Lá diz o ditado: Cada cavadela, sua minhoca! A
referencia publica à insuficiencia das suas pensões de reforma para se
sustentar foi no minimo desajeitada. Um presidente da Republica não
deve pôr-se ao nível do Zé da Esquina que se queixa a toda a hora que
não lhe dão o suficiente ou lhe tiraram o que lhe fazia falta. A culpa
não é do sujeito, mas de quem lá o pôs. Espera-se do presidente da
Republica que seja grande (de espírito) como Soares e não pequeno e
mesquinho; que tenha classe e distinção como Sampaio e não seja gebo;
que seja sério e altruísta como Eanes e não falso e dissimulador,
enfim que mereça representar um país com cerca de 900 anos de glórias
e tradições.
Ao consagrarem o semi-presidencialismo como forma
de regime, os constitucionalistas de 1976 limitaram-se a confirmar um
sistema inventado por Salazar para se eternizar no poder. Deixando ao
presidente da Republica a faculdade única de o demitir, bastou a
Salazar colocar no lugar um seu indefectível, o que fez até 1958,
quando Craveiro Lopes se virou contra ele e abriu as portas à
candidatura de Humberto Delgado, que por pouco não ganhou as eleições.
Depois, para evitar mais sustos, bastou manter Américo Tomás até à sua
morte.
Os portugueses são geneticamente salomónicos, ou
seja, nunca se definem para um lado ou para o outro. É sempre tudo a
meias-tintas, na tentativa de beneficiar das vantagens das duas teses
em presença, sem curarem de que assim tambem sofrem com os
inconvenientes das duas. Tambem actuando assim pensam poder alijar as
responsabilidades advenientes duma decisão mal tomada: os
inconvenientes serão sempre pela metade. Esquecem-se é que ao dividir
o menino em 2 partes, Salomão matou a criança. É mais ou menos o que
se passa com os poderes constitucionais do presidente da Republica
hoje em Portugal. Atribuindo ao presidente da Republica poderes
moderadores na governação do país, a Constituição permite que Cavaco
não só dê palpites inconvenientes como intervenha bacocamente na
condução dos destinos do país, entorpecendo a dinâmica governamental e
lançando a confusão nas cabeças dos pobres portugas que já pouco
entendem porque estão a ser tão fustigados. Ora isto é mais ou menos
como matar o menino. Cabendo constitucionalmente ao governo a condução
efectiva do país (sobretudo agora que há que seguir à risca as
dificeis determinações da troika, por vezes mal compreendidas por uma
parte substancial da população) esperava-se que a sensatez
presidencial travasse quaisquer arremessos de arrogancia
institucional, mantendo o presidente mudo e quedo, qual simbolo
nacional perfilado diante da bandeira das quinas desfraldada ao vento
e ao som heroico da portuguesa.
Araujo Pereira, no seu delicioso artigo de
opinião publicado na Visão de hoje, sugere que só deveriam poder
candidatar-se a presidente da Republica os portugueses maiores de 35
anos e menores de 40, porque quem ainda não é reformado não pode
queixar-se da reforma. E acrescenta que as caracteristicas próprias da
meia-idade fazem com que o cidadão eleito exerça a presidencia com
mais estilo: um carro oficial descapotável e uma 1ª dama de 20 anos
podem muito bem constituir a animação de que o povo precisa.
ALBINO ZEFERINO
26/1/2012 |
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