituido pela Europa e pela África, continentes complementares e dependentes um do outro?
          Visto por este prisma Portugal, continuando periférico relativamente a uns, está para outros no centro de um espaço maior, mais rico e diversificado e portanto mais promissor. 
 
 
                                                        ALBINO  ZEFERINO         1/372011

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