Durante o famoso PREC subsequente ao 25 de abril
de 1974 quando os comunistas começaram mais descaradamente a mandar em
Portugal, foram criados uns comités de voluntários (tipo apoio aos
desfavorecidos) compostos por malta de esquerda (quem não era de
esquerda nessa altura?) enquadrados por elementos do partido
comunista, que percorriam o país fazendo sessões de esclarecimento
politico às populações por onde passavam. Reuniam a populaça nas
praças dos lugarejos que visitavam e do alto dumas improvisadas
tribunas destilavam as suas frustrações de classe para cima dos pobres
analfabetos que, agradecidos pela atenção que os doutores de Lisboa
lhes prestavam, aplaudiam os alarves esclarecidos. Foi assim que o
partido comunista chegou nas primeiras eleições livres a quase 30% da
votação popular. Já Salazar inventara antes a cadeira de Organização
Politica e Administrativa da Nação com propósito idêntico, ministrada
obrigatóriamente nos ultimos anos do liceu áqueles que eram destinados
futuramente a lugares de direcção. Tem sido assim, de cima para baixo,
que o povo luso vai aprendendo à sua custa, o que os outros povos vão
aprendendo com estudo, dedicação e preserverança.
Interrogo-me se hoje não seria ainda útil que
equipas de abnegados democratas se dedicassem a esclarecer o povão
daquilo que o espera se não estiver de olhos bem abertos. A situação
de país intervencionado à qual Portugal está submetido parece ainda
não ter sido bem entendida por grande parte da população, tal como o
enquadramento geopolitico onde o nosso país se move no contexto das
relações internacionais. A globalização não é apenas um conceito
económico, bem pelo contrário traduz o quadro em que cada país se move
dentro deste mundo de contradições e de interesses regionais,
nacionais, religiosos e étnicos e que determina decisivamente as
prioridades politicas de cada Estado ou conjunto de Estados face a
outros. Tudo isto é determinante em termos de definição das politicas
de cada Estado soberano e do conjunto de Estados pertencentes a
organizações multinacionais específicas como a União europeia, por
exemplo. Não é indiferente para a UE a venda por parte de Portugal de
uma empresa eléctrica nacional da importância da EDP aos chineses,
quando a alternativa seria mantê-la na esfera europeia vendendo-a aos
alemães. Sem querer entrar agora na discussão do mérito da decisão
governamental (certamente factores da maior consideração entraram na
formação desta decisão) o certo é que a prazo esta decisão irá pesar,
por um lado no nosso relacionamento com o colosso que é a China e por
outro no papel que vamos jogando na construcção duma Europa unida e
próspera onde nos inserimos há 25 anos. Outros exemplos haverá para
ilustrar o que aqui digo, como o da nossa independencia energética, o
da preservação da lingua portuguesa no mundo de hoje, o da permanencia
do país na zona do euro, o do relacionamento com a CPLP, o da nossa
permanencia na NATO, o estado da instrucção publica em Portugal,
etc.etc,
Num quadro de normalidade democrática caberia
aos partidos politicos o esforço de alertar os respectivos militantes
e simpatizantes para estas e outras questões de relevancia nacional e
internacional. Contudo a excepcionalidade da situação que
atravessamos, dependentes da boa vontade de outros para sobrevivermos,
afasta dos dirigentes politicos portugueses as preocupações formativas
e participativas dos seus militantes enquanto cidadãos nacionais numa
democracia plena e estável. Ajudemos assim os nossos compatriotas a
melhor compreenderem o espaço em que nos movemos, quais os verdadeiros
desafios que nos estão a ser apresentados, o que está verdadeiramente
em jogo, separando estas grandes e decisivas questões das pequenas
querelas partidárias, ideológicas ou meramente tácticas, que confundem
os espiritos simples dos portugueses, mais acostumados às fantasias
telenovelescas cada vez mais americanizadas que diariamente consomem.
Esta reflexão leva-me a uma ultima interrogação: Será que são
necessários 4 canais televisivos generalistas em Portugal?
ALBINO ZEFERINO
25/1/2012 |
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