A decisão ontem tomada pelo governo grego de convocar um
referendo popular à ajuda externa da troika à Grécia pode constituir o
inicio de um novo ciclo na ideia da construcção europeia. Papandreu
não encontrou outra solução para governar o irrequieto povo helénico
do que apostar no pleno. Se ganhar, ou seja, se o referendo for
positivo, prosseguirá o lento processo de recuperação económica da
Europa conforme desenhado por Sarkozy e Merkel; caso Papandreu perca
(o que parece ser o mais provável) perderemos todos. Papandreu
demite-se, a ajuda externa cessa e a Grécia entra em falência,
arrastando Portugal e a seguir os outros para fora da zona do euro. A
alternativa será uma federalização europeia à pressa (caso alemães e
franceses aceitem, o que não parece óbvio) de consequencias
imprevisiveis pelos antecedentes circunstanciais históricos recentes.
Esta terrivel conjectura leva-nos a pensar na génese da
construcção europeia. Todos sabemos que a principal motivação por
detrás da ideia de unir os países europeus numa comunidade de
interesses diversos (e por vezes divergentes) residiu na
institucionalização de um sistema que impedisse para sempre a
repetição do holocausto que foi a 2ª Guerra Mundial. Passados quase 70
anos (e tres gerações humanas) as sucessivas vicissitudes sofridas na
construcção de uma Europa unida apontam para que a total integração
europeia assuma caracteristicas utópicas. Se de facto se conseguiu até
hoje uma paz duradoura na Europa (malgré as cada vez mais notórias
divergencias conceptuais entre os países europeus) as sucessivas
tentativas de maior integração institucional estão a meu ver acabadas
com esta crise cuja recuperação se vê agora ameaçada com o referendo
grego. Os limites a uma Europa unida são ainda e só a união aduaneira,
por muitas tentativas integracionistas levadas a cabo por bem
intencionados eurocratas das quais o euro terá sido a mais ousada.
Da análise prospectiva da história europeia verifica-se
que as soberanias nacionais (conquistadas graças a muitas vidas e
sacrificios) só se vão cedendo ou por interesse ou por conquista. Ora
chegou a meu ver o momento onde o cinismo e as conveniencias vão ter
que dar lugar a uma discussão aberta e franca do que cada um deseja e
prefere para o seu futuro. Será que para os alemães e franceses é
preferivel aguentar com a Grécia e com Portugal para que franceses e
alemães continuem a viver prosperamente? Ou pelo contrário, nas
condições presentes valerá mais a pena deixar cair os países
desgovernados para que franceses e alemães possam continuar a viver
com prosperidade? Até que ponto uma cedência de soberania é compensada
por uns milhões de euros? Será legitimo vender ou hipotecar um país ou
parte dele em prol de uma ideia de prosperidade? Não será preferivel
ser menos próspero mas mais independente? Ou pelo contrário, a
independencia nacional deve ficar subordinada ao desenvolvimento
sustentado e harmonioso de uma comunidade de países em prol da
globalização da economia e das suas virtudes? Seria legitimo por
exemplo pedir aos portugueses que abdicassem do seu 13º mes para
ajudarem os gregos a sair do buraco onde se encontram? E pedir o mesmo
aos alemães relativamente aos portugueses? Pois é disto precisamente
que se trata quando se fala em resolver o problema dos países europeus
maus pagadores.
ALBINO
ZEFERINO 2/11/2011
Este seu escrito mereceria seguramente um extenso comentario, o que não poderei fazer por limitações de espaço e de tempo. A atitude assumida por Papandreu é decalcada na de Pôncio Pilatos. Lava agora as mãos e põe o ónus da decisão no Povo, apregoando as virtudes insuspeitas da"democracia" referendária, quando o devia ter feito logo que solicitou o primeiro "pacote" da ajuda e não agora. Pois, como dizia, o poeta: "É tarde, senhor, Inês é morta..." Esta atitude para além de irresponsável e de moralmente condenável, põe em risco toda a construçao europeia. A Europa, meu caro Albino Zeferino, é - e o seu texto atesta-o em vários pontos - essencialmente um projecto político e nunca foi outra coisa. Interessa saber é como prosseguir, ou não, essa construção. Ora, o que a Europa tem sido é um triste somatório de egoísmos nacionais e não mais do que isso. Para além disso falta-nos liderança que não vai longe com essa Valquíria, mal assumida, nem com o Schtroumpf de serviço. Isto dava pano para mangas. Como dizia o general Mac Arthur ao abandonar as Filipinas "I shall return." É o que conto fazer
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