segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A CARREIRA DIPLOMÁTICA

Agora que tanto se fala de estratégia nacional, 
resolvi tecer algumas considerações sobre a carreira diplomática - 
orgão que dela depende como seu instrumento privilegiado - 
constituido por individualidades especialmente treinadas e habilitadas 
para o efeito. Não sendo um especialista do métier (como 
correspondente diplomático fui apenas um elemento adjuvante, embora 
atento, dessa excelsa organização de crânios que constitui o chamado 
corpo diplomático portugues). 
Muito exigente na admissão formal, a carreira 
diplomática portuguesa é hoje considerada um corpo do Estado 
especialmente vocacionado para lidar com estrangeiros junto de quem 
representa o Estado portugues na sua mais lata expressão soberana. 
Pressupõe além de um especial conhecimento de qual seja a estratégia 
nacional em cada momento, a carreira diplomática exige ainda vastos 
conhecimentos sobre politica nacional e internacional por parte dos 
seus membros e uma compostura pessoal irrepreensivel que permita o 
desenvolvimento construtivo das relações com os demais agentes 
nacionais e estrangeiros. Os chamados diplomatas são (ou devem sê-lo) 
a lídima expressão da soberania do Estado em terras estrangeiras, 
traduzindo com o seu saber e a sua postura cívica o país que 
oficialmente representam em permanencia. Para isso deverão sempre agir 
de forma irrepreensivel e cordata, com competencia e compostura cívica 
em todas as ocasiões. Nem sempre porem se verificam infelizmente estas 
caracteristicas em todos os seus membros e em todas os momentos das 
suas vidas. Fazem parte do anedotário nacional muitas gaffes e 
situações ridiculas protagonizadas por diplomatas (alguns nem isso são 
embora se façam passar por sê-lo) que diminuem aos olhos de quem as 
observa o país que representam (ou que supostamente deveriam 
representar). Por este motivo, os governos escolhem por vezes 
personalidades de fora da carreira para representarem o país que, aos 
seus olhos, melhor cumprem do que os chamados diplomatas de carreira 
os designios para os quais foram chamados. 
Durante o período da monarquia, os diplomatas eram 
pura e simplesmente recrutados maioritariamente de entre a nobreza, 
pois se pensava que os nobres mais ilustrados eram mais capazes de bem 
representar o país do que membros da burguesia ou do povo. Com o 
advento da republica, os diplomatas passaram a ser recrutados de entre 
o pessoal politico republicano e tambem junto dos meios intelectuais. 
Com Salazar começaram a aparecer os amigos politicos incondicionais na 
carreira diplomatica, o que deu origem à criação de uma mentalidade 
salazarista no seio da própria carreira. O 25 de abril abriu os 
horizontes dos novos diplomatas de então, permitindo a entrada na 
carreira de jovens turcos revolucionários que introduziram na carreira 
diplomática a noção de politização da função diplomática. Hoje em dia, 
as escolhas dos diplomatas e as funções para as quais são nomeados 
dependem mais dos seus compromissos politicos do que da sua natural 
aptidão para a função para a qual são nomeados. 
Chegados a este ponto, perguntar-se-á se a 
existencia de uma carreira diplomática sujeita a condicionalismos de 
ordem intelectual e exigindo uma dedicação exclusiva pessoal e 
familiar se justificará, perante uma clara diminuição do papel 
soberano do Estado e a um consequente e descarado aproveitamento 
politico da função. Não seria preferivel começar desde já a preparar 
os nossos diplomatas para o exercicio da função diplomática a nível 
europeu, tentando a atribuição de uma quota para portugueses para 
fazerem parte do Serviço Exterior Europeu com sede em Bruxelas e 
representações em todos os países terceiros? Ou a nomeação politica 
dos embaixadores da Europa continuará a prevalecer com prejuizo de 
uma inteira geração de diplomatas portugueses que, por este andar, 
qualquer dia lutarão entre si por um lugar de secretário na 
Guiné-Bissau ou de conselheiro nas Comores? 


ALBINO ZEFERINO 22/10/2012 

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