segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DE VITÓRIA EM VITÓRIA ATÉ À DERROTA FINAL

É genericamente aceite que o actual governo portugues tem 
estado a fazer bem. Tanto no plano interno no seio dos apoiantes do 
arco governativo, como no externo por aqueles que nos impuseram as 
chamadas medidas de austeridade. É assim que a generalidade da 
comunicação social interpreta a sua acção regeneradora e os 
comentadores a comentam. Mas será mesmo assim? Não tenho duvida 
nenhuma de que os projectos governativos iniciais tinham como 
objectivo cortar prioritariamente na despesa (nomeadamente na 
excedentária) e só subsidiariamente recorrer a aumentos 
extraordinarios por via da receita. Contudo, atemorizado com as 
reacções ideologicas e corporativas que de pronto energicamente se 
levantaram, o governo não tem demonstrado, a meu ver e no de muitos 
portugueses ainda silenciosos, suficiente determinação para prosseguir 
na linha correcta que se propôs quando se apresentou ao eleitorado. 
De facto, de cada vez que um ministro levado por ânimo 
reformador propõe qualquer medida que belisque nem que seja 
superficialmente aquilo que vulgarmente ficou conhecido por "direito 
adquirido" (normalmente conseguido através de esbulho revolucionario) 
lá vêm as reacções do costume, desde as greves ou a ameaça delas, os 
choradinhos nos gabinetes ou as esperas diante dos ministerios, as 
advertencias parlamentares de desapoio ou mesmo as recriminações 
presidenciais. E logo o ministro visado se encolhe, primeiro em 
declarações desculposas aos ávidos jornalistas que como abutres se 
lançam sobre o homem como se de um prevaricador se tratasse, 
esclarecendo que o projecto reformador (normalmente bem estudado e 
coerente) não passa de uma proposta a apresentar aos sindicatos do 
sector para posterior discussão e aperfeiçoamento. Não creio que assim 
se consiga reformar aquilo que necessariamente tem que ser reformado 
para que Portugal saia deste molho de bróculos onde o meteram. 
Dir-se-á que em democracia tem que ser assim, tudo negociado e 
discutido (nem que sejam os detalhes que comprometem a filosofia do 
projecto) e que as coisas não se podem fazer contra a vontade das 
pessoas e assim por diante. Atente-se por exemplo na forma como tem 
sido conduzido o processo de redução das camaras municipais. A 
associação de municipios (maioritariamente PS e PSD) já convenceu o 
governo que seria preferivel a junção (não confundir com fusão, vade 
retro) de serviços municipalizados (recolha de lixos ou definição de 
rodovias, por exemplo) à fusão ou extinção de municipios, como 
previsto no plano da troika. 
Enquanto esta gente não se aperceber de que estamos em 
guerra (não uns contra os outros nem sequer contra os que nos querem 
ajudar) mas contra uma situação insustentável em que caimos, nada de 
verdadeiramente útil pode ser feito. Esta constatação leva-me a pensar 
se não estaremos a caminhar num sentido errado áquele que deveriamos 
trilhar. Um governo é eleito na base daquilo que se propõe fazer. Se 
não faz porque não tem capacidade para o fazer ou porque tem receio 
das consequencias dos seus actos, então deve ser escolhida nova 
fórmula governativa capaz de levar a carta a Garcia, como os gregos 
fizeram ontem. Em Portugal não é diferente. É é mais atrasado. Em 
minha opinião, será já a altura para se começar a pensar num governo 
PSD,PS,CDS que, liberto de constrangimentos politicos e de pruridos 
ideologicos, possa sem tergiversações cumprir uma verdadeira acção 
reformadora do Estado que permita sairmos deste lodaçal onde 
chafurdamos já vai para tres anos e onde não se vislumbra o fim. Sem 
reformas profundas em todos os sectores não será possivel levantarmos 
cabeça tão cedo e que custe o que custar terão que ser feitas. Melhor 
assim como digo do que de outra maneira. 

ALBINO ZEFERINO 5/11/2011 

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