domingo, 20 de novembro de 2011

NOVÉRRIMA CARTA ABERTA A SUA EXCELÊNCIA O MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

Deixe-me antes de mais nada cumprimentar 
Vossa Excelência pela extraordinária capacidade de fundista que tem 
demonstrado na exigente tarefa de superintender na política externa 
deste velho país intervencionado, onde a afirmação externa da 
soberania é fundamental para a sobrevivencia deste jardim à beira-mar 
plantado. Perguntarão os cépticos (eu diria mesmo os cínicos) para que 
valerá tanto esforço quando é óbvio o desprezo que os outros países 
(mesmo aqueles que antes fingiam dar-nos importancia) nos dedicam. Mas 
para Vossa Excelência, imbuído do mais alto e desinteresado espírito 
de missão, esta cínica pergunta não merece qualquer resposta. Direi 
como Vossa Excelência, desprezo em cima dessa gente. 157 países 
visitados em apenas 3 meses de mandato é obra mestra. Nem Sócrates (o 
só cretino, não o outro) conseguiu tal façanha em quase 5 anos de 
esforçadas tentativas. 
Em cima desta esgotante actividade teve ainda 
Vossa Excelência disposição e ânimo para promover uma reforma na 
vetusta e anquilosada organização agora felizmente debaixo da sua 
enérgica alçada. A febre fusionista que subitamente se apossou do 
esclarecido espírito de Vossa Excelência, que num ápice juntou cultura 
com desenvolvimento e bilateralismo com multilateralismo, é prenuncio 
duma nova forma mais moderna de fazer politica externa, agora que 
todos os esforços devem estar concentrados na promoção económica do 
país das sardinhas assadas e do azeite de oliveira. 
Tambem o anuncio do fecho de Embaixadas 
inuteis para a chamada diplomacia económica foi resultado de apurada e 
demorada reflexão que demonstra o elevado espírito de serviço que 
preside às criteriosas decisões de Vossa Excelência. Para quê manter 
representantes residentes em países de soberania limitada pela timidez 
das respectivas performances, quando o que há é que reforçar os meios 
existentes na promoção efectiva das nossas exportações nos países de 
maior desafogo económico? A maldosa e vil insinuação de que o critério 
a que preside a instalação de Embaixadas se baseia nas preferencias 
dos respectivos ocupantes cai por terra face à corajosa medida de 
fechar as missões junto da UNESCO e da OSCE, ocupadas respectivamente 
por pupilos de Sócrates e de Barroso. Aguarda-se com redobrada 
expectativa o que vai Vossa Excelência fazer com os actuais titulares 
na REPER, em Washington, em Nova Dehli e na NATO, todos eles em 
primeiro posto e antigos colaboradores íntimos e dedicados do anterior 
governo. Certamente espalhar os seus patrioticos dotes diplomáticos 
nas novas Embaixadas da diplomacia económica, concerteza. 
Não posso deixar de saudar tambem, quer a 
supressão da DGATE, ficção criada por Freitas para alojar uma sua 
correlegionária, hoje felizmente já na reforma, como a instauração de 
concursos para a ascenção à categoria de ministro plenipotenciário, 
acabando assim com a promiscua possibilidade das promoções por mérito. 
Medidas corajosas sem duvida e moralizadoras da profissão. Bem haja 
Senhor Ministro. 
Mais haveria a dizer sobre as audaciosas e 
arrojadas reformas que Vossa Excelência está a introduzir no velho 
convento das Necessidades, mas se me permite deixarei para uma outra 
ocasião eventuais comentários que a minha velha cabeça me sugira. 
De Vossa Excelência, com a maior 
consideração e estima, apresenta os seus humildes cumprimentos, 
O seu criado 
ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático 
aposentado) 


19 nov 2011

1 comentário:

  1. Muito francamente, Albino Zeferino, não compreendo muito bem onde é que acaba a sua ironia e começa a falar a sério, porquanto louva o Ministro em todos os azimutes e com toda a adjectivação possível. Ora, todos nós sabemos onde e como param as modas. Além disso, perante a minha perplexidade que conviria desvanecer, já lhe disse e repito: o Ministro não lê, não por falta de tempo, mas apenas porque não sabe ler. Aliás, foi director do "Indy", onde fez muito mal a muito boa gente, do seu próprio quadrante político, diga-se de passagem, precisamente por não saber ler, em toda a latitude do termo.

    ResponderEliminar