Deixe-me antes de mais nada cumprimentar
Vossa Excelência pela extraordinária capacidade de fundista que tem
demonstrado na exigente tarefa de superintender na política externa
deste velho país intervencionado, onde a afirmação externa da
soberania é fundamental para a sobrevivencia deste jardim à beira-mar
plantado. Perguntarão os cépticos (eu diria mesmo os cínicos) para que
valerá tanto esforço quando é óbvio o desprezo que os outros países
(mesmo aqueles que antes fingiam dar-nos importancia) nos dedicam. Mas
para Vossa Excelência, imbuído do mais alto e desinteresado espírito
de missão, esta cínica pergunta não merece qualquer resposta. Direi
como Vossa Excelência, desprezo em cima dessa gente. 157 países
visitados em apenas 3 meses de mandato é obra mestra. Nem Sócrates (o
só cretino, não o outro) conseguiu tal façanha em quase 5 anos de
esforçadas tentativas.
Em cima desta esgotante actividade teve ainda
Vossa Excelência disposição e ânimo para promover uma reforma na
vetusta e anquilosada organização agora felizmente debaixo da sua
enérgica alçada. A febre fusionista que subitamente se apossou do
esclarecido espírito de Vossa Excelência, que num ápice juntou cultura
com desenvolvimento e bilateralismo com multilateralismo, é prenuncio
duma nova forma mais moderna de fazer politica externa, agora que
todos os esforços devem estar concentrados na promoção económica do
país das sardinhas assadas e do azeite de oliveira.
Tambem o anuncio do fecho de Embaixadas
inuteis para a chamada diplomacia económica foi resultado de apurada e
demorada reflexão que demonstra o elevado espírito de serviço que
preside às criteriosas decisões de Vossa Excelência. Para quê manter
representantes residentes em países de soberania limitada pela timidez
das respectivas performances, quando o que há é que reforçar os meios
existentes na promoção efectiva das nossas exportações nos países de
maior desafogo económico? A maldosa e vil insinuação de que o critério
a que preside a instalação de Embaixadas se baseia nas preferencias
dos respectivos ocupantes cai por terra face à corajosa medida de
fechar as missões junto da UNESCO e da OSCE, ocupadas respectivamente
por pupilos de Sócrates e de Barroso. Aguarda-se com redobrada
expectativa o que vai Vossa Excelência fazer com os actuais titulares
na REPER, em Washington, em Nova Dehli e na NATO, todos eles em
primeiro posto e antigos colaboradores íntimos e dedicados do anterior
governo. Certamente espalhar os seus patrioticos dotes diplomáticos
nas novas Embaixadas da diplomacia económica, concerteza.
Não posso deixar de saudar tambem, quer a
supressão da DGATE, ficção criada por Freitas para alojar uma sua
correlegionária, hoje felizmente já na reforma, como a instauração de
concursos para a ascenção à categoria de ministro plenipotenciário,
acabando assim com a promiscua possibilidade das promoções por mérito.
Medidas corajosas sem duvida e moralizadoras da profissão. Bem haja
Senhor Ministro.
Mais haveria a dizer sobre as audaciosas e
arrojadas reformas que Vossa Excelência está a introduzir no velho
convento das Necessidades, mas se me permite deixarei para uma outra
ocasião eventuais comentários que a minha velha cabeça me sugira.
De Vossa Excelência, com a maior
consideração e estima, apresenta os seus humildes cumprimentos,
O seu criado
ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático
aposentado)
19 nov 2011
Muito francamente, Albino Zeferino, não compreendo muito bem onde é que acaba a sua ironia e começa a falar a sério, porquanto louva o Ministro em todos os azimutes e com toda a adjectivação possível. Ora, todos nós sabemos onde e como param as modas. Além disso, perante a minha perplexidade que conviria desvanecer, já lhe disse e repito: o Ministro não lê, não por falta de tempo, mas apenas porque não sabe ler. Aliás, foi director do "Indy", onde fez muito mal a muito boa gente, do seu próprio quadrante político, diga-se de passagem, precisamente por não saber ler, em toda a latitude do termo.
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