Convencidos de que o acordo a que chegaram vai
salvar o país da miséria, patrões e empregados deste jardim à
beira-mar plantado embandeiraram bacocamente em arco com as decisões a
que chegaram ontem de madrugada ao fim de horas e horas perdidas de
desconversa. Os patrões, que depois do abandono do abaixamento da TSU,
bem como da posterior meia-hora suplementar de trabalho diário,
contentaram-se agora com uma vaga bolsa de horas extraordinárias e uma
contracção dos dias de férias e sairam da reunião muito contentinhos,
tentando convencer os incautos que agora sim, estavam reunidas as
condições para que Portugal passasse a produzir à chinesa. Os
trabalhadores, por seu turno, de cabeça baixa e aparentando derrota,
esfregam as mãos de contentes pelo "histórico" acordo que vai deixar
tudo na mesma como a lesma. Os comunas da Intersindical, ausentes das
negociações e que continuam a mandar nos sindicatos mais populosos,
não se consideram vinculados a este acordo, que consideram espurio
porque contra os direitos adquiridos dos trabalhadores e contrário à
Constituição socialista que nos rege.
Não nos admiremos pois se as famigeradas agências
de rating continuarem a flagelar-nos com sucessivos abaixamentos da
nossa classificação de confiança que determina, quer queiramos ou não,
as taxas de juros que vamos pagando pelos nossos empréstimos. É claro
que isto faz parte da guerra surda dolar-euro, mas não nos
convençamos, como o primeiro-ministro quer fazer-nos crer, que estamos
fora dessa jogada e que por cá vai tudo no melhor dos mundos. Somos
atacados porque fazemos parte da zona euro e estamos vulneráveis, ou
seja "damos o flanco". Enquanto não nos convencermos e não convençamos
terceiros de que estamos efectivamente a mudar o sistema de governação
em Portugal, cheio de vícios e de alçapões, não conseguiremos sair
desta zona de turbulencia. Ninguem lá fora compreende para que serve
um presidente num regime semi-presidencialista, inventado por Salazar
para se manter no poder eternamente, nem porque razão ainda não nos
vimos livres da influencia dos comunistas que já não riscam em lado
nenhum, só aqui. Temos o plano da troika, a boa-vontade da dupla
Merkozy, as tranches de dinheiro a fluirem, a ausencia de alternativas
governativas. Falta ao governo mais determinação e mais coragem para
de uma vez por todas começar a reabilitação do país, sem compromissos
que desvirtuem os objectivos, nem cedências que comprometam as
finalidades. É preciso tirar os fantasmas dos armários das nossas
consciencias: já não há comunismo no mundo e as maçonarias estão
passadas de moda. Ataquemos os problemas de frente, forçando a
comunicação social e o governo a enfrentá-los: Porque temos ainda uma
constituição socialista? Porque razão não "limpamos" as camaras
municipais? Com que fundamento juridico se usam bens publicos para
pagar favores privados? Porque razão os partidos politicos não são
fiscalizados? Não seria isto uma tarefa mais util para incumbir o
presidente da Republica de fazer?
ALBINO ZEFERINO 17/1/2012
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