É genericamente aceite que o actual governo portugues tem
estado a fazer bem. Tanto no plano interno no seio dos apoiantes do
arco governativo, como no externo por aqueles que nos impuseram as
chamadas medidas de austeridade. É assim que a generalidade da
comunicação social interpreta a sua acção regeneradora e os
comentadores a comentam. Mas será mesmo assim? Não tenho duvida
nenhuma de que os projectos governativos iniciais tinham como
objectivo cortar prioritariamente na despesa (nomeadamente na
excedentária) e só subsidiariamente recorrer a aumentos
extraordinarios por via da receita. Contudo, atemorizado com as
reacções ideologicas e corporativas que de pronto energicamente se
levantaram, o governo não tem demonstrado, a meu ver e no de muitos
portugueses ainda silenciosos, suficiente determinação para prosseguir
na linha correcta que se propôs quando se apresentou ao eleitorado.
De facto, de cada vez que um ministro levado por ânimo
reformador propõe qualquer medida que belisque nem que seja
superficialmente aquilo que vulgarmente ficou conhecido por "direito
adquirido" (normalmente conseguido através de esbulho revolucionario)
lá vêm as reacções do costume, desde as greves ou a ameaça delas, os
choradinhos nos gabinetes ou as esperas diante dos ministerios, as
advertencias parlamentares de desapoio ou mesmo as recriminações
presidenciais. E logo o ministro visado se encolhe, primeiro em
declarações desculposas aos ávidos jornalistas que como abutres se
lançam sobre o homem como se de um prevaricador se tratasse,
esclarecendo que o projecto reformador (normalmente bem estudado e
coerente) não passa de uma proposta a apresentar aos sindicatos do
sector para posterior discussão e aperfeiçoamento. Não creio que assim
se consiga reformar aquilo que necessariamente tem que ser reformado
para que Portugal saia deste molho de bróculos onde o meteram.
Dir-se-á que em democracia tem que ser assim, tudo negociado e
discutido (nem que sejam os detalhes que comprometem a filosofia do
projecto) e que as coisas não se podem fazer contra a vontade das
pessoas e assim por diante. Atente-se por exemplo na forma como tem
sido conduzido o processo de redução das camaras municipais. A
associação de municipios (maioritariamente PS e PSD) já convenceu o
governo que seria preferivel a junção (não confundir com fusão, vade
retro) de serviços municipalizados (recolha de lixos ou definição de
rodovias, por exemplo) à fusão ou extinção de municipios, como
previsto no plano da troika.
Enquanto esta gente não se aperceber de que estamos em
guerra (não uns contra os outros nem sequer contra os que nos querem
ajudar) mas contra uma situação insustentável em que caimos, nada de
verdadeiramente útil pode ser feito. Esta constatação leva-me a pensar
se não estaremos a caminhar num sentido errado áquele que deveriamos
trilhar. Um governo é eleito na base daquilo que se propõe fazer. Se
não faz porque não tem capacidade para o fazer ou porque tem receio
das consequencias dos seus actos, então deve ser escolhida nova
fórmula governativa capaz de levar a carta a Garcia, como os gregos
fizeram ontem. Em Portugal não é diferente. É é mais atrasado. Em
minha opinião, será já a altura para se começar a pensar num governo
PSD,PS,CDS que, liberto de constrangimentos politicos e de pruridos
ideologicos, possa sem tergiversações cumprir uma verdadeira acção
reformadora do Estado que permita sairmos deste lodaçal onde
chafurdamos já vai para tres anos e onde não se vislumbra o fim. Sem
reformas profundas em todos os sectores não será possivel levantarmos
cabeça tão cedo e que custe o que custar terão que ser feitas. Melhor
assim como digo do que de outra maneira.
ALBINO ZEFERINO 5/11/2011
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