terça-feira, 1 de março de 2011

PORTUGAL E O WIKILEAK

Poderá classificar-se o fenómeno do Wikileak como a manifestação da vontade das novas gerações na eliminação do logro nas relações entre as pessoas e entre os Estados. A exibição dos enganos sobre os quais assentam hoje as relações entre as pessoas, como uma caixa de Pandora que se abre, irá alterar substancialmente os relacionamentos humanos e sobretudo as percepções que cada um vai tendo relativamente aos outros. Utilizando os meios informáticos disponiveis, Assange limitou-se a mostrar através da divulgação de documentos supostamente confidenciais, a ideia que uns fazem dos outros em assuntos de Estado reveladores da forma enganosa em que assentam as percepções mútuas.
          Se para certos países a divulgação dessas percepções poderá revestir a forma de quebra de segredos de Estado, para Portugal revela sobretudo a exibição das suas fraquezas estruturais. A preocupação dos portugueses em privilegiar a forma relativamente ao conteúdo das várias situações com que são confrontados, mostra à evidência a ausencia das prioridades nas quais as suas escolhas assentam. O conhecido ditado em que na política o que parece é, cai liminarmente por terra quando através do Wikileak se ficou a saber que determinadas decisões aparentemente bem estudadas e reflectidas foram tomadas baseadas apenas em considerações meramente formais e sem conteúdo prático. Pior ainda quando nalguns casos se verifica que despesas do Estado foram efectuadas para satisfazer interesses particulares ou corporativos. Em países onde a política é levada a sério, denuncias como estas seriam suficientes para fazer cair governos, mas em Portugal só tardiamente nos vamos dando conta da importancia das coisas e sobretudo só depois de constatadas as consequencias de tais enganos. 
          Não tenhamos ilusões sobre as consequencias negativas que tais revelações causarão à nossa já depauperada imagem internacional. Não estranhemos assim se a confiança que o país exibe aos outros e a si próprio se deteriore progressivamente até ao ponto em que, como em certos países, passemos a ser olhados como párias, incapazes de nos governarmos a nós próprios e necessitando de outros que venham fazer o nosso trabalho em beneficio deles.
 
                                ALBINO ZEFERINO           1/3/2011 

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