Portugal orgulha-se com razão de ser um dos países mais
antigos do mundo. Não será o mais antigo, mas diz-se que é o que tem
as fronteiras mais antigas. Numa época onde as fronteiras cada vez têm
menos significado, diria que esta nossa caracteristica não será
própriamente um troféu. Mas como não podemos invocar nada de
exclusivo, de primazia, quedemo-nos então pelas fronteiras.
O nosso país nasceu duma desanexação forçada do então
reino de Leão (hoje comunidade autónoma de Espanha) em meados do
seculo XII. Por uma questão de arrumação histórica diz-se que nascemos
em 1140. Contudo, o actual Portugal só se consolidou no século XIV com
a conquista do Algarve aos mouros. Poder-se-á assim dizer que o
Portugal autónomo só surgiu depois de 1380 com o advento da Ínclita
Geração. Sem a decisiva intervenção inglesa, que ajudou Álvares
Pereira, o santo, a escorraçar o legítimo pretendente castelhano na
famosa batalha de Aljubarrota, não teria sido possivel consolidar a
independencia nacional como hoje a conhecemos. Nem os descobrimentos
ultramarinos que nos trouxeram, pela primeira e unica vez na história
universal, honra, glória e poder, teriam sido possiveis sem o sangue
britanico de Filipa de Lencastre e dos seus filhos. A Inglaterra foi
assim o nosso primeiro e decisivo aliado.
Vivemos assim, ricos e sem problemas, durante mais 200
anos até que os Áustrias de Espanha (herdeiros do primeiro imperador
da Europa, Carlos V) resolveram conquistar-nos e às nossas riquezas
ultramarinas entretanto acumuladas, que alegremente dissiparam nos 60
anos seguintes. A Espanha foi portanto o nosso segundo aliado, mas
desta vez para mal dos nossos pecados. Em 1640, quando, por descuido
espanhol (que optou por conservar a Catalunha rebelada) conseguimos
escorraçar o castelhano, iniciou-se o declinio portugues. A fraqueza
dos Braganças aliada à ausencia de apoio ingles (preocupados com as
guerras europeias em que se tinham metido) nunca conseguiu ressuscitar
a grandeza de que Portugal gozara nos séculos XV e XVI. Até que surgiu
Napoleão (o segundo imperador europeu) cujos exércitos entraram por
tres vezes em Portugal forçando o rei D. João VI a fugir para o Brasil
(agora já com o apoio ingles) provocando a independencia brasileira e
arrastando Portugal para o periodo mais deprimente da sua história.
Depois veio a Republica e as suas confusões, o provinciano salazarismo
e o revolucionário abrilismo, de cujas consequencias ainda hoje
estamos a sofrer.
Poderemos assim, grosso modo, dividir a nossa existencia
como país independente entre o período da conquista árabe (1140 até
1380) onde contámos com o apoio dos cruzados (maioritariamente
franceses); o período dos descobrimentos (1380 até 1580) onde contámos
com o apoio ingles; o período espanhol (1580 até 1640) onde começou o
nosso declinio; o período deprimente (1640 até 1812) onde delapidámos
o pouco que ainda tinhamos; o período da desgraça (1812 até 1910) onde
fomos literalmente governados por franceses e depois por ingleses; o
período da confusão e do atraso estrutural (de 1910 até 1986) onde
pontificaram os republicanos, primeiro os jacobinos, depois os padres
e depois os bolcheviques e finalmente o período europeu (de 1986 até
hoje), o periodo das grandes duvidas e das grandes incógnitas, onde
vivemos dos subsidios da CEE. Até que chegou a crise!
Sem contar com as interações forçadas com os nativos
cujos territórios iamos alcançando com as nossas naus (fomos os
primeiros, isso sim, no comercio de escravos) verifica-se que desde
sempre houve influencia de estrangeiros em Portugal. Não é assim de
admirar que tivessemos feito parte de todas as organizações
internacionais que entretanto se foram formando sem que para isso
tivessemos que tomar parte integrante e decisiva nas grandes guerras
europeias e mundiais.
Agora que se discute o futuro da Europa onde nos
integrámos dos pés à cabeça, sem recursos e ciencia que possam
dispensar ajudas estrangeiras, ficámos novamente à mercê de
estrangeiros (agora alemães mais do que outros) que estão definindo o
nosso futuro, integrados ou não no euro, fazendo parte ou não da nova
Europa institucional que se desenha e com cada vez menos capacidade de
decidir por nós próprios o que mais nos convém e o que mais se adequa
aos nossos interesses e à nossa idiossincrasia.
ALBINO ZEFERINO 18/9/2011
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