sexta-feira, 4 de março de 2011

A INSTABILIDADE NO NORTE DE ÁFRICA

As revoltas populares ocorridas no norte de África devem constituir pretexto para que a diplomacia europeia retire lições quanto à forma de se relacionar com os países daquela região.
Os políticos europeus têm olhado para o mundo além-mediterranico com sobranceria, não sendo capazes de ultrapassar a propensão para dar lições aos outros povos. As promessas de mais cooperação, de apoios à sociedade civil e de ajuda no combate à corrupção, não foram suficientes para evitar a explosão social que, como uma bola de neve, se tem expandido por todos os países da região.
          O rápido crescimento populacional registado naqueles países, em contraste com a estagnação da população autóctone europeia, vai continuar nas próximas décadas com o consequente aumento da imigração para a Europa. A grande maioria destes imigrantes é jovem e melhor informada do que os seus pais, com um nível de determinação e de combatividade que não deve ser ignorado. A política externa europeia levada a cabo até agora relativamente aos países daquela região, caracterizada pelo oportunismo dando a primazia aos interesses e à estabilidade política e social, deve ser ràpida e substancialmente alterada em favor de uma agenda da cooperação definida em pé de igualdade e não imposta pela Europa, como tem acontecido até agora.
          A circunstância da maioria destes países ser produtor do petróleo importado pela Europa e indispensável para a continuidade do seu nível de desenvolvimento confere a esta questão uma importancia vital. A política de sanções europeia e norte-americana agora decidida contra a Líbia terá que ser gerida com muito cuidado. O banco central da Líbia controla 67.5% da UBAE (banco com sede em Roma que gere os pagamentos do petróleo e do gás líbios) pertencendo a restante percentagem a grandes empresas italianas (entre elas a ENI que detém 33% da Petrogal) e marroquinas. A Autoridade líbia para o Investimento e o banco Árabe-líbio para o Investimento Exterior detêm participações importantes em diversas sociedades italianas ( a ENI, o maior banco italiano Unicredit, a FIAT e a Juventus futebol clube, por exemplo).
         A instabilidade suscitada  pela imposição de sanções contra a Líbia (precedente perigoso relativamente a eventuais casos semelhantes que possam surgir na Arábia Saudita ou no Irão) já se fez sentir nos mercados internacionais, tendo a Standard and Poor`s baixado o rating à Tunisia, ao Egipto, à Jordania, ao Bahrein e à Líbia.
 
                                                                      ALBINO ZEFERINO     4/3/2011

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