Portugal está em processo de rápida privatização.
Faz parte das determinações da troika e resulta do desastre das
governações anteriores. Não temos outro remédio que não seja vender os
aneis para que não nos levem os dedos. Se atentarem bem verificarão
que a soberania portuguesa (ou seja a faculdade de decidir sobre
aquilo que é nosso) se vai esfumando à medida que vamos vendendo (ou
seja, privatizando) a terceiros aquilo que era nosso (sejam eles
individuos, sejam sociedades ou sejam Estados) a troco de dinheiro que
vai servindo para irmos pagando as nossas dívidas aos estrangeiros.
Dito de outro modo, estamos entregando os nosssos sectores produtivos
(aqueles que geram receitas e empregos) aos nossos credores por conta
do dinheiro que lhes devemos. Mas curiosamente quanto mais
privatizamos (ou seja, quanto mais coisas lhes vendemos, mais dinheiro
lhes ficamos a dever). Significa isto que continuamos a gastar
connosco mais do que deviamos (a dívida externa portuguesa cresce em
vez de diminuir) e cada vez estamos mais endividados. A continuar este
caminho, qualquer dia a nossa situação (a situação de cada portugues)
tornar-se-á de absoluta indigência. Empobrecemos alegremente até à
completa exaustão.
Ao fim de ano e meio de intervenção estrangeira em
Portugal já é possivel ficar com uma ideia mais ou menos clara sobre
da situação de dependência em que ficaremos. Com a liberalização do
mercado electrico em 2015, o fornecimento desta energia aos
portugueses ficará nas mãos ou de empresas espanholas (Endesa ou
Iberdrola) ou chinesas (EDP). Com a privatização da TAP (agora em
curso) o transporte aéreo portugues passará (indirectamente) para mãos
brasileiras. Os milhares de empregados da TAP que se cuidem! Foi
Gutierres e os seus muchachos que iniciaram este processo com a
contratação do génio brasileiro Fernando Pinto para a condução deste
processo que agora acaba. As famosas auto-estradas do Cavaco estão
hoje em mãos espanholas (Ascendi e construtoras espanholas) ficando
para a empresa publica portuguesa Estradas de Portugal o encargo da
sua manutenção. A Brisa dos Melos é sócia minoritária neste sector. Na
banca, já há tempos que dominam os espanhois (30% do mercado bancário
portugues está nas mãos de bancos espanhois - Santander, BBVA, BPI,
banco Popular) e o restante está paulatinamente passando para mãos
angolanas (BCP, BPN, etc.). Na agricultura, quase todo o regadio
(sobretudo à volta do Alqueva) pertence a espanhois, tendo o sequeiro
permanecido nas mãos calejadas dos agricultores portugueses que,
através da CAP, continuam a reclamar subsidios para a cultura do
sobreiro, da oliveira e da pera-rocha. A distribuição agro alimentar
está cada vez mais nas mãos dos holandeses da Unilever (silent
partners da Jerónimo Martins no Pingo Doce). O imobiliário de
qualidade é controlado por empresas inglesas (Sotebys, Century21,
entre muitas outras) e o imobiliário popular pela REMAX americana. O
turismo que dá dinheiro (ligado ao golf e aos SPA) é anglo-saxónico,
ficando para operadores portugueses a Costa da Caparica e a praia do
Moledo do Minho. Os portos (sobretudo Sines, os outros contam pouco)
são chinêses e coreanos (bem podem os estivadores portugueses
espernear, que têm os seus dias contados) e os transportes terrestres
(os que dão dinheiro) vão caindo progressivamente em mãos espanholas
através da Barraqueiro. Os texteis, o calçado e os vinhos continuam
maioritariamente em mãos portuguesas mas não sei até quando.
Como se vê, a situação não é brilhante e receio
bem que por este andar fiquemos apenas com os tres activos que ninguem
quer: o SNS, o ensino publico e a segurança social. Tudo o resto será
mais cedo ou mais tarde propriedade alheia e nós passaremos a
trabalhar para eles como, quando e do modo que mais lhes convenha a
eles.
ALBINO ZEFERINO 19/10/2012
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