Anunciada como uma reacção macissa e generalizada às
politicas recessivas do governo impostas pela troika, a greve
decretada pelos sindicatos veio mostrar à evidencia a ausencia de
adesão por parte da generalidade dos sectores produtivos nacionais.
Apenas os habituais apoios dos sectores intermediários, nomeadamente o
dos transportes, da estiva e da recolha de lixos, ainda controlados
maioritariamente pelo partido comunista tiveram alguma expressão, o
que mais uma vez demonstrou o desfazamento em que aquela organização e
as suas satélites sindicais se encontram relativamente aos verdadeiros
problemas nacionais. O problema do desenvolvimento nacional não se
situa na dicotomia entre os ricos e os pobres (já não há ricos nem
pobres em Portugal) mas entre os que produzem e os párias.
Habituados há muitos séculos a uma omnipresença
tutelar do Estado, os portugueses só muito lentamente se estão
libertando dessa tutela, como o bébé faz quando a mãe o larga para ele
dar os primeiros passos. Receosos do risco inerente à iniciativa
individual, alguns portugueses ainda preferem o conforto perguiçoso da
dependencia do Estado, seja no campo profissional, seja no do
investimento, oferecendo uma resistencia passiva às mudanças
estruturais exigidas pela profunda crise que assola a Europa e o mundo
civilizado. E esse receio é aproveitado por aqueles que, instalados
nos seus empregos já inuteis, impedem os mais jovens de aceder ao
mercado de trabalho que eles se negam a abandonar. O incremento das
novas tecnologias e as exigencias cada vez mais tecnicas que as novas
profissões impõem assustam os velhos de antigamente que teimosamente e
com boçalidade indisfarçada organizam as greves de protesto a uma
situação criada mais por eles do que por aqueles contra quem
protestam.
Que soluções propõem os sindicalistas? Uma anarquia à
grega? Um salve-se quem puder? Um levantamento bolchevique? Uma
declaração de guerra aos mercados? Vá lá saber-se. Se calhar eles
próprios tambem não sabem. O que sabem é que não querem sair dos seus
poleiros bem pagos e bem instalados. Enquanto a festa do Ávante der
lucro e a Constituição permitir estas liberalidades cada vez mais
custosas, eles não desarmarão como sempre o têm feito desde que
permitimos que saissem da clandestinidade. Sem se aperceberem que os
reaccionários são eles próprios, continuarão a apregoar aos berros,
como a Pasionária : NO PASARÁN!
ALBINO ZEFERINO 24/11/2011
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