quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ACABOU-SE A PAPA DOCE

Isto de andar a mamar à custa dos outros dá sempre mau
resultado no final. Depois de muito mamar à conta do Estado, o Zé
Povinho vai agora sentir na pele as consequencias do inconsciente
sistema de vida que criou com as "amplas liberdades" do 25 de Abril.
Enquanto nos entretinhamos por aqui a brincar com coisas sérias mas
sem ferir os interesses dos nossos sócios estrangeiros, todos faziam
de conta (isso a gente sabe fazer bem) de que tudo corria às mil
maravilhas, sem pensar que o que hoje gasto não tenho para amanhã.
Pois o amanhã já chegou desde que a globalização apareceu (o Zé
portuga nem sabe o que isso é) com o sub-prime atrás e as alavancagens
bancárias a ajudar.
A entrevista televisiva de ontem do Presidente da
Republica foi o sinal de alerta de que a vida vai mudar a partir do
próximo ano. O homem foi claro, sem as habituais papas na lingua e as
insinuações bacocas que normalmente usa. Com o Orçamento para 2012 a
apresentar no próximo mes, o governo vai anunciar a dureza de vida que
nos espera. Fim dos privilégios, aumento do custo de vida, progressão
do desemprego, enfim, pobreza e contenção à vista para o Zé Povinho. E
desta vez não há cá alternativas democráticas. Greves, eleições
antecipadas, compromissos partidários, nada disto vai evitar o suor e
as lágrimas que nos esperam. E não vai haver nem selecção nacional nem
Futebol Clube do Porto para animar a malta. Chegou o momento de
pagarmos com lingua de palmo os desmandos que fizemos em 35 anos de
democracia. Olhemos para os nossos primos gregos e teremos uma imagem
do que nos espera. Quanto mais levantarmos cabelo maior será a porrada
que levaremos. Isto de pertencer ao euro tem destas coisas.
Gerações inteiras nadas e criadas nesta bandalheira em
que vivemos vão estranhar (eu diria mesmo que já estarão a estranhar)
a mudança de registos (como hoje se diz) que a nova vida vai trazer
aos portugueses. A designação de "geração à rasca" atribuida a essa
gente não é mais do que o traço definidor entre aqueles que se
resignarão (os do fascismo nunca mais) e os que se irão rebelar por
não conhecerem alternativas (os chamados desesperados). Se quizermos
ter uma ideia do que estou a querer dizer, basta voltar a olhar para
os gregos que (por terem estado sempre uns passos à nossa frente)
estão a mostrar o caminho que nos espera. Não é por acaso que a maior
preocupação do governo portugues é tentar marcar as diferenças de
situação entre a Grécia e Portugal. Contudo essas diferenças
infelizmente não existem. A nossa única vantagem sobre eles é estarmos
inseridos na Peninsula ibérica e assim podermos vir a contagiar a
Espanha com as nossas atitudes disparatadas. Não fora essa
circunstancia e nem santo António nos valeria. Saibamos perceber o
molho de bróculos onde estamos metidos e aceitemos inteligentemente o
nosso destino. Os mais velhos já conhecem a receita. Receio porem que
a tal geração à rasca não compreenda que há que abdicar do acessório
para manter o essencial. E o essencial é sobreviver com a dignidade
possivel dentro dos condicionalismos que as gerações anteriores lhe
proporcionaram.

ALBINO
ZEFERINO 29/9/2011

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