Doutrinados na cultura judaico-cristã, dogmática, fundamentalista e determinista, os portugueses foram inconscientemente habituados a uma vida de via única onde se sabia de antemão (ou pelo menos se intuia) qual o caminho que tocava a cada um. Para o vulgar Zé Povinho (o Antonio, o Manel, o Joaquim, a Maria, a Vanessa ou a Etelvina) as coisas ou são pretas ou são brancas. Não podem ser branco sujo ou preto encardido. Fica feio, dizem entre si.
Uma vez escolhido (ou aceite) o rumo que o destino quis dar às nossas vidas, a nossa primeira preocupação é entrarmos depressa nele e habituarmo-nos com o menor esforço possivel às suas regras e costumes, sem cuidar de examinar mais de perto (ou mais profundamente) a razão porque nos calhou aquele destino e não outro. Por isso dizem que somos um povo de brandos costumes.
Com a crise internacional verificou-se (eu diria antes que outros verificaram porque nós não demos sequer por isso) que as regras segundo as quais alegremente viviamos tinham sido desvirtuadas por acção de alguns malandros desavergonhados (na maioria gangsters corruptos e alguns incompetentes à mistura) lançando-nos numa espiral imparável de despesas da qual estamos hoje a sofrer as consequencias. Sem força nem génio para conseguirmos encontrar uma saída airosa para a nossa crise (tal como os nossos primos gregos que se encontram na mesmíssima situação) tivemos que submeter-nos ao vexame da ajuda internacional (à qual o perdulário Soares já nos habituara) para não sossobrar.
Contudo tal ajuda pressupõe, por um lado, um governo sério que cumpra e faça cumprir as condições que nos foram impostas para nos ajudarem e por outro, que o Zé Povinho perceba que a sua alegre vida (de receber sem trabalhar, ou de trabalhar sem ser preciso no trabalho) acabou e que vai ter que suportar as provações (e as privações) resultantes de anos de desmandos e de aldrabices.
Enquanto não fôr convenientemente explicado ao Zé Povinho que a bandalheira popularucha tem que acabar (o que se torna mais dificil enquanto alguns continuam a tentar confundi-lo), haverá sempre risco de desordens (ultimo argumento para os malandros culpados pela situação) que poderão acobardar o governo na sua determinação reformadora. Conforme já tenho dito, a receita é fácil (dar forte na malandragem e poupar os mais carenciados - mas só estes - a sacrificios humanamente impossiveis de cumprir) porque o dificil está feito e consta do memorando de entendimento com a troika.
Dr. Passos Coelho, ponha-me esses ministros que escolheu a trabalhar. Já era tempo de apresentar projectos de reformas na Justiça, na Saúde, na Segurança Social, na Educação e na Administração publica. A propósito, quais vão ser as fusões de municipios? E quais serão os institutos publicos a suprimir? Já há alguma reforma prevista para o estatuto profissional dos juízes e procuradores? E dos médicos? E dos militares? E dos policias? E dos funcionários publicos em geral? Tenciona engolir satisfeitinho o projecto da câmara de Lisboa para juntar meia duzia de freguesias (que já estava projectado há decadas) e deixar o Costa à solta com centenas de empresas municipais onde emprega correlegionários e amigos, que consome grande parte do orçamento camarário? E o sistema bancário ficará como está depois da politica de crédito que provocou este desastre nacional? Sejamos sérios porque de malandros está o inferno cheio.
ALBINO ZEFERINO 7/9/2011
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