quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A DESUNIÃO EUROPEIA

A decisão ontem tomada pelo governo grego de convocar um 
referendo popular à ajuda externa da troika à Grécia pode constituir o 
inicio de um novo ciclo na ideia da construcção europeia. Papandreu 
não encontrou outra solução para governar o irrequieto povo helénico 
do que apostar no pleno. Se ganhar, ou seja, se o referendo for 
positivo, prosseguirá o lento processo de recuperação económica da 
Europa conforme desenhado por Sarkozy e Merkel; caso Papandreu perca 
(o que parece ser o mais provável) perderemos todos. Papandreu 
demite-se, a ajuda externa cessa e a Grécia entra em falência, 
arrastando Portugal e a seguir os outros para fora da zona do euro. A 
alternativa será uma federalização europeia à pressa (caso alemães e 
franceses aceitem, o que não parece óbvio) de consequencias 
imprevisiveis pelos antecedentes circunstanciais históricos recentes. 
Esta terrivel conjectura leva-nos a pensar na génese da 
construcção europeia. Todos sabemos que a principal motivação por 
detrás da ideia de unir os países europeus numa comunidade de 
interesses diversos (e por vezes divergentes) residiu na 
institucionalização de um sistema que impedisse para sempre a 
repetição do holocausto que foi a 2ª Guerra Mundial. Passados quase 70 
anos (e tres gerações humanas) as sucessivas vicissitudes sofridas na 
construcção de uma Europa unida apontam para que a total integração 
europeia assuma caracteristicas utópicas. Se de facto se conseguiu até 
hoje uma paz duradoura na Europa (malgré as cada vez mais notórias 
divergencias conceptuais entre os países europeus) as sucessivas 
tentativas de maior integração institucional estão a meu ver acabadas 
com esta crise cuja recuperação se vê agora ameaçada com o referendo 
grego. Os limites a uma Europa unida são ainda e só a união aduaneira, 
por muitas tentativas integracionistas levadas a cabo por bem 
intencionados eurocratas das quais o euro terá sido a mais ousada. 
Da análise prospectiva da história europeia verifica-se 
que as soberanias nacionais (conquistadas graças a muitas vidas e 
sacrificios) só se vão cedendo ou por interesse ou por conquista. Ora 
chegou a meu ver o momento onde o cinismo e as conveniencias vão ter 
que dar lugar a uma discussão aberta e franca do que cada um deseja e 
prefere para o seu futuro. Será que para os alemães e franceses é 
preferivel aguentar com a Grécia e com Portugal para que franceses e 
alemães continuem a viver prosperamente? Ou pelo contrário, nas 
condições presentes valerá mais a pena deixar cair os países 
desgovernados para que franceses e alemães possam continuar a viver 
com prosperidade? Até que ponto uma cedência de soberania é compensada 
por uns milhões de euros? Será legitimo vender ou hipotecar um país ou 
parte dele em prol de uma ideia de prosperidade? Não será preferivel 
ser menos próspero mas mais independente? Ou pelo contrário, a 
independencia nacional deve ficar subordinada ao desenvolvimento 
sustentado e harmonioso de uma comunidade de países em prol da 
globalização da economia e das suas virtudes? Seria legitimo por 
exemplo pedir aos portugueses que abdicassem do seu 13º mes para 
ajudarem os gregos a sair do buraco onde se encontram? E pedir o mesmo 
aos alemães relativamente aos portugueses? Pois é disto precisamente 
que se trata quando se fala em resolver o problema dos países europeus 
maus pagadores. 

ALBINO 
ZEFERINO 2/11/2011 

1 comentário:

  1. Este seu escrito mereceria seguramente um extenso comentario, o que não poderei fazer por limitações de espaço e de tempo. A atitude assumida por Papandreu é decalcada na de Pôncio Pilatos. Lava agora as mãos e põe o ónus da decisão no Povo, apregoando as virtudes insuspeitas da"democracia" referendária, quando o devia ter feito logo que solicitou o primeiro "pacote" da ajuda e não agora. Pois, como dizia, o poeta: "É tarde, senhor, Inês é morta..." Esta atitude para além de irresponsável e de moralmente condenável, põe em risco toda a construçao europeia. A Europa, meu caro Albino Zeferino, é - e o seu texto atesta-o em vários pontos - essencialmente um projecto político e nunca foi outra coisa. Interessa saber é como prosseguir, ou não, essa construção. Ora, o que a Europa tem sido é um triste somatório de egoísmos nacionais e não mais do que isso. Para além disso falta-nos liderança que não vai longe com essa Valquíria, mal assumida, nem com o Schtroumpf de serviço. Isto dava pano para mangas. Como dizia o general Mac Arthur ao abandonar as Filipinas "I shall return." É o que conto fazer

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